Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


08-12-2014

Angola quer línguas nacionais grafadas no documento do acordo ortográfico


António Paulo 04/12/2014 14:59:31

 

O princípio da horizontalidade não salvaguarda línguas crioulísticas, malaio-polinésias e bantu(subtítulo in Jornal Angolano de Artes e Letras 8 a 21 dezembro de 2014)

 

A rectificação do acordo ortográfico (de 1990) da Comunidade dos Países da Língua Oficial Portuguesa (CPLP) continua a ser a principal exigência do executivo angolano que 24 anos depois da sua assinatura, ainda não ratificou o documento por não estarem grafadas as contribuições das línguas nacionais.

O assunto foi motivo de debate a semana passada em Luanda, entre especialistas ligados à matéria e diferentes comunidades. O representante do Ministério da Educação (MED) Filipe Zau, um dos prelectores no encontro, enalteceu a posição de Angola pela "não ratificação do acordo ortográfico". Porém, o também académico lembrou que o país "não é contra o projecto".

"O acordo não tem o português de Angola, como também não respeita determinados aspectos para o qual temos necessidade de manter, como é o caso da nossa dupla consonância. Falo de NDalatando, MBanza e outros. Portanto, Angola defende a adequação do documento, com realidades linguísticas e culturais de cada povo", justificou o palestrante que falava ao Novo Jornal à margem do encontro.

Para o também reitor da Universidade Independente de Angola, o assunto implica um estudo e análise cuidadosa para não ferir a herança cultural que o país recebeu da civilização bantu. "O que estamos à procura é de uma cooperação mais possível entre a linguística bantu e a linguística neolatina. Há sons das línguas bantu que não podem ser transmitidos em Português e há sons do Português difíceis mesmo em determinadas línguas bantu", observou.

Filipe Zau argumentou que a temática não passa simplesmente pela ratificação, mas sim pela rectificação do documento. "O problema não é só ratificar. Pretendemos rectificar para ratificar. Achamo-nos merecedores desta rectificação para que amanhã não seja tarde", atestou o interlocutor. Então - continuou, "é preciso corrigir analisar, rectificar para depois então ratificar e que estejamos todos de acordo. Mas, para isto, é preciso diálogo. Angola está aberta ao diálogo. A CPLP tem um parecer sobre as nossas preocupações", lembrou Filipe Zau.

O consenso é para o académico a chave do sucesso para a aplicaçãodo acordo ortográfico entre os países da comunidade que fala a língua de Camões. "As decisões da CPLP fazem-se em conjunto. Portanto, estamos a trabalhar para encontrar consenso. Isto, é que deve ser o princípio de trabalho da comunidade", lembrou.

"Só é valido o acordo de 1945"

Já o representante do Ministério das Relações Exteriores (MIREX), Oliveira Encoge, disse que apesar da grafia do novo acordo ortográfico já estar presente em Angola através dos manuscritos e equipamentos provenientes de Brasil e Portugal, a situação em nada afectará a forma da escrita oficial em Angola, justificando que o país, apenas aderiu à forma convencional de 1945.

"Deixem-me dizer que toda publicação que entra em Angola com a grafia que não seja de 1945 não é oficial. O Estado angolano só reconhece como ortografia aquela que vigora desde 1945. Portanto, os dicionários que entram por via pessoal ou outras, não afectam em nada a forma actual. Agora, as gramáticas que o governo vai editar é que serão as oficiais", avisou Oliveira Encoge, para quem, o debate já se impõe.

"Estamos todos a fazer um esforço. Daí, então, a criação da comissão multissectorial ministerial para se encontrarem respostas para muitas coisas. É preciso lembrar também que Angola tem 39 anos, é um Estado muito novo. Temos 12 anos de paz e ainda muitas dificuldades. Então, hoje abrimos espaço para a questão da língua que é uma preocupação do chefe do executivo e de todos nós", sublinhou.

O também director de Gabinete do MIREX para a CPLP recordou que, para Angola, "o fundamental é ver reflectido no acordo ortográfico a respectiva contribuição, à semelhança de outros países membros. Porém, alertou para a não exclusão".

"Se repararem, o Tupi Guarani, que é uma das línguas brasileiras, também deu a sua contribuição. Então, precisamos também ver a nossa realidade expressa no documento. Temos necessidade de fazer o nosso vocabulário ortográfico nacional, para em conjunto, fazermos o vocabulário ortográfico comum da CPLP. Tem de haver abertura. Esta é que é a questão fundamental", finalizou.

O debate foi organizado pela União dos Escritores Angolanos, (UEA) no habitual programa Maka à quarta-feira e teve como tema A situação do acordo ortográfico em Angola: Panorâmica dos Ministérios da Educação e das Relações Exteriores.

(leia sobre este assunto, também o Jornal Angolano de Artes e Letras, Diretor José Luís Mendonça, artigo: 'Acordo Ortográfico dá maka grossa na UEA . O princípio da horizontalidade não salvaguarda línguas crioulísticas, malaio-polinésias e bantu'  »»»                                                                      https://br-mg6.mail.yahoo.com/neo/launch?.rand=2q0k5cqel6lc7#5835761414 )

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