Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


14-12-2001

Memorias dos Açores - Natal Por Maria Eduarda fagundes Nunes


O Natal nos Açores tem características regionais representadas pelas particularidades religiosas, folclóricas e gastronômicas de cada ilha do arquipélago. É uma época, para nós, festiva, pois balda e incorpora tradições primitivas, pagãs de fartura e abundância com as tradições antigas cristãs onde se celebra o nascimento de Jesus- ( embora não se sabendo a data exata do seu nascimento)-, que veio ao mundo para a salvação do Homem.

Lembro-me quando menina, do ultimo Natal que passei no Faial, antes de emigrar para o Brasil.

O rebuliço começava já no início de dezembro. A casa era escrupulosamente limpa e polida.

 


Maria Eduarda

Fagundes Nunes

 

 

 

 


Minha avó colocava em uns pires grãos de trigo, que eram molhados para grelarem ,umas semanas mais tarde, formando lindos tapetinhos verde-aveludados que iriam enfeitar o altar do Menino Jesus.

O pinheiro era comprado, já nos tempos modernos, na estrada da Caldeira, e trazido para casa onde na sala, a um canto estratégico, era colocado e enfeitado com fitas de papel colorido, algodão, pequenos bonequinhos e nozes ocas recobertas por papel prateado, colorido, dos bombons que comíamos ao longo do ano e que minha mãe guardava para servir de enfeite no Natal.

A faina doméstica era grande com os preparativos natalinos. O altar era feito de uma mesa que ficava num lugar de destaque na sala, e de uma linda toalha branca, bordada ,encimada por uma imagem do Menino Jesus, que por sua vez era ladeada de laranjas com folhagem, camélias , azevinho, pratinhos de trigo grelado, e muitas plantas que davam ao ambiente um cheiro bom e um ar festivo. Os ranchos formados por meninas e adolescentes iam de porta em porta tocando e cantando louvores ao Menino Jesus:

 


"Ó meu Menino Jesus Ó meu Menino Jesus

A vossa capelinha cheira, Quede o vosso anel douro

Cheira a cravo, cheira a rosa Deixei-o lá na ribeira

Cheira a flor de laranjeira Encima de um lavadouro

 


Ó meu Menino Jesus

Ó meu Jesus pequenino

Pelo que sofrestes na cruz

Abençoai o meu destino

As crianças muito animadas, esperavam pelo dia do Natal, quando São Nicolau, viria para presentear aqueles que foram bons e obedientes durante o ano.

Finalmente chegava o dia 24 de dezembro. Tudo pronto, a família reunia-se para o jantar, que na nossa casa era invariavelmente bacalhau com couves e batatas . Após a refeição , os mais novos iam dormir e os mais velhos iam à missa do galo. Lá pelas 2 horas da madrugada, já de volta da missa, meu pai acordava as crianças com alarido, dizendo que corrêssemos, pois S. Nicolau acabara de chegar e estava colocando os presentes debaixo da árvore de Natal.

Ainda meio-sonolentas, corríamos para a sala para ver o bom velhinho, mas que nada... ele já se fora ....Mas os presentes lá estavam e logo esquecíamos dele para dar atenção aos brinquedos. A alegria era geral, a mesa da ceia, farta, exibia inhames, lingüiças , 'enchidos, torresmos, galinha recheada e depois os doces , as fatias douradas, o bolo rei, as frutas secas, as nozes, os chocolates, tudo regado a vinho e a angélica.

E assim a manhã do dia de Natal chegava, festiva anunciando o nascimento do Menino Jesus