Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


06-03-2023

História Islâmica do século XII, o ‘’El Cid português’’, o inescrupuloso Geraldo Sem Pavor


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História Islâmica  do século XII, o ‘’El Cid português’’, o inescrupuloso Geraldo Sem Pavor, estava em pleno sucesso no Alentejo. 

Ele capturou Trujillo e Évora (1165), Montánchez e Serpa (1166) e ainda Juromenha, então, seus olhos vorazes se fixaram num prêmio maior, a importante cidade de Badajoz. Uma boa descrição de como se dava parte das tomadas furtivas tanto de Geraldo quanto de seu rei Afonso Henriques nos é dada pelo cronista árabo-andalusino Ibn Bassam de Santarém (1147): ‘’Ia de noite, às escondidas (furtim), como um chefe de bandidos em assalto a algum villar fortificado, no pendor de uma serra distante (quasi per latrocinium). Assim investiu e tomou Santarém. 'Assim conquistou a maior parte dos castelos das províncias de Belatha e Al-Kassr, este inimigo de Deus!’'. Não tendo exército numeroso e cercado de inimigos, a noite e escadas eram as armas portuguesas. E de janela em janela, garganta em garganta, o reino se expandia para o sul muçulmano e para o norte galego-leonês, ‘’quasi per latrocinium’’.

Mas Badajoz, uma das mais populosas cidades do al-Andalus na época, não era qualquer praça forte, e necessitou de um cerco. Geraldo, juntou tudo o que podia, e cercou a cidade e seu alcaide Abu Umar ibn Timsalit. Ao tomar notícia da tragédia, o califa almóada Abu Yaqub Yusuf declarou a jihad em defesa de Badajoz, e, o já velho rei Afonso Henriques, partiu para ajudar seu belicoso caudilho. Mas o mujahidin que apareceu antes para salvar Abu Umar não era muçulmano, e sim católico: Fernando II de Leão e Galiza. Aliado dos almóadas e fulo da vida com seu sogro português que invadira anteriormente a Galiza, o rei de Leão derrotou Geraldo e o velho Afonso Heriques, que, no combate contra o genro, partiu o fémur direito e foi feito prisioneiro. Badajoz foi salva, e permaneceria em mãos muçulmanas por mais de meio século. A humilhação em Badajoz foi o fim da carreira militar do primeiro rei de Portugal. E como não poderia ser diferente no tempo da ‘’Reconquista’’, Geraldo Sem Pavor se bandeou para o lado muçulmano, e virou guerreiro do califa almóada. Fernando II não estava fazendo nada de novo: seu bisavô Fernando I havia socorrido a Saragoça de al-Muqtadir de ser tomada por seu irmão Ramiro I de Aragão na Batalha de Graus em 1063. Coisas da tal da ‘’Reconquista’’.

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