Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


23-08-2007

Basta de correrias Viva seu tempo Maria Eduarda Fagundes


Era isso que a maioria das pessoas das grandes cidades gostaria de fazer. No entanto elas ocupam todo o tempo em rotinas intermináveis para ganhar a vida, que esquecem de viver. “Ganharás o pão com o suor do teu rosto”, profetizou Deus a Adão e Eva. O trabalho deve ser não só um meio de ganhar a vida, mas também o prazer de realizar ou fazer alguma coisa que nos preencha, que nos torne útil, que nos faça Era isso que a maioria das pessoas das grandes cidades gostaria de fazer. No entanto elas ocupam todo o tempo em rotinas intermináveis para ganhar a vida, que esquecem de viver. “Ganharás o pão com o suor do teu rosto”, profetizou Deus a Adão e Eva.

O trabalho deve ser não só um meio de ganhar a vida, mas também o prazer de realizar ou fazer alguma coisa que nos preencha, que nos torne útil, que nos faça crescer. Deve dar margem a que se tenha outras experiências, não deve ser obsessivo nem totalmente absorvente. Deve dar espaço para ser companheiro(a), amigo(a), pai, marido. Deve dar tempo para se estar só, consigo mesmo, para se poder meditar e avaliar sobre o sentido da vida.

Num mundo que não dá tréguas para a lentidão ou cadência é preciso saber fazer escolhas, ter prioridades, administrar e aproveitar sabiamente o tempo. Quantos não sonham em sair desse turbilhão das grandes urbes para cidades pequenas e pacatas, mesmo ganhando menos, à procura de qualidade de vida? Muitos com certeza. Motiva-os viver melhor. Poder levantar pela manhã, sem o ruído ensurdecedor do trânsito, abrir a janela e apreciar a natureza, tomar café devagar com as crianças, levá-las no fim de semana a passeios, almoçar em família, vê-las crescer.

Quem não gostaria de ir pescar com seus filhos no meio de um riacho, conversar com eles, na varanda, em noites encaloradas, sob a luz do luar? Cavalgar pelos campos, fazer caminhadas nas trilhas das matas, tomar banho de cachoeira?  É lá, no interior, que ainda se pode rir com as travessuras dos mais novos e se arrepiar com as estórias das almas penadas, contadas pelos mais velhos em volta de uma fogueira. Celebrar juntos as datas festivas como desculpa para mais um encontro daqueles que amamos, para lhes roubar mais um pouco da sua companhia. São momentos de disponibilidade e de trocas de vivências que marcam para relembrar no ocaso da vida.

Parar de correr, respirar bem, encher a vista com a beleza da natureza, ouvir os ruídos do dia, saborear o frescor da água, apreciar o trivial, poder “curtir”aqueles que nos cercam, é verificar que a verdadeira felicidade está ao alcance de todos, pois ela está na simplicidade e no essencial.

Talvez a idade nos ensine a viver melhor. Sem pressa, com sabedoria, se programando, dando margem aos imprevistos, guardando pra si o máximo do seu tempo, que corre como a areia, ligeira, entre os dedos.
 

* Maria Eduarda Fagundes  Uberaba , 07/08/07