Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


01-02-2008

O Negro Caetano Samuel Congo da Costa


Samuel Congo da Costa é cronista negro em Itajaí  

 

Em memória de Miguel Maria da Costa

Era um silêncio constrangedor que se abatera naquela mesa. Embora o requinte da mesma sugeria que aquela seria uma família abastada. Dos talhares de prata aos cristais importados. Mas o que permanecia na cabeça das pessoas ali sentadas eram os gritos ensurdecedores de horas antes. Mas na mente do coronel Adamastor de Sousa Andrade aquele negro tinha ido longe demais ao afronta-lo em público, por isso tinha que chicoteá-lo: -Aquele negro maldito teve o que mereceu -resmunga o velho coronel sem levantar a cabeça. Sua mulher já com a saúde frágil decide ficar quieta como também a filha do casal Sousa Andrade. Já não bastara ver seu único filho homem criado com tanto zelo voltar-se contra ele, logo Adamastor monarquista e escravocrata convicto não poderia abrigar em seu lar um republicano e abolicionista mesmo que fosse seu filho. Não restando outra saída senão expulsa-lo de casa. O fato de não saber aonde tinha errado na educação daquele menino deixou Adamastor profundamente magoado. E sentado à mesa ainda ressoava na cabeça do velho coronel as palavras do negro Caetano posto no tronco: -Vos mercê vai morre por dentro coroné!  Aquelas palavras foram demais ele tinha que pegar na chibata e pessoalmente dar uma lição no mondongueiro tinha que chicoteá-lo até a morte em público para que todos soubessem quem realmente mandava ali era ele ‘’Adamastor’’ e ninguém mais.          

 

Atordoado pelo efeito do álcool a mente do outrora coronel Adamastor de Sousa Andrade trazia as lembranças das palavras do negro Caetano: -Vos mercê vai morre por dentro coroné! Maltrapilho e macambúzio preambulando pelas ruas da cidade o velho coronel revê em sua mente a mulher e filha acometidas de uma doença misteriosa morrerem lentamente. E rever na sua combalida mente seu filho e adversário político vence-lo na política. Contudo o que mais doía no peito no velho curumba foi ver sua fazenda de café, umas das melhores da região arruinar-se por causa de uma praga que ele jamais vira antes na região. Aquilo significava realmente que ele tinha morrido por dentro.