Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


24-04-2015

Não estou fingindo que sou uma brasileira, diz escritora portuguesa, Alexandra L


Não estou fingindo que sou uma brasileira", diz escritora portuguesa

 

Encontro com Alexandra Lucas Coelho debate o possível surgimento de uma nova língua literária e os laços entre Brasil e Portugal

 

 

Por Nathália Aguiar

 

A língua que une Brasil e Portugal foi celebrada na última segunda-feira (13) durante o quarto dia da semana Minha Pátria, Minha Língua, em clima intimista na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi, em São Paulo. Sob o tema “Literatura em Trânsito”, o encontro recebeu a escritora portuguesa Alexandra Lucas Coelho, vencedora do Grande Prêmio de Romance e Novela APE 2012 e correspondente do Público no Rio de Janeiro. 

 

Em bate-papo com Paulo Werneck, curador da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), a escritora falou sobre a sua relação com o Brasil e com a língua portuguesa. 

Assim como a língua, Alexandra cruzou o Atlântico e há quatro anos mora aqui, depois de percorrer, como jornalista, países como Afeganistão, Israel, Egito e México. “Chegar ao Brasil depois dos 40 anos foi libertador, precisei dar essa volta para chegar aqui. Isso me libertou de ficar com o peso da culpa ou da arrogância de um ex-colonizador”, diz a autora do livro de crônicas de viagem Vai, Brasil, lançado em 2013 em Portugal. Embora não negue a experiência inicial de encantamento com o português brasileiro, Alexandra diz não haver uma distinção: “Tudo faz parte do mesmo. Aqui está a minha língua”. 

A linguagem utilizada pela autora em seus livros foi alvo de críticas: “Falaram que eu tinha começado a escrever brasileiro”. Mas, para ela, nada mais foi do que a experiência física de atravessamento, que ocorreu durante a viagem ao Brasil, que refletiu na língua. “Eu buscava refletir no texto o que estava acontecendo em mim”, explica. “Há discursos que tentam nos reduzir, mas a vida é expansão. Entre Porto Alegre e Manaus há tantas possibilidades, digressões da língua portuguesa... por que vou escrever autocarro se estou no Rio de Janeiro escrevendo sobre esse contexto?”, comenta Alexandra, sobre a preferência em usar a palavra ônibus.

O recente interesse de autores portugueses no Brasil e a possibilidade do surgimento de uma nova língua literária também foram tema do encontro. “Somos nós que modificamos essa história de 500 anos. Essa língua não é de todo brasileira. Não somos irmãos, mas a irmandade se constrói, cabe a nós construir essa relação. E a arte pode ser um espaço para essa troca”, acredita. A autora, que transita por histórias de ficção e não ficção, declara-se contaminada pelo Brasil. “E ainda bem”, comemora. 

A sua próxima obra, intitulada Deus Dará, terá como personagens cinco brasileiros e dois portugueses. Sobre a língua da narrativa, Alexandra afirma que “não é Brasil, nem Portugal”, mas uma língua híbrida em que ouve em sua cabeça. “Não estou fingindo que sou uma brasileira”. Questionada se busca ser menos ancorada na língua e mais universal, a autora acredita que a identidade não está pronta, mas em trânsito. “Não é um critério querer ser conhecida lá fora”, afirma. Para reforçar o argumento, Alexandra cita Nelson Rodrigues, pouco lido em Portugal, e Guimarães Rosa, pouco traduzido. “Eles vão até o fundo de si próprio, e não são menores por causa disso”.

 

[Foto: Robson Silva - fonte: www.revistalingua.com.br]

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Acompanhemos...

O conselho de Verney
Já o linguista Fernando Cristóvão acha que a oposição ao AO é uma coisa doentia e lembra que o acordo foi aprovado pela AR e ratificado
por Mário Soares em 1991. E aos que o encaram como uma concessão ao Brasil, lembra que as mudanças que se fizeram com este acordo já tinham sido reclamadas em 1746 pelo português Luís António Verney, que na obra O Verdadeiro Método de Estudar defende que os portugueses devem escrever a sua língua da mesma sorte que a pronunciam.

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