Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


04-07-2007

Na educação, o fracasso é premiado


Glória Siqueira *

Já disse o quanto acho um horror tudo que se escreve sobre educação na imprensa. É de uma mesmice incurável. Reparem: não há um artigo que não chame os professores de pobres coitados e não fale de seus "baixos salários". Se você, leitor, deparar com algum texto sobre educação que não repita esses clichês, por favor, envie para mim, ficarei aliviada, vislumbrarei uma luz no fim do túnel.
 
Vejamos hoje no jornal Estado de Minas. Murilo Badaró, presidente da Academia Mineira de Letras, escreve um artigo descrevendo o estado de calamidade da nossa educação.
Inicia o artigo dizendo que "O Brasil está padecendo de verdadeira loucura desorganizada em matéria de educação e tudo o mais que a ela diz respeito".


Cita a calamidade da reprovação: "No ensino fundamental, são estarrecedores os números de reprovações".
Por aí vai, sem nenhuma novidade, inclusive acusando a loucura governamental e os profissionais mal preparados e pior remunerados.
Por fim, o colunista comunica que o governo estadual resolveu premiar o magistério estadual com aumento de salário, o que é "pelo menos a indicação segura de que o governador Aécio Neves leva sério o problema da educação e a formação de quadros para atender este importante e vital setor da administração pública".


Comecei a lecionar em 1964. Naquele tempo, nem o salário era pago em dia. A partir da primeira greve, em 1978, tudo mudou, não em termos de salário, mas das compensações. Tinha uma tal de "férias-prêmio" de seis meses a cada cinco anos e, quem não usufruisse, contava em dobro. Isso fez com que um lote de professoras se aposentassem com 20 anos de serviço, muitas com pouco mais de 40 anos de idade. Como um cargo é só meio expediente, muitas já tinham dois cargos e com isso acumularam duas aposentadorias.


E assim foi, no decorrer desses anos, uma série de vantagens que não existe em nenhuma profissão. E a educação foi só afundando cada vez mais, até chegar aonde chegamos: no fundo do poço.
E lá vem mais prêmio. Pode funcionar uma atividade em que o fracasso é premiado?
Não somos um país surrealista?

* Glória Siqueira,  jornalrecomeco.blogspot.com/;  gloria.reis.blog.uol.com.br/ ; br.groups.yahoo.com/group/dialogos_lusofonos/