Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


28-08-2022

O PAPA FRANCISCO COMEÇA A PREPARAR A SUA RENÚNCIA E O SEU LEGADO + CRENÇA É A PARTE EXTERNA DA FÉ


O PAPA FRANCISCO COMEÇA A PREPARAR A SUA RENÚNCIA E O SEU LEGADO

21 novos Cardeais no Vaticano dos quais 4 de Língua portuguesa e Canonização de dois Beatos

 

O Papa Francisco nomeou 21 novos cardeais (1), provenientes dos cinco continentes no sábado 27 de Agosto (2). Cardeais são as pessoas mais importantes na Igreja Católica depois do Papa ao serviço da igreja universal e cuja missão principal é eleger o Papa. Dos novos cardeais apenas 16 terão direito a voto na eleição do novo papa...

No total, o Colégio dos Cardeais é de 226 purpurados, dos quais 132 são possíveis eleitores no próximo conclave (eleição de um papa)...

Depois da cerimónia de nomeação dos cardeais procedeu-se à votação da canonização (declaração de santos) do beato salesiano laico Artemide Zatti e do beato Juan Bautista Scalabrini, fundador de los Scalabrinianos!

Há quatro novos cardeais de língua portuguesa: D. Filipe Néri António Sebastião do Rosário Ferrão (69 anos), arcebispo de Goa e Damão; D. Virgílio do Carmo da Silva, arcebispo de Díli (55), e dois brasileiros - D. Leonardo Ulrich Steiner (71), arcebispo de Manaus e D. Paulo Cezar Costa (54), arcebispo de Brasília...

O Pontífice convocou também um consistório (reunião do colégio cardinalício) para 29 e 30 de agosto. Aí, os cardeais do mundo inteiro vão refletir sobre a reforma da Cúria romana na base da nova Constituição Apostólica do Vaticano, "Proclamai o Evangelho” (3). Será também uma ocasião para os cardeais se conhecerem mutuamente e poderem trocar ideias...

O Santo Padre dirigiu-se à cidade de L’Aquila celebrando missa na catedral (28.08) onde está sepultado o Papa Celestino V que resignou em 1294. Bento XVI, também visitou este lugar quatro anos antes de resignar. Este facto simbólico dá consistência a especulações de Francisco também tencionar resignar...

António da Cunha Duarte Justo

Texto completo e notas em Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=7832

 

CRENÇA É A PARTE EXTERNA DA FÉ

Pressupostos para uma práxis religiosa e para o diálogo com crenças não religiosas

Nas discussões de caracter ideológico confunde-se, muitas vezes, fé com crença e deste modo cai-se em discussões paralelas ou confusas...

A crença é como que o interruptor comunitário que estabelece o contacto com Deus a nível de vivência individual e universal transcendental e possibilita a experiência da fraternidade...

A verdadeira crença assenta numa experiência espiritual individual profunda; neste âmbito a doutrina tornada fé transforma-se em vivência que nos mergulha numa espécie de ressonância amorosa universal, vivência essa que suplanta as diferentes expressões religioso-culturais porque acontece a um nível de união espiritual comum e não de divisão/definição onde se passa a compreender as simbolização culturais como expressões de uma análoga experiência e sentido comum...

Só pode ter a percepção ou detectar o odor da canela quem tem o órgão do cheiro operacional. Quem não tiver acesso ao “órgão” da espiritualidade está condicionado a ordenar as suas percepções aos factores de que dispõe...

Apresento aqui a experiência que um amigo meu ateu (Hartmut) teve e me contou e que pode ter uma certa semelhança com a experiência de fé de um crente. O amigo fez uma viagem de barco. No princípio ao entrar no barco, este parecia-lhe muito grande e ele sentiu-se bem passeando nele a sua pessoa enquanto admirava a grandeza do barco. Entretanto o barco partiu e quando se encontrava já no alto mar, onde as águas eram planas, sentiu o barco como uma coisa minúscula e um oceano imenso com uma abóboda celestial infinita. Nesta situação o amigo sentiu profundamente a sua pequenez e a do barco e a ao mesmo tempo a grandeza do universo. Sentiu uma vivência especial da sua pessoa como extrema pequenez e da imensa grandeza do céu e do oceano de que teve a sensação de fazer parte. Esta experiência do amigo ateu é similar à experiência de fé de um crente: a experiência da extrema pequenez do próprio ser e ao mesmo tempo a experiência da grandeza divina de que faz parte criam uma nova consciência e uma nova maneira de sentir e ordenar as coisas...

Uma é experiência íntima com um Tu e a outra é um conceito de fé. A união das duas pode levar à convicção envolvente...

A fé pode transcender as próprias crenças e as simbologias culturais dado ser uma aptidão humana para o transcendente e expressar-se numa experiência metafísica comum enquanto a crença empenha o pensamento, a razão no sentido de granjear a verdade que conduz à convicção, sentencia certa...

Teresa dizia "Pode-se falar com Deus como se falasse com um bom amigo”...

O caminho da teologia mística e da amizade directa com Deus sempre causou dores de cabeça aos representantes das religiões tal como a certos clérigos (e direito canónico) que viam nisso um certo confronto ao regulado...

De uma coisa estou certo, a mensagem de Teresa estava bem fundamentada na mensagem de Jesus para quem o interesse e dedicação é dirigido para as pessoas e não para as organizações, sejam elas religiosas ou seculares...

Gosto muito de Teresa porque também acho que mais que ter sempre Deus ou nossa senhora nos lábios importante é viver o dia a dia profano com eles no coração, a ponto de não ter de fazer muita diferença entre o interno e o externo nem tão-pouco perder-se na moral!...

Teresa consegue fazer valer na teologia o valor da experiência, a interioridade mística demonstrando a insuficiência da intelectualidade de caracter discursivo que se aproxima mais do senhoreio e assenhoreamento mundano (2) numa do divide para imperar, divide para te afirmares...

Pela via mística, Deus habita no coração do Homem, a espiritualidade “desce à terra”, não se baloiçando apenas nas teorias intelectuais nem na confusão do dia-a-dia. Urge uma práxis teológica da espiritualidade.

Teresa dizia: “Quem ama faz sempre comunidade; não fica nunca sozinho... Ser grande é amar os pequenos. Ser pequeno é odiar os grandes”.

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Texto completo e nota em Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=7834