Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


02-07-2022

Pyrard de Laval descreveu o opulento trem de vida que levavam os portugueses na Índia



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No início do século XVII, o aventureiro francês Pyrard de Laval descreveu com assombro o opulento trem de vida que levavam os portugueses na Índia - todos, do altos titulares de funções administrativas aos dignitários eclesiásticos e mesmo os simples soldados - cercados por uma nuvem de servidores domésticos. Contudo, notou que os portugueses reinóis falavam as línguas locais, tinham filhos de locais e acabavam por converter a população à sua religião. Esse foi o mistério da durabilidade dos portugueses no Oriente; tornaram-se asiáticos e fizeram dos orientais portugueses. Diferentes foram os britânicos ao serviço da Honourable Company. Salvo casos excepcionais, eram movidos por uma incontida fome de riqueza, pelo que lhes chamavam Nabob (corruptela de nababo, associada a Bob, hipocorístico de Robert) e viviam num mundo à parte, servindo-se de toda a sorte de indianos para a satisfação de necessidades no espaço público, como no espaço privado, mas sem com eles manter a menor proximidade humana.

Encontrei há dias nas colecções dos reservados da Biblioteca uma obra britânica impressa datada de inícios do século XIX, tendo insertas belas gravuras aguareladas, destinada a esclarecer os recém-chegados sobre a Índia, mas sobretudo sobre os servidores que o oficial da Companhia das Índias Orientais devia ter ao seu serviço. Um quadro dirigente intermédio devia ter um duftoree (ajudante de escritório), dois, três ou quadro crannies (escriturários nativos), um hajaum (barbeiro), dois ou três criados de quarto que o penteassem, cortassem as unhas, mudassem a cama e varressem a casa, um soontah-burdar (estafeta para recados e correio), um ou dois khelassy (o homem que mantinha o grande leque em constante movimento para arejar o compartimento em que estivesse o britânico), um sircar (o criado que lhe levava a carteira do patrão e procedia aos pagamentos, após discutir o preço justo), um hookah-burdar (porta-cachimbos), um alfaiate, alguns artistas (encantadores de serpentes, dançarinas, músicos), um cozinheiro, dois ajudantes de cozinha e amas para as crianças.

 

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