Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


27-01-2010

O ESQUECIDO BORGES SAMPAIO Jornal de Uberaba


27/04/2008 às 16:45
 
O ESQUECIDO BORGES SAMPAIO
Antônio Borges Sampaio nasceu na província de Beira Alta, em Portugal, em 1827. Em Uberaba chegou em 1847 para instalar filial de casa comercial na qual trabalhava em Santos. Daí em diante, por toda a vida, findada em 26 de abril de 1908, foi o mais incansável servidor e batalhador por Uberaba. A partir de 1850, quando se estabeleceu comercialmente por conta própria com farmácia no andar térreo da primeira casa da cidade, onde hoje é o hotel Chaves, aliou a luta pela subsistência com os maiores e mais desinteressados esforços para grandeza da cidade. Nesse mesmo ano iniciou sua colaboração jornalística em jornais de Niterói, tornando-se o primeiro jornalista militante de Uberaba e do Triângulo e, possivelmente, de todo o Brasil Central. De 1961 até seu falecimento, colaborou e foi o correspondente na região do Jornal do Comércio, do Rio, o maior, mais prestigiado e influente do país em toda segunda metade do século XIX e primeiros anos do século XX. Colaborou também intensamente na imprensa local, que ajudou a fundar. Ainda na década de 1850 elegeu-se vereador, elaborou a planta da vila e promoveu seu recenseamento, pleiteando sua elevação à categoria de cidade, obtida em 2 de maio de 1856. Por mais de 25 anos exerceu a vereança, ora como titular ora como suplente, sendo presidente da Câmara e agente executivo (prefeito) do município. Além dessas atividades comerciais, administrativas e jornalísticas, ocupou concomitante e/ou sucessivamente os cargos de agente dos correios, curador geral de órfãos, subdelegado e suplente de delegado de polícia, comissário do censo e promotor de justiça. Exerceu ainda o magistério e foi diretor da Escola Normal Oficial, além de advogado e cirurgião do 32º batalhão da Guarda Nacional, para o que estudou por conta própria, visto que, à época, para o exercício dessas atividades, ainda não se exigia habilitação escolar superior. Trabalhador infatigável, organizado e, acima de tudo, atuante nos mais diversos setores comunitários, participou de todas as principais iniciativas e cometimentos a favor da cidade, a exemplo do auxílio e assistência permanentes dados a frei Eugênio Maria de Gênova na fundação da Santa Casa de Misericórdia e construção de seu hospital e ao médico e escritor francês Henrique Raimundo des Genettes na fundação da imprensa em Uberaba e manutenção de seu primeiro jornal. A expensas próprias montou laboratório meteorológico em compartimento de sua residência – visitado pelo conde d’Eu e pelos astrônomos Luís Cruls e J. Oliveira Lacaille, quando estes cientistas por aqui passaram em demanda a Goiás para marcarem o lugar da construção de Brasília. Dedicou-se diuturnamente a observações meteorológicas, cujos resultados publicou na imprensa. Paralelamente a tudo isso e a mais coisas que fez e a iniciativas que tomou, dedicou-se às pesquisas históricas locais, registrando em inúmeros ensaios suas observações, análises e julgamentos.
Poucos, como ele, amou, dedicou-se e sacrificou-se tanto em prol de uma cidade e de um povo, que, no entanto, por sua sociedade em geral e por seus educandários, mídia, instituições culturais e órgãos públicos – excetuados a Academia de Letras do Triângulo Mineiro, que editou suas obras em 1971 no livro Uberaba: História, Fatos e Homens, e o Arquivo público que a reeditou em 2001 – até hoje não corresponderam, em reconhecimento e homenagens, a tanto trabalho e desprendimento, a ponto de apenas pequena e suburbana rua de três quarteirões levar seu nome e, assim mesmo, como simples “Coronel Sampaio”, que de tão inespecífico chega até mesmo a ser confundido com homônimo que lutou na Guerra do Paraguai. Logo ele, que elaborou o primeiro e notável trabalho sobre a nomenclatura das ruas da cidade para a Câmara Municipal nomeá-las oficialmente. É muito desinteresse pelo passado desta cidade! É justamente o oposto a tudo que Sampaio foi e fez por ela!
Espera-se que no ano do centenário de seu falecimento, a imprensa, rádios e emissoras de televisão dediquem-lhe espaço e tempo e os educandários (de todos os níveis), faculdades e universidades, instituições culturais e clubes de serviço (ninguém foi mais servidor que ele!) promovam atividades que recordem e enalteçam uma vida e uma atuação pessoal e comunitária exemplares. Seu conhecimento por parte da juventude certamente contribuirá para sua formação como cidadãos de um país que carece cada vez mais e, por isso, está a exigir urgentemente, do maior número possível de pessoas participativas orientadas por espírito público.

DEPOIMENTOS SOBRE BORGES SAMPAIO

Arnaldo Rosa Prata
“Voltando às origens, a figura de Antônio Borges Sampaio, do Velho Sampaio, como era conhecido e estimado, se agiganta destacando-se, sobremaneira, pela sua característica inconfundível de pesquisador fiel no registro dos acontecimentos. Todos aqueles que tiveram oportunidade de conhecer a vida deste português notável, que fez de Uberaba o seu verdadeiro torrão natal, perceberão quanto de amor, de estudo e de tempo ele dedicou à nossa terra.”

Santino Gomes de Matos

“Um vago nome numa vaga rua, com afundamento melancólico na indiferença popular, eis a injustiça que se deve corrigir em relação a Antônio Borges Sampaio. Os mais velhos hão de ter ouvido dos pais ou dos avós pronunciamentos de respeito, senão de veneração, sobre esta figura de excepcional relevo na infância de nossa cidade. Deu-se, entretanto, uma ruptura que é de mister emendar, para reacendimento de um preito irrecusável, através das novas gerações, fixando na lembrança de todos a presença de Borges Sampaio na altitude que conquistou.”

Hidelbrando de Araújo Pontes

“Com seu desaparecimento para sempre do cenário do mundo, Uberaba perde o maior dos seus benfeitores. [....] O desenvolvimento material de Uberaba, a sua instrução, a conservação das suas tradições históricas, etc., se devem todas ao tenente-coronel Sampaio. A história de sua vida, como muito bem disse um dos periódicos locais, confunde-se com a de Uberaba, porque a cada passo vemos impressos vestígios da sua benfazeja passagem. [....]

Maria Antonieta Borges Lopes


“Apesar de sua importância, tem seu nome apenas vagamente lembrado em uma das ruas da cidade. Como disse o saudoso professor Santino Gomes de Matos, está aí uma injustiça que se deve reparar.” (Texto inédito).

José Mendonça
“Foi jornalista brilhante, tendo colaborado em quase todos os jornais uberabenses de seu tempo, foi companheiro do dr. des Genettes, nas lutas da primeira fase da imprensa no Triângulo.[....] Penso que a atual praça Rui Barbosa deve passar a denominar-se “Major Eustáquio”; a rua Artur Machado deve ter o nome de “Borges Sampaio”; e a atual Major Eustáquio o de “Artur Machado”. Assim, no centro da cidade ficarão perpetuados os nomes de Major Eustáquio (o fundador), de Vigário Silva (o primeiro vigário, o primeiro presidente da Câmara, o primeiro historiador da cidade) e o de Borges Sampaio (o grande servidor).”

Azeve do Júnior

“Ninguém dos que em Minas redigem gazetas desconhecia o nome de Borges Sampaio, em quem todos víamos o pertinaz pioneiro da Farinha Podre, o espírito vivace que se comprazia nos estudos históricos, nas indagações do passado, e, na imprensa, nenhum outro fez tanto quanto ele por Uberaba e por esta extensíssima zona.”
Ivone Borges Botelho
“Borges Sampaio constitui uma figura de impacto e todos aqueles que se debruçarem sobre a obra e o comportamento desse cidadão português, naturalizado brasileiro em 1851, sentir-se-ão envolvidos pela magia de sua personalidade, por sua fortaleza, poder criador e capacidade de realização.” (Estado de Minas, Belo Horizonte, 2 novembro 1971).
Fidélis Reis
“Antônio Borges Sampaio é sem contestação, até hoje, a personalidade de maior projeção na tradição de Uberaba. Pelo trabalho sem descanso a que se entrega, no estudo pertinaz e ininterrupto, ele faz prodigiosamente o orador, o jornalista, o causídico a quem ninguém ultrapassa ou excede no seu tempo. É a palavra mais ouvida, a opinião mais acatada. Na tribuna judiciária, na imprensa ou nas lides forenses. [....] Sem contraste, domina e culmina em todos os âmbitos das atividades mentais e culturais da região”. [....] Um homem que vindo do nada, pelo próprio merecimento ascende à posição de pioneiro e leader dos destinos de uma vasta região cuja civilização nascente orienta e dirige para todas as suas conquistas de engrandecimento e de progresso. Sempre, porém, com nobreza e dignidade.” (O Triângulo, Uberaba, 21 agosto 1941).

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