Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


07-10-2004

Identitate


Espaço dedicado à defesa das nossas Identidades e à luta pela sobrevivência das línguas minoritárias

“Pela língua cada comunidade interpreta e expressa a sua realidade e a sua cultura”

Participam: Ângelo Cristóvão, ArcosOnline.com, Isaac F. Katan , Maria José Albarran Carvalho, Pedro Kaul,

 Ângelo Cristóvão, Galiza, Associação de Amizade Galiza-Portugal ,

Minhas "Impressões do VIII Congresso de Ciências Sociais"(Coimbra,2004)

Viva!

Muito obrigado pelo seu interesse. Sou galego, resido em Santiago de Compostela e trabalho numa vila próxima, Padrão. Com efeito, participei no Congresso de Coimbra, no "painel 66". Redigi uns comentários para os membros do foro de debate "Assembleia da Língua". São os que a seguir reproduzo.

PRIMEIRA MENSAGEM:


Nos dias 16, 17 e 18 deste mês de Setembro celebrou-se em Coimbra o VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais. O evento é um dos mais importantes, em quantidade e qualidade, dos que no âmbito universitário e intelectual se celebram na lusofonia. Nesta edição participaram 1200 pessoas, aproximadamente. Tenho a impressão de que tudo correu bem.

Agradeço a Celso Álvarez Cáccamo a informação que me enviou sobre este evento, e o contacto com Clara Keating, organizadora do painel 66, sob o título "O conceito de «língua» na pesquisa social e linguística nos espaços lusófonos". O tema deste apartado coincide com aquele que mais me tem interessado nos últimos anos.

Infelizmente só consegui estar em Coimbra na sexta-feira, dia 17. De manhã, no Teatro Gil Vicente, celebrou-se uma sessão plenária sob o título "Justiça, Violência e Desigualdades", participando pessoas de Angola, Moçambique Brasil e Portugal. Das intervenções, com alto nível de compromisso pela redução das desigualdades sociais, comentarei só a intervenção da brasileira Azelene Kaingáng, do Warã Instituto Indígena. Ela é porta-voz ou representante na ONU dos povos indígenas do Brasil. Fala uma das (200?) línguas "indígenas" e tem uma forte preocupação com a questão do multilinguismo brasileiro.

Fiquei a saber muita coisa do que tem acontecido com os povos originários do Brasil (massacres, discriminação, aculturação, etc.). A minha perplexidade veio pela sua inconcreção respeito do ensino das línguas. Se pretenderem manter e transmitir os conhecimentos das tribos com os mesmos instrumentos que há 100 anos, só através da transmissão oral; se não aceitarem organizar as suas línguas conforme ao modelos das línguas europeias (o que implica gramaticalização, ensino com livros, etc.) e, no entanto, continuarem a estar em contato com o português, poderão manter a sua virgindade originária, impoluta e incorrupta, mas não terão qualquer possibilidade de sobrevivência cultural. A sua intervenção recordou-me o discurso dos regionalistas na Espanha, que pretendem proteger a natureza das "lenguas propias" defendendo a qualquer custo a fala do povo, único depositário da verdadeira 'essência' da alma... como escusa para privá-las dos instrumentos necessários para a sua continuidade. Destarte, pretender uma diglossia entre português padrão e as falas galegas, ou entre o catalão padrão e as suas variantes, seria uma forma de "imperialismo": conceber a língua como instrumento, o que é uma violação da natureza, de que as línguas regionais (atenção, só estas!), fazem parte. Os do castelhano, francês, italiano, alemão, etc., não se preocupam especialmente pela natureza das falas.

Neste sentido, achei o o discurso cultural da senhora Kaingáng totalmente errado, porquanto o seu principal argumento consiste no direito à diferença sem uma só vez dizer de que forma fazem parte da humanidade. Basta reproduzir os verbos que utilizava: defender, proteger, resgatar, conservar, diferençar e assim por diante, sem um modelo de desenvolvimento cultural viável. Afinal, apesar de ter a seu favor quase todo o auditório, ficou comigo uma sensação de não saber bem o que ela quer. Por uma parte, queixa-se porque foi obrigada a conhecer conceitos como o de 'soberania', alheios à sua cultura. Porém, se quer lutar contra essa política do estado brasileiro, o mais acertado é explicar aos seus con-nacionais o que isso significa. Não se pode lutar contra o que não se conhece. Ela afirma que os índios ou indígenas, como são chamados, não querem fazer parte do Estado Brasileiro, que não querem viver em "reservas" e pretendem a auto-determinação (sem independência política), para se organizarem ao seu jeito, gerindo os seus próprios recursos, e insistem em não conhecerem a cultura europeia (neste caso, na variante brasileira). Pedem também quotas para indígenas no Congresso, no ensino superior, etc.

Durante outro encontro sobre língua, há alguns anos, tinha mantido uma discussão com um professor moçambicano sobre a melhor forma de dignificar a antropologia. Desde Lévi-Strauss (recordemos "Raça e História" e "Raça e Cultura"), e a difusão através da UNESCO da filosofia relativista, os processos de descolonização, etc., foi geralmente aceite que não há culturas superiores nem inferiores, simplesmente há culturas diferentes. Bom, até aqui estamos todos de acordo. O problema consiste em que, apesar de todos os malabarismos linguísticos, e da aceitação (quando menos teórica, nos âmbitos inteletuais) do direito à diferença, continua a haver culturas -e línguas- com um grau de desenvolvimento maior do que outras. E, sendo impossível separar fisicamente os povos, culturas e línguas, o contato é inevitável. Então, do ponto de vista da responsabilidade ética, que devemos fazer quando se trata de línguas com um número reduzido de utentes e que não conhecem a escrita? Intervir, iniciando um processo de gramaticalização, é uma forma de mudar para sempre essa cultura, quer dizer, mudar a sua natureza. Quando se trata da questão da saúde o paradoxo é maior. Imaginemos que achamos uma pessoa enferma numa tribo do meio da selva. Se intervirmos, salvando-lhe a vida, poderemos estar a interferir na sua cultura. Ora, se não intervirmos, estaremos a aceitar que essa pessoa doente não faz parte da humanidade. Este é um típico dilema capcioso, no sentido de qualquer das opções ser problemática. No meu entender, só pode resolver-se concebendo que existem valores universais e que temos a obriga de levar até às últimas consequências o nosso conceito de dignidade humana. Logicamente, a vida da pessoa é um valor superior.

SEGUNDA MENSAGEM:

De tarde (na sexta-feira passada) iniciaram-se as sessões do Congresso de Ciências Sociais de Coimbra, às 14:30. Estive presente no painel 9 "Literaturas, línguas e culturas", celebrado na sala 1.1 da Faculdade de Economia. Nele participavam professores do Brasil e Portugal, além de uma galega. Evidentemente, tinha muito interesse nesta intervenção, correspondente à professora Carmen Villarino Pardo (Galabra - Universidade de Santiago), quem apresentou brevemente (só dispunha de uns 15 minutos) a sua comunicação "Produtos literários como estratégias para a construção de uma ideia de identidade brasileira. 1984, ano de expectativa(s)". Lá estavam a ouvi-la pessoas de toda a lusofonia, incluídos três membros de "Galabra". Cármen começou a sua intervenção dizendo:

"Vou falar na variedade galega da língua comum". Então, começou a ler com um forte sotaque castelhano, incluíndo thetacismo (quer dizer, sem sesseio), acrescentando a isto formas verbais típicas das normas da AGAL, além das terminações "–çom", que pronunciam os aderentes a essa norma, o que estranhou a muitos participantes. Estes, talvez esperavam de uma professora universitária, num congresso internacional, uma pronúncia cuidada, mas não receberam nada disso. Não tenho conhecimentos para avaliar o conteúdo do seu discurso, mas parecia conhecer bem a matéria porque recebeu bastantes aplausos. Ao final da sua intervenção, uma professora brasileira –que, pelos vistos, já conhecia à Cármen- perguntou-lhe se a sua forma de falar era a habitual na Galiza. Ela respondeu que sim, que era assim como se falava na Galiza. Eu, naturalmente, desejava intervir para pedir uma explicação à Villarino, mas já eram as 16:10 e tinha que participar no Painel de línguas, que começava às 16:15.

Enquanto caminhava para a sala onde devia intervir, perguntava-me se todos os participantes do grupo "Galabra" teriam feito o mesmo ridículo durante o congresso –talvez não, pensei- e como era possível que, depois de 20 anos, os reintegracionistas ainda não tivessem percebido a necessidade de adotar uma ortofonia concreta, explícita, mesmo contra o previsto nos estatutos da AGAL. Definitivamente -pensei- há algo que não bate certo entre os reintegracionistas, e só a eles corresponde resolver. Os que estamos a favor da língua portuguesa pouco podemos fazer, além de observar e opinar.

Perguntei-me também em que estaria a pensar a Villarino quando enganou conscientemente ao público presente, dizendo que a sua forma de falar era "a da Galiza". Ela sabe (não cabe alegar ignorância)que as pronúncias e sotaques nos âmbitos rurais e marinheiros, nomeadamente na região costeira galega, são mais próximos do português popular do que o seu falar espanholizado. Então lembrei que minha avó (78 anos), cuja escolarização foi muito precária, de certeza teria lido muito melhor a comunicação dessa senhora. Enfim, pensei se os participantes do grupo Galabra teriam enviado as suas comunicações na norma desagregadora da AGAL, mas logo lembrei que era só era questão de esperar pelas Actas do Congresso. E refletinco sobre estes temas entrei na sala 1.3., onde me esperava Clara Keating, para o painel 66 (línguas).

Obrigado pela vossa atenção.

TERCEIRA MENSAGEM:

Posso dizer que algumas comunicações apresentadas no painel 66 (línguas), do VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Coimbra foram muito interessantes.

Fiquei a saber algo mais da situação do crioulo da Guiné, em processo de gramaticalização. Duas intervenções, de Incanha Intumbo e Carlos Fontes, tratavam o tema. Explicaram que o são-tomense é dialeto de mais prestígio e que este representa a `norma', respeito do falado na Ilha do Príncipe. De sempre, nesta língua foram utilizadas as regras convencionais do português. Mas em 1981 aprovaram uma reforma radical que, utilizando as grafias latinas,
pretende dotar de maior autonomia o crioulo sob o princípio de "um som, uma letra". Por exemplo, antes escrevia-se "casa", mas agora o oficial é "kasa". Porém, a maior parte da população, cuja alfabetização está nos 70%, continua a utilizar a escrita anterior, a luso-crioula. Registam-se casos de não aceitação da nova norma. Pelos vistos, a expressão mais difundida para a descendência de um casal é, em crioulo, o equivalente a "filho" e "filha". Mas a nova norma canoniza a outra possibilidade, também usada entre a população: "filho" para o masculino e "filho fêmea" para o outro género. A utilização de uma ou outra forma denota a procedência social do falante. Quanto à escrita, um caso curioso foi uma amostra de um jornal na qual os titulares grandes eram impressos em português, porém, as explicações eram publicadas em crioulo duplamente, nas duas ortografias. Respeito das outras línguas da Guiné, existe uma disparidade de situações. Variam em cifra de falantes (algumas têm apenas duzentos), em estabilidade da população, etc. Na verdade, o número de línguas faladas é muito elevado, não existindo ainda um critério uniforme para a distinção entre estas e os seus dialetos. Relatou o caso de uma língua local que tem desaparecido simplesmente por movimentos populacionais de outras tribos e como consequência de casamentos.

A professora Irene Mendes deu exemplos de como o português moçambicano está a tornar-se numa "variedade nacional", nomeadamente pela introdução de "neologismos culturais", nem sempre procedentes das línguas desse país. O texto do professor Gregório Firmino, da Universidade Eduardo Mondlane de Maputo, fornece uma ampla informação sobre esse país africano, e recomendo ler a sua comunicação: "Questão linguística em África: o caso da implantação do português no contexto multilingue de Moçambique", que será publicada nas Actas. Explicou muito bem como a nossa língua pode conviver com as africanas e, no mesmo sentido que a professora Mendes, confirmou está a nativizar-se, a formar-se, uma variedade moçambicana do português. Cito: "As inovações que caracterizam a língua portuguesa em Moçambique abrangem múltiplas dimensões, que incluem aspectos fonético-fonológicos, morfo-sintácticos, semântico-pragmáticos e retóricos". Por exemplo: "khanimambo" (obrigado, do Xironga e Xichangana); "bichar" (formar bicha), "confusionar" (de confusão), bisinisseiro (homem de negócios, contrabandista, do inglês business). No mesmo artigo há alguns dados estatísticos interessantes: a língua materna dos moçambicanos é 93% bantu, contra 6% português. Do total da população, sabe falar LP só os 39%, concentrando-se a maioria na capital e em pessoas do sexo masculino.

Última Mensagem:

Aceito a proposta de António de publicar o texto na web (suponho que será publicada também nas Actas do Congresso, quer dizer, em papel). Na verdade, o texto não diz nada que não tenha já exprimido por outras palavras neste foro de debate, ou dito no artigo "Questione della lingua: introdução e bibliografia, publicado na página web da questione:
questione.catus.net/article/artigos+cient%C3%ADficos%2C+especializados.

Os comentários de Celso sobre a padronização dos crioulos parecem-me totalmente acertados, mas talvez essa gramaticalização ache dificuldades no momento em que esse crioulo está distribuído entre vários estados africanos e são utilizadas ortografias diferentes. De facto a questão linguística é uma das possíveis ameaças à unidade de alguns estados africanos, cujas fronteiras, estabelecidas conforme aos interesses europeus, não fazem muito sentido. Se utilizarem os mesmos critérios étnicos que temos utilizado na Europa durante os últimos séculos, a situação poderia mudar completamente.

Naturalmente, quando escrevo estou a fazer uma escolha do que me pareceu mais interessante. Eu já tinha lido previamente os textos dos intervenientes no painel de línguas, excepto um, que não foi entregue pelo autor. O tema do meu painel era «O conceito de "língua" na pesquisa social e linguística nos espaços lusófonos», e era isto, o conceito ou noção de língua, a perspetiva que mais me interessava. Li com atenção o texto de Marilda Cavalcanti e América
César: "Repensando questões sobre o conceito de língua na pesquisa aplicada realizada em contextos de minorias lingüísticas no Brasil". No tempo de debate crituquei publicamente esta comunicação, manifestando a minha disconformidade com as soluções que propunham para os problemas linguísticos. Sei perfeitamente que um certo estilo de `correção' exigiria a ausência de crítica aos outros participantes, especialmente no meu caso, pela fragilidade da posição da galega dentro da lusofonia. Admito que, provavelmente, a minha crítica pode ter levantado alguma cautela em Clara Keating, mas tenho para mim que a verdade merece algum esforço, até porque não vamos ir aos congressos só para aplaudir e ficar bem.

O que me alertou desse texto de Cavalcanti e César foi o facto de estar enderaçado a justificar a supressão do conceito de língua, sem oferecer nada em seu lugar. Se ainda fosse proposto outro modelo, talvez mereceria crédito, mas não há nada disto. As autoras têm uma grande dose de inspiração calvetiana (mas não citam o livro "Língua e colonialismo") com molho de soluções psicologicistas para problemas sociológicos, culturais e educativos. Digo-o precisamente porque a minha formação académica é a de Psicologia. Em geral, os problemas educativos não se solucionam rebaixando o nível de exigência aos alunos, nem reduzindo a qualidade das matérias a estudar. A solução é dotar mais meios, materiais e humanos, melhorar a qualificação dos professores, etc. E isto é muito pertinente na questão da língua.

Dizem as autoras:

"E vez de uma linha reta ou do plano que vai de um extremo ao outro, servindo no final das contas apenas para delimitar o território de uma única língua (o rururbano de Brasília, por exemplo, é apenas um exemplar da Língua Portuguesa) podemos pensar numa outra imagem: o caleidoscópio. Em vez da estabilidade dos níveis de análise da "língua" (sintaxe, morfologia, léxico) e seus modelos teóricos, pensar a língua como conjuntos híbridos, de diversos fragmentos (palavras, modulações, textos, sons) a partir dos quais são possíveis determinadas combinações..."

"Assim desfaz-se o peso, a lentidão anacrônica de um conceito totalizante de língua que, do ponto de vista político, reforça o imaginário de uma Língua Portuguesa totalizadora, falada nos quatro continentes, mas invisibiliza realmente a realidade lingüística e cultural desses povos minoritários e mesmo da imensa população marginalizada das fontes do poder hegemônico que sustenta esse discurso. E nos distancia dos povos com os quais convivemos no dia-a-dia, credores de uma dívida social e histórica secular". Continua mais para a frente, "contra o "habitus" escolar, já velho conhecido, de falar-se em diversidade e efetivar uma prática normativista em torno da variedade de prestígio da língua portuguesa"...Pretendem também tratar "...a variação dialetal [do português] como multilinguismo...", procurando evitar a "prática normativista em torno da variedade de prestígio da língua portuguesa".

COMENTÁRIO: Em vez da língua, oferece-nos a contingência da oralidade.

Contudo, reproduzo também alguns parágrafos que sim me parecem pertinentes e úteis:

"Em relação à sociedade brasileira é possível reconhecer a glotofagia de que fala Calvet não só na nossa trajetória histórica, mas no nosso presente, em que é tão forte a crença na espantosa unidade lingüística do país e no esquecimento freqüente da complexa realidade lingüística nacional. Essa realidade se revela mais cruel, se considerarmos que a diversidade lingüística e cultural em solo brasileiro abriga mais de uma centena de línguas nacionais indígenas, comunidades indígenas africanas e bilíngües, imigrantes de várias nacionalidades, vivendo em ambientes sociolingüísticos igualmente variados, além da desafiante e nebulosa diversidade do que se chama língua portuguesa, diversidade essa pouco estudada, quando não estigmatizada em função de um padrão ideal de língua".

COMENTO: A tudo isto deverá dar-se resposta, antes de mais, por cada uma das comunidades linguísticas existentes no Brasil. Outro parágrafo interessante pode ser este:

"A língua indígena aparece sempre intimamente associada à cultura, e há também uma tendência a querer defini-la como algo estático, como uma espécie de referência para o grupo, como um marcador de identidade, de modo que possam [os pataxó] distinguir-se dos demais, inclusive dos Maxacali, cuja língua é bastante assemelhada, pertencente ao mesmo tronco lingüístico Macroi-Jê".

COMENTO: Parece que as regras da identidade e das relações grupais funcionam também no Brasil. Ainda bem que a sociologia não a fazem os filólogos, podendo assim dedicar-se à procura de explicações universais. Essa procura da "estaticidade" na língua tem grande relação com o aspeto simbólico e identificativo. A língua, nomeadamente a escrita tem, entre outras utilidades, a de selecionar entre os de `dentro' e os de `fora': é o funcionamento normal de
qualquer grupo, grande ou pequeno.

Da minha intervenção, farei apenas algum breve comentário. Imaginando que todos tinham lido já o meu texto, pareceu-me mais oportuno improvisar e comentar a situação da Galiza respeito das
línguas nacionais.

1. A Galiza é o único caso em que a língua portuguesa, sendo a originária do país se acha em situação de minorização e retrocesso quantitativo. Neste retrocesso joga um papel fundamental o conceito que do "galego" é difundido pela comunicação social, o ensino e as autoridades do governo autónomo. É o cerne da questão, que, implícito sobredetermina a sua função social. A única hipótese de sucesso é convertermos o "galego" em língua nacional, dotando-o dos mesmos instrumentos que o castelhano.

2. Naturalmente, a situação atual é o resultado da nossa história passada. Parece uma evidência, mas não parece ser para os que, na Universidade de Santiago ou noutros níveis do ensino, explicam quatro séculos da história com duas palavras: "séculos obscuros". Nunca aceitei de boa gana essa mutilação por ser um engano, uma mutilação, uma falsidade. É precisamente a ausência dessa explicação, desse salto entre o século XIV e o XIX, o que define a situação presente, por ser o período mais importante para a formação das línguas europeias, não para a sua existência (porque a maioria já era falada já no século XII), mas para a sua constituição em "algo mais do que a contingência da fala". Talvez não se escrevesse "em galego" durante esses séculos, mas algo publicariam em latim na Universidade de Santiago. Ultrapassar a nossa ignorância e entender o que tem acontecido com o português na Galiza, ajuda a compreender o presente, `conditio sine qua non' para o superar para cima.

3. Há outro aspeto que me interessa: provavelmente o processo de gramaticalização reproduz as mesmas pautas em todas as línguas. É evidente no crioulo de São Tomé. Outro aspeto correlativo, a definir o desenvolvimento, é o âmbito de estudo ou interesse de uma língua,
que começa pelo registo da tradição oral (contos, lendas, etc.) e continua com a gramaticalização (dicionários, traduções, etc.), sendo a cimeira a análise de discurso. Parecem ser regras universais.
4. Não há alternativa ao modelo de lingua nacional, que tem triunfado completamente em todo o mundo. Este é um invento europeu que, exportado a outros continentes, tem produzido desequilíbrios, porquanto tem sido aplicado em pouco tempo o que, no nosso contexto,se tem desenvolvido durante séculos.
www.lusografia.org

 Ângelo Cristóvão

ArcosOnline.com lança livro digital
Email: editor@arcosonline.com
Em defesa da cultura do Alto Minho

O ArcosOnline.com – o portal de Arcos de Valdevez – acaba de lançar em formato digital o livro “A Língua Portuguesa no Alto Minho”, da autoria de Victor Domingos. Esta publicação de cariz não-académico pretende dar o seu contributo para uma redignificação da identidade cultural das populações do Alto Minho.

De acordo com o autor de “A Língua Portuguesa no Alto Minho”, a obra tem como objectivo central ajudar a restituir à população alto-minhota o direito à sua identidade cultural, nomeadamente num dos aspectos em que essa identidade mais tem sido objecto de segregação: a sua língua. Ou melhor, a variante da Língua Portuguesa que é falada no Alto Minho e que, segundo Victor Domingos, apresenta uma especificidade que reflecte, de um modo geral, «não o espírito tacanho ou tosco destes falantes, mas sim um certo purismo ou conservadorismo linguístico». Esta obra pretende ainda chamar a atenção de todos para a necessidade de estudar, divulgar e preservar um património cultural que desde há muito vem sendo votado ao esquecimento: o património linguístico. Porque, no dizer do autor, «a Língua é também ela Património da Humanidade» e, portanto, para além de trabalhos que abordem a especificidade linguística dos falares desta região, «é também URGENTE recolher, organizar e divulgar todo o tipo de tradições orais da nossa terra», como sejam «contos e poemas populares, lendas, adivinhas, lengalengas, anedotas, provérbios, orações, canções tradicionais». Em suma, «todo um património que vai morrendo a cada dia, à medida que morrem os únicos detentores desse conhecimento: os nossos pais, os nossos avôs e os nossos bisavôs».

Partindo desses objectivos gerais, “A Língua Portuguesa no Alto Minho” debruça-se sobre algumas das características fonológicas, morfológicas e lexicais do Português que se fala nesta região. Ao nível fonológico, a obra aborda, por exemplo, a forma como nesta região se pronuncia as letras “b/v” e “s/ss/z/ç” e outros fenómenos típicos, como o emudecimento do grupo “-em” no final de certas palavras. A nível morfológico, é dado destaque a palavras que muitos julgavam mortas mas que, afinal, ainda estão bem vivas no Português de hoje. Exemplo disso, é a conjunção “ca” bem como as palavras que resultam da sua contracção com os artigos definidos. Ou as contracções da preposição “com” com esses artigos. Além disso, são ainda abordadas algumas particularidades na flexão verbal, que divergem da norma postulada pelos dialectos ditos “cultos”. Finalmente, a nível lexical, é feito um inventário de cerca de uma centena de palavras, sob a forma de um mini-dicionário de «palavras vivas que são nossas». O autor explica que não procedeu a uma recolha exaustiva de todo o vocabulário alto-minhoto, mas que se limitou a coleccionar palavras que são de uso comum, excluindo por exemplo os termos mais ligados à agricultura ou à fauna e flora locais.

Não se trata de um trabalho académico, como aliás o próprio autor faz questão de frisar. Mas nem precisaria de o dizer: o facto de o texto não ocupar mais que vinte e poucas páginas mostra isso mesmo. Será antes, no seu entender, um trabalho de cariz amador, destinado ao público em geral, e que exemplifica um dos tipos de intervenção que deveriam estar já a ser promovidos pelas instituições regionais ligadas à cultura.


Isaac F. Katan, Israel

D.Pedro II e os Judeus

Um velho ditado diz que "todos os caminhos levam a Jerusalém".

Bom, eu mesmo sou prova disso! Erradicado na cidade de meu povo, hoje
reconhecido pelas nações do mundo, venho relatar sobre a cultura
judaica de Sua Majestade o Imperador Dom Pedro II e de hoje meu
conhecimento sobre a existência do Rabino Mossé de Avignon, na
Provença Francesa.

Interessado no que pesquisei, entre anotações d'aqui e d'alí,
resultou-se neste artigo, pois o que encontrei é uma verdadeira
relíquia de informação que penso eu estar perdida ou até mesmo nunca
conhecidas pelo Povo Brasileiro.

Na Cidade Imperial de Petrópolis, podemos achar uma carta que o
Rabino Mossé dirigiu à Sua Majestade em 9 de agosto de 1889, enviada
juntamente com a biografia "Dom Pedro II, Empereur du Brésil", cuja
autoria e até existência do autor tinham sido postas em dúvida por
d'Escragnolle. A missiva, em estilo muito floreado, fecha com o
seguinte parágrafo:

"Uma das mais belas retribuições de minha vida será apresentar, como
historiador françês, o maior dos modernos imperadores, D. Pedro II.
Com os sentimentos de minha devota admiração, imploro Sua Majestade
aceitar esta nova oferenda e as mais profundas homenagens de seu
humilde e respeitoso servo, discípulo de Moisés e dos Profetas, que
invoca para Sua Majestade, Sua Augusta Família e Seu Povo, a graça
divina do Supremo Criador, para que Ele o proteja contra o ataque dos
insetos e o coloque à sombra das Suas Asas (em hebraico:) que os
anjos o acompanhem em todas Suas andanças!" –Benjamin Mossé, Grão
Rabino Oficial da Instituição Pública

A História do Povo Judeu, tão ligada à religião e as tradições
seculares, é uma história muito diversa da de outros povos.
Entretanto, é a história de toda a humanidade. As narrativas bíblicas
esclarecem os caminhos da humanidade desde a época nômade, desde as
tribos, até a formação de nações constituídas de leis próprias. As
histórias dos profetas, reis e patriarcas são um patrimônio de
conduta para todas as crenças e todos os homens. A história judaica
mesclou-se à história de inúmeros povos e países onde os judeus
viveram, incluindo o princípio da História do Brasil desde o seu
descobrimento, Cabral, Fernando de Noronha, Vasco da Gama, tantos que
para cá vieram, aqui estiveram em paz enquanto durou a repressão pelo
Sr. Marquês de Pombal à inquisição.

Com a transferência e chegada da Corte Portuguesa, em 1808, os portos
foram abertos à imigração e os judeus que chegaram a partir d'aí não
tinham a ver com os anteriores cristãos novos. O Império do Brasil
florescia sob o reinado de Dom Pedro II. E aqui inicía-se nossa
história: o Imperador amigo e admirador do povo da história e da
língua hebraica, deixou uma grande profusão de documentos sobre o
assunto, e registrou de próprio punho em seus diários, o bom
relacionamento e as amizades que tinha e cultivava com os judeus do
Brasil e de outras terras.

Quem visitar o Museu Imperial de Petrópolis encontrará todo um acervo
desta face pouco conhecida de Sua Majestade, que foi coroado com
apenas 14 anos, falava inglês e francês, era culto e foi sempre
dedicado ao estudo durante toda sua vida apesar dos seus deveres como
Chefe-de-Estado para com o Brasil. Em 1830, seus estudos incluíam
latim, música, dança,caligrafia, geometria, matemática, geografia e,
em 1839, dedicou-se ao alemão e italiano. Depois, Sua Majestade
aprendeu com perfeição o grego, hebraico, sânscrito, árabe,
provencial e a língua tupi.

Em 1891, Sua Majestade publicou um livro de versões de poesias
judaicas declarando então, que se dedicara ao hebraico, para conhecer
a história e literatura dos judeus e os livros dos profetas. Seu
primeiro professor foi o judeu sueco Aker Blom por volta de 1860 e
depois os judeus Koch, Henning e Seybold. Em 1887, viajando à Europa,
D. Pedro II declara ser o hebraico sua língua preferida e, em seu
diário, ele anotava suas traduções do hebraico, assinala que
ministrou aulas de hebraico, depois registra "Traduzi Neemias com
facilidade, não tenho esquecido o hebraico".

Mesmo no exílio, Sua Majestade continuou estudando sempre a língua
hebraica. Traduziu Camões para o hebrauco, passou partes do Velho
Testamento do hebraico para o latim, dentre elas o  Cântico dos
Cânticos (Shir Ha-shirim), Isaías, Lamentações e Jó. Dom Pedro II foi
precursor dos estudos hebraicos no Brasil e por causa dele muitos
estudiosos passaram a cultivar a língua hebraica. Sua Majestade
deixou um trabalho de 19 páginas que está no Museu Imperial de
Petrópolis com o significado de palavras hebraicas do livro dos
Salmos e do Gênesis, sendo que ele as traduziu para o inglês e o
grego, não para o português. Este documento contém o hebraico escrito
de seu próprio punho.

O Maior dos Brasileiros, Sr. D. Pedro II do Brasil, tinha amigos
judeus aos quais freqüentava e que também recebia no Paço Imperial.
Quando Sua Majestade criou a Ordem da Rosa vários judeus a receberam
no Brasil, como o Coronel Francisco Leon Cohn, Henry Nestor, Dreifus
e outros judeus residentes em  outros países também foram honrados.
Abraão Bernel, por exemplo, recebeu a ordem por serviços humanitários
no Brasil. Firmas inglesas a receberam, todas elas relacionadas aos
Rothschild.

Um judeu, Morris N. Kohn, americano, fez a planta para a instalação
da luz elétrica no Palácio da Quinta da Boa Vista. Este judeu que
veio residir no Brasil foi o inventor da cama patente. Quem se
lembra? Em 1869, chegou ao Rio de Janeiro o maestro e pianista judeu
Gottischalk e entre muitasapresentações houve uma solene em homenagem
ao Imperador, composta de 20 músicos sob a regência do maestro. A
lista de artistas judeus que aqui vieram foi enorme e tiveram sempre
o apoio de Sua Majestade: Paula Bucheim, Ida e Helena Goldsmith, Max
Lichtenstein e muitos outros.

Quando o Brasil tornou-se independente, a Constituição Imperial
declarou a religião católica apostólica romana como religião oficial
do País, mas permitia o culto das demais. Dom Pedro II viajou muito e
por onde passava visitava as sinagogas. Quando em visita à Londres,
visitou duas das principais sinagogas, sendo que em uma delas o
Rabino Marks abriu a Torá a seu pedido, e no sábado pela manhã lá
estava Sua Majestade assistindo ao culto onde recebeu as bençãos para
sí e toda a Família Imperial.

Em San Francisco, a Torá lhe foi apresentada e o Imperador a leu
fluentemente, leu o Livro de Moisés e traduziu o texto com
desembaraço para surpresa dos presentes. E assim visitou as sinagogas
das cidades onde esteve nos Estados Unidos e restante da Europa. No
seu diário ele registrava a passagem pela Sinagoga de Bruxelas,
esteve também na Sinagoga de Toledo fazendo anotações sobre a música
e o canto assistido aos shabat invariavelmente.

Sua Majestade veio à Israel, então Palestina sob domínio turco.
Esteve numa sinagoga samaritana em Sebastia e ele anota que a Torá
que lhe foi apresentada era de pele de gazela, muito antiga e tinha o
Pentateuco escrito em letras fenícias ou cananéias usadas antes do
exílio babilônico. Em Damasco (hoje capital da Síria) procurou os
judeus e os visitou. Já em Israel esteve em Kfar Naum e
anotou: "Estudei a Bíblia quanto pude",  e trouxe uma pedra das
ruínas da Sinagoga.

Foi nesta viagem, várias vezes a Jerusalem e anotou: "Vou ao Monte
das Oliveiras e vou ver os judeus orando junto à Muralha do Templo".
Po aqui termino nossa viagem junto com Sua Majestade na Terra Santa
pois tratarei disso num artigo à parte, mais adiante. Agora, voltando
ao Brasil, Sua Majestade era sempre ligado aos seus amigos judeus,
mantendo vasta correspondência sobre o hebraico. Havia um  especial,
Ernest Renan, filósofo, professor de hebraico e sânscrito, era
escritor mas os livros por ele publicados sobre religião não
coincidiam com o sentido religioso do Imperador. Sua Majestade era
religioso, o estudo do hebraico, o interesse pelas sinagogas e os
judeus estão alinhados com ele, que declarava: "Creio em Deus, sempre
tive fé".

O Brasil seguia seu caminho, o Império comerciava com o exterior e
tornava-se conhecido pelo mundo. O Imperador recebia publicações de
várias partes e assim, foi se formando a Biblioteca Imperial. Dos
Estados Unidos, chegou um livro em hebraico de autoria do Rabino
Halish e também um manuscrito de Jerusalem enviado por Salomon
Henvitz. Muitas cartas em hebraico, poemas, um livro sobre Judah Ha-
levy vieram para o Castelo d'Eu, na França, quando o Imperador já
estava no exílio. Sua Majestade, mesmo destronado, continuou a
freqüentar os meios judaicos da Europa.

As anotações em seu diário são variadas já no exíliio, refere-se aos
seus contatos com judeus radicados em setores diversos: médicos,
professores, rabinos, escritores etc... Seis semanas antes de seu
passamento, ele enviou carta ao professor Max Pettenkoper,
agradecendo as poesias em hebraico. Sua Majestade foi amigo do Rabino
Benjamin Mossé de Avignon, que lhe sugeriu que traduzisse os poemas
litúrgicos daquela região da Provença, pois ele dominava os dois
idiomas. Os poemas eram escritos de maneira especial, eram piuts,
escritos em hebraico, outra em provençal. Sua Majestade fez a
tradução ao seu modo. O texto hebraico foi para o francês e o
provençal para caracteres latinos e assim Dom Pedro II fez muitas
traduções para o Rabino de Avignon, incluindo o Aramaico.

As publicações religiosas do rabino denominadas "La Familie de Jacob"
estão documentados os trabalhos de Sua Majestade o Imperador. A
Biblioteca Nacional de Paris possui esses exemplares, as bibliotecas
judaicas na França e em Israel NÂO OS TÊM, embora constem documentos
franceses as traduções feitas pelo Imperador dos "treze atributos de
Deus" do Rabino Salomon Ben Isaac de Troyes. No Brasil, não há nenhum
documento a respeito.

D. Pedro II recebeu em 15 de setembro de 1873 o grande Diploma de
Honra por seus trabalhos por intermédio do Rabino Mossé que,
juntamente com o Barão do Rio Branco, escreveram uma biografia de Sua
Majestade. A morte do Imperador aos 68 anos foi um choque para o
Rabino Mossé e ele escreveu um necrológio no seu jornal "La Famille
de Jacob": "Dom Pedro II d'Alcantara, cuja biografia um modesto
rabino teve a honra de escrever com a colaboração de um sábio
estadista brasileiro o Barão do Rio Branco, foi uma das mais
admiráveis figuras de nossa época moderna. Fundador e organizador do
imenso Império do Brasil foi amigo das letras. Conhecedor a fundo do
hebraico, era certamente mais fluente nesta língua que muitos filhos
de Israel. Ele não somente amava nossa língua mas nos amava, elogiava
as virtudes de nosso povo e indignava-se com o anti-semitismo."

A última obra de Sua Majestade trabalhava era judaica, uma
manifestação  ressoante em favor do judaísmo que guardara para sempre
sua memória.

O povo judeu que encontrou tanto desamor através dos séculos também
teve  amigos sinceros, e entre eles em muito especial, Sua Majestade,
o Maior dos Brasileiros, o Sr. Pedro João Leopoldo Salvador Babiano
Francisco Xavier de Paula Leopoldino Miguel Gabriel Gonzaga de
Alcântara Orleans e Bragança, Imperador e Defensor Perpétuo do
Brasil, com a graça de Deus e dos Povos queconstituem o Brasil.
Isaac F. Katan

Pedro F. T. Kaul, Brasil

Consolidação do Português em África

Caro amigo angolano,

Sou brasileiro sem origem africana aparente. Entretanto, desde quando me dou por gente, interesso-me muito pela África, especialmente pelos PALOP. Já andei por lá três vezes - em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, confirmando plenamente meu interesse. Parecia-me que não havia saído de meu país !

Um dos fatores que pesa muito na aproximação de nossos povos é, indubitavelmente, sermos falantes da mesma língua.

Interessa-nos muito - pelo menos a nós, brasileiros -, que a Língua Portuguesa se consolide plenamente nos PALOP. Isso se traduziria, praticamente, num aprofundamento nas relações entre os nossos países, o que seria proveitoso, creio, para todos nós.

Entretanto, para quem pensa assim, como eu, "nem tudo tem sido flores". Senão, vejamos:

Circulando-se pelas inúmeras páginas que já há em Português na Internet, particularmente por aquelas referentes à África, depara-se com o caso de Cabinda, província angolana que reivindica ser um país independente, invocando argumentos aparentemente até bem fortes.

Pergunto-lhe: - acha que referida província, separada geograficamente de Angola e rodeada pelos dois Congos, países de Língua Francesa, continuaria a adotar o Português como seu idioma oficial, caso venha ser, um dia, um estado independente ? A influência da cultura e da língua francesas não roubariam Cabinda do Mundo Lusófono ? Qual é a sua opinião ?

Forte abraço, Pedro F. T. Kaul.

Maria José Albarran Carvalho

Panorama Linguístico de Timor – Identidade Regional, Nacional e Pessoal

(…). Em Timor Leste, na generalidade do território, o Tétum servia de língua de comunicação inter-regional, ao lado da língua da religião e do colonizador, para além do Hakka e cantonês, falado nos meios mestiços chino-timorenses, sobretudo ligados ao comércio. «O português tem sido falado por uma minoria de assimilados, como língua de escola, da administração, imposta na fase da colonização, mas, e sobretudo, pelos cristãos, como língua de religião. 

É reconhecido o papel significativo do Português na génese da identidade cultural e pessoal dos timorenses por se tratar de uma língua falada por 11% da população e sobretudo foi a língua da resistência, a língua de celebração do culto até 1980 e, graças também à Igreja, a língua de toda a escolaridade até 1912. O Português é também a língua dos nomes próprios de 98% dos timorenses e dos apelidos de 70%. (…)”

Fonte: www.instituto-camoes.pt/revista/revista14i.htm”