Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


24-04-2022

Há exatamente 211 anos os franceses deram início à sua retirada de Portugal


Faia do Mondego - Guarda. Faia- é uma Aldeia histórica do concelho da Guarda

 

 

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Gravura: João Palha, Lisboa: Lithographia da Imprensa Nacional.

 

Há exatamente 211 anos, nos últimos dias de março, os franceses deram início à sua retirada de Portugal, deixando marcas profundas em todo o vale do Mondego.

Esta região foi sistematicamente ocupada por tropas britânicas (comandadas pelo Duque Wellington) e por tropas francesas (comandadas por Massena), que jogaram alternadamente as suas posições, como se a topografia fosse um tabuleiro de xadrez.

Na Faia, as tropas britânicas ficaram aquarteladas na Quintã e a cavalaria na Quinta da Portela. Na casa do Prior Manuel Rodrigues Tavares foram acolhidos João de Almeida de Sousa Cardoso (Capitão de Infantaria) e João Botelho de Lucena Beltrão (Tenente Coronel de Cavalaria).

Em Aldeia Viçosa, as tropas francesas ficaram aquarteladas na Quinta das Relvas. Quando estas chegaram a Vila Soeiro e se depararam com as montanhas e a impossibilidade de prosseguir a cavalo chamaram-lhe "Cabo do Mundo".

As populações refugiaram-se no cimo da Serra, no interior de minas e outras foram mortas às mãos do inimigo. Igrejas foram saqueadas e muitos edifícios foram incendiados, como é o caso da Capela do Espírito Santo na Faia. Sucedeu-se um período de fome pela escassez de géneros.

Por isso, muitos episódios ficaram gravados na memória deste povo que os transmitiram oralmente e por escrito. Dessas memórias nasceram lendas, como a lenda da Pedra Santa, a Lenda das Rosas Brancas, e a Lenda dos Moletes. E também a história de amor entre o padeiro francês e a Maria Faia.

Foi de facto um período trágico para a população do vale que ainda hoje persiste na memória popular e que é preciso preservar e divulgar.

Liliana Brás