Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


13-06-2014

A INFLUÊNCIA AFRICANA NO PORTUGUÊS DO BRASIL Renato Mendonça


A INFLUÊNCIA AFRICANA NO PORTUGUÊS DO BRASILRenato Mendonça    Brasília 2012Fundação Alexandre de Gusmão-Ministério das Relações Exterioreshttp://www.funag.gov.br/biblioteca/dmdocuments/Influencia_Africana_no_portugues_do_Brasil.pdf

trecho da Apresentação por Alberto da Costa e Silva :"Em 1789, no primeiro dicionário monolíngue do idioma português, Antônio Morais e Silva já identificava várias palavras de origem africana,como batucar, cafuné, malungo e quiabo, de uso corrente entre os brasileiros. Ao longo do século XIX e nas três décadas do seguinte, não faltaram vozes a chamar a atenção para a presença africana no português do Brasil, mas mesmo num estudo mais penetrante como o de Antônio Joaquim de Macedo Soares, “Sobre algumas palavras africanas introduzidas no português que se fala no Brasil”, estampado em 1880 na Revista Brasileira, essa participação era considerada ainda menor do que a do tupi e outras línguas ameríndias. Embora Macedo Soares visse com interesse quase afetuoso o contributo africano, é ainda pequeno o espaço que lhe é reservado no seu Dicionário brasileiro da língua portuguesa: elucidário etimológico crítico das palavras e frases que, originárias do Brasil, ou aqui populares, se não encontram nos dicionários da língua portuguesa, ou neles vêm com forma ou significação diferente, publicado em 1889 até o verbete “candeeiro”. Esse importante dicionário foi completado, com base no amplo material recolhido por aquele pesquisador, por seu filho, Julião Rangel de Macedo Soares, que o pôs nas estantes somente em 1954.A situação começara a mudar em 1933, com o aparecimento de O elemento afro-negro na língua portuguesa, de Jacques Raimundo, e principalmente deste livro, A influência africana no português do Brasil. O autor, Renato Mendonça, era um rapaz de 21 anos, que tinha como único título ─ e o pôs sob seu nome na capa e folha de rosto da 1ª edição ─ ALBERTO DA COSTA E SILVA o de bacharel em ciências e letras pelo Pedro II. É de imaginar-se a perplexidade dos que tiveram de julgar este trabalho, quando foi apresentado como tese ao concurso para o provimento da cadeira de português do internato daquele mesmo colégio. Os examinadores viram-se diante de uma monografia bem fundamentada sobre um tema que, surpreendentemente, se revelava mais do que relevante e que, até então, quase não fora estudado ou o fora de modo pouco atento. As teses do ex-aluno que aspirava ascender a professor estavam, como é natural, abertas à polêmica, mas eram convincentes e expostas com discreta erudição e seriedade.Renato Mendonça arrolava cerca de 350 palavras de proveniência africana que se haviam infiltrado no português do Brasil, um número consideravelmente superior às 47 que Antenor Nascentes identificara como tais, no seu Dicionário etimológico da língua portuguesa, que saíra um ano antes. Embora ainda muito distante dos quase 3.000 termos reconhecidos, no fim do século XX, por Yeda Pessoa de Castro em Falares africanos na Bahia ─ aos quais, para se formar ideia do tamanho dos aportes da África ao português do Brasil, se teria de acrescentar uma boa quantidade de palavras usadas somente em outros estados ─, o vocabulário que ocupava 1/3 do livro de Renato Mendonça já servia de argumento contra os que subestimavam a contribuição dos povos negros às maneiras brasileiras de falar e escrever. Essa influência africana ─ advertiu, também pioneiramente, Renato Mendonça ─ não se reduzia ao enriquecimento lexical: ela se estendia à fonética, à morfologia, à sintaxe,à semântica, ao ritmo das frases e à música da língua. O rapaz de 21 anos era ousado, e, entre as várias propostas novas e sedutoras que se sucedem em seu livro, sustenta ─ antecipando o que hoje se reconhece ─ que o contributo do quimbundo fora mais importante do que o do iorubá na conformação do português do Brasil."   trecho do Prefácio de Yeda Pessoa de Castro"Renato Mendonça e “A influência africana no português do Brasil”, um estudo pioneiro de africanias no português brasileiro A partir de uma definição da antropóloga Nina Friedemann em “Cabildos negros, refugios de africanias en Colombia” (Revista Montalbán, Universidade Católica Andrés Bello,1988), podemos entender africanias como a bagagem cultural submergida no inconsciente iconográfico dos negroafricanos entrados no Brasil em escravidão e que se faz perceptível na língua, na música, na dança, na religião, no modo de ser e de ver o mundo, e, no decorrer dos séculos, como forma de resistência e de continuidade na opressão, transformaram-se e converteram-se em matrizes partícipes da construção de um novo sistema cultural e linguístico que nos identifica como brasileiros.São essas matrizes que, na década de 1930, o diplomata, escritor e pesquisador alagoano Renato Firmino Maia de Mendonça (23/12/1912 – 20/10/1990), em sua monografia sobre A influência africana no português do Brasil, tratou de pontuar na formação da modalidade da língua portuguesa no Brasil, em nossas tradições orais e na literatura brasileira. Em 1933, a 1ª edição foi publicada pela Gráfica Sauer com prefácio de Rodolfo Garcia, trazendo o mapa da distribuição do elemento negro no Brasil colonial e imperial. Em 1935, sai a 2ª edição pela Companhia Editora Nacional, na Coleção Brasiliana (Série V, Vol. XLVI), ilustrada com mapas e fotografias e aumentada em dois capítulos, um esboço histórico sobre o tráfico e um ensaio sobre o negro na literatura brasileira. Também de caráter inovador são os mapas toponímicos com localidades designadas por nomes africanos no Brasil, da autoria do geógrafo Carlos Marie Cantão,que vem em addendum, ao final do livro. A 3ª edição, de 1948, é publicada no Porto pela Figueirinhas. Em 1972 e 1973, a 2ª edição é republicada pela Civilização Brasileira. Ao lado de Jacques Raimundo que coincidentemente publicou, pela Renascença, em 1933, O elemento afro-negro na língua portuguesa, a obra de Renato Mendonça é um estudo de referência obrigatória nessa importante área de pesquisa, mas cuja repercussão no meio científico corresponde a menos do seu valor real, em razão da tendência de esse conhecimento ser considerado, em grande parte por linguistas e filólogos, mais como objeto de pesquisa de interesse dos africanistas e dos especialistas no domínio dos estudos “afro-brasileiros”, assim denominados como uma palavra composta de acordo com a grafia consagrada e recomendada pelo recente acordo ortográfico. (...)"


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