Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


30-09-2014

Nossas profundas raízes históricas : Sobre as Religiões da Lusitânia


Caro António Justo e demais correspondentes,

 

Concordo com seu comentário a respeito do texto "As raízes africanas do cristianismo latino www.30giorni.it/articoli_id_3525_l6.htm)", 

quando escreveu :

"Um texto fantástico! Dá um cheirinho da riqueza intelectual do norte de África até às invasões bárbaras. Com elas iniciou-se a primeira parte da idade média, a idade média  escura, que devido às guerrilhas com os invasores chegou a perder a memória. Seria muito importante para a África ocupar-se não só com os colonizadores da idade moderna, mas ver o significado que os invasores do século V e do século VII tiveram nestas culturas então muito desenvolvidas mas que depois perderam a própria memória. Seria importante para os intelectuais africanos valorizar a vitalidade e os saberes das sua regiões, que depois foram cerrados numa monocultura religiosa.

 

Também os europeus e os povos da América tem grandes ligações com a riqueza intelectual dos povos europeus e os do norte de África, devendo se ocupar com o passado das civilizações que estiveram/estão na Europa e até emigraram para a América. 

Assim, considero que o conhecimento sobre o legado das Religiões Lusitânias tem muito a ver com os saberes herdados e os transferidos para as Américas. O Brasil,por exemplo, tem muitas tradições que vieram dos povos antigos. Também a lusofonia para ser entendida e vivida exige este reconhecimento.

 

Partilho, a seguir , um texto que cita o estudo do legado das Religiões da Lusitânia, onde se fundamentam as raízes históricas profundas de Portugal. O estudo desse passado é de autoria de José Leite de Vasconcelos Cardoso Pereira de Melo, mais conhecido por Leite de Vasconcelos,Ucanha,1858-1941,linguista, filólogo, arqueólogo e etnógrafo português que deixou em testamento ao Museu de Arqueologia, de Lisboa,parte do seu espólio científico e literário, incluindo uma biblioteca com cerca de oito mil títulos, para além de manuscritos, correspondência, gravuras e fotografias.

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 Nossas profundas raízes históricas : Sobre as Religiões da Lusitânia

 

Por: José Manuel Garcia, historiador 

 

J. Leite de Vasconcelos, Religiões da Lusitânia na parte que principalmente se refere a Portugal.

 

As páginas densas das Religiões da Lusitânia têm uma beleza rara que advém do facto de elas nos 

fazerem penetrar lentamente no cerne das nossas mais profundas raízes históricas. O conhecimento 

de um passado tão distante como o que vai da Pré-história até ao século VII d.c. 

Constitui uma operação intelectual de difícil realização. Podemos no entanto considerar que , José Leite de Vasconcelos conseguiu construir um discurso inteligível dessas épocas nebulosas, graças a estudos 

cientificamente bem conduzidos e com amplas perspetivas interpretativas que partiram de uma 

analise e inventário sistemático que todos os testemunhos que pôde identificar. (…)

José Leite Vasconcelos (…) Depois de uma vida integralmente consagrada à ciência e mais 

concretamente ao estudo da etnografia, na história, da arqueologia, da epigrafia, da numismática, da

filologia, etc... morreu em 17 de Maio de 1941. 

O seu interesse pelo conhecimento das religiões antigas começou a patentear-se desde que publicou em 1890 no jornal Dia nr. 846, o artigo “ Deus lusitano Endovellico”, logo seguido de outro artigo “Novas inscrições de Endovellico”, publicado no nr de 30 de junho de 1890 do jornal Auróra do Cávado. Não depois traçou já um esboço sintético sobre as religiões da Lusitana, que preparou para a 10ª secção do Congresso 

Internacional dos Orientalistas que deveria ocorrer em Lisboa em 1892. (…)

A obra começou a surgir na conjuntura dos inícios da década de 90 do séc XIX que era marcada por uma profunda crise económica e política. 

José Leite Vasconcelos reflete muito bem esse ambiente, ao justificar a sua obra dizendo que: “ Quando um povo, em virtude das más cabeças dos homens que o constituem, ou de condições históricas gerais, está em decadência como o nosso, permita-se ao menos aos que amam a terra em que nasceram furtar-se, pela contemplação e 

estudo das cousas do passado, às misérias do presente: assim se evitará uma de sofrimento moral, e ao mesmo tempo se tirará do conhecimento etnológico do país, e da consciência da solidariedade em que diversos momentos históricos estão entre si, estímulo para não deixar abismar-se completamente no pântano das protérvias sociais, o que ainda resta de sentimentos puros na alma nacional.

Apesar do desânimo que estas palavras patenteiam, foi no aprofundamento dos “sentimentos puros 

na alma nacional” que ele empreendeu um imenso labor cientifico onde o rigor da análise se 

envolvia sempre num amor à pátria portuguesa que nele atinge um dos cumes mais elevados. (…)

 

José Leite Vasconcelos também que defendeu que  “ Não obstante os cruzamentos étnicos que de todos os tempos se têm operado no nosso território, devemos contar entre os nossos ascendentes os povos da Lusitânia”. (…) se o território de Portugal não concorda exatamente com a da Lusitânia, está porém compreendido no dela, que a língua que falamos é, na sua essência, mera modificação da que usavam os Luso-Romanos; que muitos dos nossos nomes de lugares atuais provêm dos nomes pré romanos; que certas feições do nosso caráter nacional se encontravam já nas tribos Lusitanas; que grande parte dos nossos costumes, superstições, lendas, isto é, da vida psicológica do povo, datam do paganismo; que bom número de das nossas povoações correspondem a antigas povoações lusitanas ou luso-romanas; que numa palavra quando estudamos por miúdo, qualquer elemento tradicional da nossa sociedade, nos achamos constantemente em estreita relação com o passado ainda mesmo com o mais remoto”.

Com uma frontalidade, vigor e clareza que lhe eram características, J Leite Vasconcelos rebate pontualmente a fundamentação de Herculano de que Portugal “ é uma nação inteiramente moderna” porque, 

segundo ele “Tudo falta; a conveniência de limites territoriais, a identidade de raça, a filiação de

língua, para estabelecermos uma transição natural entre esses povos bárbaros e nós.”.

È na contextura desta problemática que surge a obra que mais apreciava e na qual tinha gasto, 

segundo dizia, “nos melhores anos” da sua vida – As religiões da Lusitânia. Amadurecido ao longo 

de 16 anos, o 3º volume ficou pronto em 1913 marcando o fim de um empreendimento cultural dos

mais monumentais levados a cabo pela história portuguesa. 

O ambiente cientifico português então existente, imbuído de positivismo, favoreceu o justo êxito da 

obra que vinha culminar e sistematizar tudo o que se tinha anunciado anteriormente.

 

Reler as Religiões

O uso fruto das informações e perspetivas de Vasconcelos, combinadas com novas informações e 

novas problemáticas, poderão um dia permitir a redação de uma História da Lusitânia, que José 

Leite Vasconcelos sonhou realizar mas não pode materializar. A importância que atribuía ao 

conhecimento desses tempos recuados era enorme, pois entendia que um português: “ não se pode 

(…) deixar também de se interessar pela Lusitânia visto que dela descende, e a ela se acha 

vinculado por laços de toda a ordem.” Daí a expressão do seu empenhamento científico que soube 

traduzir de forma tão incisiva ao defender que: “Quando mais intenso for o conhecimento da 

História, tanto mais firme será a consciência da nacionalidade”.

O conjunto do seus estudos avulta entre os daqueles que também se esforçaram, utilizando 

perspetivas diferentes , por Compreender/Explicar a formação de Portugal e dos quais poderíamos 

destacar, entre outros, os nomes de Alexandre Herculano, Oliveira Martins, Teófilo Braga, Alberto 

Sampaio, Gama Barros, Mendes Correia, Jaime Cortesão, Vergílio Correia, Damião Peres, Paulo 

Mereia, Amorim Girão, Orlando Ribeiro, Torquato de Sousa Soares e José Mattoso.

(…)

 

 

leia mais em 

http://accaopopularlibertaria.files.wordpress.com/2013/04/religic3b5es-da-lusitc3a2nia.pdf