Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


18-05-2022

Conversa à Sombra da Mulemba,Angola- Eduardo Cussendala · COMANDANTE NITO ALVES



Eduardo Cussendala  - COMANDANTE NITO ALVES Inline image

Nasceu Alves Bernardo Baptista aos 23 de Julho de 1945, na aldeia do Piri, concelho dos Dembos (atual província do Kuanza Norte ) em Angola, filho de Bernardo Baptista Panzo e de Maria João Paulo.

Teve uma infância e adolescência, profundamente marcadas pela agressão e hostilidades permanentes de condicionalismos sociais e políticos que o rodeavam e comprimiam, frutos malditos do colonialismo opressor que mantinha ferozmente dominada a sua pátria e o seu povo.

“Concluída a instrução primária em 1960, parte para Luanda onde seu pai conseguiu matriculá-lo…Ganha uma bolsa de estudo e parte para o Quéssua, Malange, onde faz o segundo ano liceal. Regressado a Luanda, frequenta o Colégio da Casa das Beira.

“Em 1966 começa a trabalhar na Direcção Geral da Fazenda e Contabilidade, em Luanda, tentando simultaneamente prosseguir os estudos, no curso nocturno do 6º ano do então chamado Liceu salvador Correia. Entretanto, vinha desenvolvendo desde 1965 intensas actividades políticas clandestinas que acabaram por o tornar alvo das atenções da PIDE. Muitos dos seus camaradas são presos e enviados para o terrível campo de S. Nicolau. Nito Alves, porém, no próprio dia em que iria ser preso (6 de Outubro de 1966), consegue escapar-se às garras daquela sinistra polícia.“

“Alves Bernardo Baptista e Lima Pombalino Martins (Tadeu )…, chegam à Primeira Região Político Militar do MPLA no dia 9 de Outubro de 1966”

“Sob o comando de um então já bem conhecido comandante militar, Jacob Alves Caetano, cuja lenda corre todo o norte de Angola como o grande Comandante Monstro Imortal…, instala-se na área do esquadrão Cienfuegos e anima-se toda a região.

”Intenso e duro treino de guerrilhas aguarda o jovem Alves Bernardo Baptista: todo o ano de 1967 é o teste de sangue e fogo em que presta brilhantes provas. Em 1968 com a chegada de parte dos sobreviventes do Esquadrão Kamy, Nito Alves é chamado para a direcção do CIR.

Até 1971 mergulha a fundo no estudo do Marxismo-Leninismo, como autodidacta que a própria luta quotidiana vai caldeando em permanente apuramento.”

“O ano de 1973 findava carregado e negro de perspectivas para os homens da Primeira Região. O cerco de ferro e de fogo do colonialismo agónico, apertava-se sobre a Primeira Região Militar“.

Nito Alves teve neste contexto, em meados de Janeiro de 1974, um papel decisivo quando foi designado pelos mais velhos para ir a Luanda clandestinamente em busca de apoios e para estudar hipóteses de lançar a guerrilha urbana.

Fê-lo juntamente com o seu velho companheiro de aventura e guerrilha o camarada Adão. Sabe-se que muitas portas se lhes fecharam quando se anunciaram aos contactos de ligação que existiam. Ficaram por se saber alguns desses nomes que bateram as portas, no entanto dois nomes ficaram na história de um encontro, o de Albertino Almeida e do Dr. Macmahon Vitória Pereira. Estes receberam e apoiaram Nito Alves que no seu regresso levou à 1ª Região as boas novas que por lá soaram como um sopro de esperança de uma reviravolta eminente em Portugal. Cerrou-se então fileiras entre os combatentes para resistir por todos os meios ao desânimo que se apoderava de todos.

Nito Alves regressa a Luanda em Maio de 1974, depois do 25 de Abril em Portugal. Os contactos com Zé Van-Dunem, Valentin, Betinho e outros nessa ocasião, preparam as condições para se deslocar a Brazzavile a um encontro em Agosto com o Presidente Dr. Agostinho Neto.

Participa depois em representação da 1ª Região Político Militar no Congresso de Lusaka na Zâmbia aonde apoia Agostinho Neto contra as oposições internas da Revolta Activa e da revolta de Chipenda. Participa na Conferência Inter-Regional de Militantes nas chanas do Leste de Angola, logo depois do Congresso e da assinatura dos acordos de paz com o Exército Português. Na CIRM de 1974, o também chamado congresso dos partidários de Agostinho Neto, dá-se o encontro dos combatentes das matas vindos das várias regiões político militares com os do exílio e com os activistas das células clandestinas de Luanda. Nito Alves como representante da I Região Político Militar em estreita ligação com José Van-Dunem dos comités clandestinos, tem ali um papel determinante na adesão da maioria dos dirigentes e chefes militares à liderança política de Agostinho Neto bem como da caução política que este recebe dos sectores simpatizantes dos centros urbanos . É eleito para membro do Comité Central entre os 34 militantes que sai da CIRM.

Nito Alves tem um papel importante no afluxo em massa de centenas de jovens citadinos aos CIR- Centros de Instrução Revolucionária a partir do mês de Setembro, destacando-se durante toda a segunda guerra de libertação nacional , contra as forças concertadas da África do Sul e do Zaire, que tentaram impedir a Independência de Angola a 11 de Novembro de 1975.

Grande mobilizador da massa militante do MPLA nas cidades, à frente do DOM Nacional (Departamento de Organização de Massas), homem com grande capacidade organizativa, dedicado às tarefas da revolução a cada momento, Nito Alves foi nomeado a 15 de Novembro de 1975 Ministro da Administração Interna da jovem República Popular de Angola. Nessas funções, dirigiu a organização Administrativa do país até à III reunião Plenária do Comité Central do MPLA em Outubro de 1976, implementando a Administração do território através da figura dos comissários provinciais. Foi ainda o obreiro da lei do poder popular, que criou ao nível local organismos de gestão dos problemas das populações.

Na III reunião plenária, em Outubro de 1976, Nito Alves é suspenso das funções que desempenhava no governo e no Movimento, juntamente com José Van Dunem a pretexto da acusação de terem sido protagonistas de um 2º MPLA. Estes dirigentes teriam segundo a versão oficial, de uma forma Fraccionista, reunido numa estrutura paralela grande parte da massa militante do MPLA. Estes dois dirigentes ficaram suspensos das suas funções durante um período de mais de 6 meses, aguardando as conclusões de uma suposta comissão de inquérito que apenas os ouviu em Fevereiro de 1977. Acabaram por ser expulsos do MPLA a 21 de Maio de 1977, numa reunião magna de militantes, convocada pela direcção, presidida por Agostinho Neto e realizada na cidadela em Luanda.

Vendo-lhe negado o direito à defesa e sujeito a toda uma campanha de calúnias e ataques pessoais públicos, conduzidos pelo único órgão de imprensa existente, o Jornal de Angola, dirigido por Costa Andrade, N`Dunduma, Nito Alves acabou por ser condenado antes mesmo de ser ouvido. Em legítima defesa, escreveu então as famosas “13 Teses da minha defesa “, com o intuito de dar a conhecer aos restantes membros do MPLA, bem como às organizações de massas e regionais as razões do seu afastamento.

No rescaldo dos dias posteriores ao chamado “ Golpe de Estado “, Nito Alves terá fugido para a sua região de origem, a célebre I Região Político Militar do MPLA, aonde acabou por ser apresentado à televisão como supostamente capturado pelas populações locais. A confirmar-se a hipótese de ter sido feita uma montagem da sua captura, tal confirmaria a hipótese apontada por muitos de se ter ele próprio vindo entregar a Luanda a fim de evitar mais mortes. Sabe-se também que depois de preso, foi selvaticamente torturado e humilhado.

Nito Alves disse um dia: “Os que fazem a História nem sempre podem escrevê-la“ Fonte: https://27maio.com/nito-alves-1945-1977/