Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


03-10-2022

Miguel Castelo Branco autor- O triunfo do caos


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Desde a Antiguidade que abundam críticas realistas àqueles regimes que se convencionou designar por democracias, pelo que devíamos estar preparados para, sem medos, diagnosticar os males que os afectam, index rerum que me abstenho de elencar. A gravidade da actual doença das democracias ditas liberais requer cuidados extremos de análise e diagnóstico etiológico, posto que quaisquer críticas não raro poderão ser mal entendidas como apologia da substituição dos regimes de partidos por outra forma de organização política. Contudo, esse mal existe e há muito que extravasou largamente o tolerável, pelo que não cabe apenas aos letrados exprimir o seu julgamento, mas a todos os cidadãos. Depois de Boris Johnson, Liz Truss, a senhora que cometeu a façanha de em duas semanas quase destruir o partido que desde 1834 detém a parte de leão do poder sobre as instituições políticas do Reino Unido, é um caso acabado de incompetência, fanatismo ideológico e incontrolável aventureirismo. A última sondagem dá aos velhos Tories 3 deputados, caso se realizassem hoje eleições gerais; ou seja, o equilíbrio político britânico eclipsar-se-ia, abrindo passo a uma turbulência de tipo "continental" de feição revolucionária que poria em risco a própria existência do Estado, da união das coroas e até da sociedade.

Esta geração de políticos (homens e mulheres) novos, impreparados e sem profissão que desde os anos oitenta galgaram à liderança das máquinas partidárias, improvisadores que desconhecem os ritmos, a constância e a complexidade das insituições e ritmos da sociedade, quantas vezes dependentes de interesses que se opõem aos dos eleitores, estão a matar aquele regime que se orgulhava de ser «o pior dos regimes, à excepção de todos os outros». Esperemos para saber se ainda há uma margem para a renovação ou se, como já há décadas Gonzalo Fernández de la Mora tentou demonstrar, estas oligarquias que pretensamente falam em nome do povo, ao matarem as elites responsáveis, carregam os miasmas da decomposição colectiva.

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