Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


18-06-2015

JOVENS MACAENSES UNIDOS PARA “REENCONTRAR RAÍZES” E CRIAR AMIZADES


18 JUN, 2015

Começou ontem o III Encontro de Jovens Macaenses que une representantes de 10 Casas de Macau em todo o mundo. O presidente da Associação dos Jovens Macaenses pretende dar-lhes “um cheirinho” do que o território tem para oferecer. Já os visitantes querem aproveitar a semana na RAEM para reencontrar as suas raízes, aprender sobre a cultura dos pais e criar novas amizades

 

Inês Almeida

 

Confiante no sucesso do encontro que une representantes de 10 Casas de Macau, o presidente da Associação dos Jovens Macaenses (AJM) espera dar a conhecer o território afastando a ideia de que é “apenas uma capital de jogo”.

“Nós esperamos poder dar uma oportunidade para que conheçam melhor o que Macau tem para oferecer, não só o que se vê de imediato, mas outras áreas interessantes como a cultura e até a natureza que Macau tem e nunca ninguém fala”, sublinhou Duarte Alves, acrescentando que frequentemente se ouve falar dos casinos no COTAI, sem que nunca sejam mencionadas as “paisagens fantásticas” ou os “trilhos” pedonais.

De acordo com o presidente da AJM, cerca de 85% dos 41 jovens que aderiram ao encontro visitam a RAEM pela primeira vez e não conhecem outros membros de Casas de Macau no mundo, pelo que esta “é a primeira oportunidade para criar laços de amizade que irão durar certamente longos anos”.

A Casa de Macau em São Paulo foi uma das que não marcou presença por ser maioritariamente constituída por estudantes que se encontram em época de exames. Do Brasil vieram, então, representantes do Rio de Janeiro, que se juntaram aos jovens de países como Estados Unidos, Canadá, Austrália e Portugal.

Duarte Alves traçou como objectivo da visita dos macaenses vindos do exterior dar a conhecer “o que Macau realmente é”, ainda que tal seja “difícil” de concretizar no tempo que têm.

Com o propósito de mostrar a cidade, em vez do “tradicional passeio turístico”, a AJM organizou, em colaboração com a Associação de Orientação de Macau, uma competição com a duração de uma hora e meia. “Os nossos amigos vão andar à volta do Centro Histórico de Macau a tentar completar vários desafios e no final quem tiver mais prémios recebe um prémio simbólico”, explicou Duarte Alves, sublinhando que esta “é uma maneira mais interessante de conhecer a cidade e ficar com boas memórias do que fizeram cá em Macau”.

Para além disso, “em conjunto com associações locais quisemos criar actividades que, como se diz na gíria, dessem um cheirinho, do que realmente temos em Macau”, explicou o presidente da AJM, frisando que o foco será a divulgação das três culturas mais dominantes no território: a chinesa, a portuguesa e a macaense.

A cultura chinesa será representada pela Associação de Barcos Dragão, que, em época de regatas, vai permitir que os jovens experimentem a actividade, para além de assistirem às corridas. “Num dia vamos assistir e, no dia seguinte, eles terão oportunidade de experimentar e de ver realmente o que é”.

Para dar a conhecer a cultura portuguesa no território, será organizado um workshop de folclore, “uma actividade muito popular nas outras regiões da China e vista como uma das referências” a nível mundial.

Já a cultura macaense será demonstrada pelo que de “mais importante” tem: a gastronomia. “Vamos ter um workshop para aprenderem algumas receitas macaenses e, ao mesmo tempo que se aprende a cozinhar, vai-se aprendendo umas coisas em patuá”.

 

Entusiasmados com a gastronomia

Quer aqueles que já visitaram o território quer os que chegam a Macau pela primeira vez têm uma vontade comum, para além de ficarem a conhecer a sua herança cultural: ter a oportunidade de comer iguarias macaenses.

Anamaria Judee Puska

Anamaria Judee Puska veio de São Francisco, no Estado norte-americano da Califórnia. Nunca tinha vindo ao território onde espera aprender mais sobre a cultura dos seus pais. “Eu vim para aprender mais sobre a cultura, para visitar o local onde nasceram os meus pais, fazer novos amigos e provar muita comida macaense. Estou muito entusiasmada”, contou ao JORNAL TRIBUNA DE MACAU.

Ainda que tenha crescido a ouvir falar sobre a RAEM, Hong Kong e as respectivas tradições, admitiu nunca ter pensado como seria Macau. Do que teve oportunidade de ver desde o momento em que chegou, disse ter sido “uma boa surpresa”.

Kemal Erzincanli

Tendo estado no território pela última vez há quatro anos, Kemal Erzincanli vê o encontro como “uma forma de voltar a entrar em contacto” com as suas raízes e cultura, algo que, nas “actividades do dia-a-dia” em Vancouver, no Canadá, não tem oportunidade de fazer.

A gastronomia, sobretudo, o minchi, é o que lhe deixa mais saudades quando está no país onde vive já que, ainda que por vezes a família cozinhe a iguaria, “nunca é o mesmo”.

Regressar a Macau é óptimo por dois motivos. “Por um lado, vemos como Macau mudou ao longo do tempo, por outro, é uma forma de regressar ao passado”, explicou, mencionando ainda como ponto positivo a possibilidade de conviver “com pessoas que vivem em várias partes do mundo”.

Gil Manhão

Gil Manhão esteve três anos sem visitar o território e também notou muitas mudanças. Porém, explicou, as maiores alterações deram-se quando esteve 12 anos sem visitar Macau, entre 2000 e 2012. “Aí notei muitas mudanças, muitos casinos, muita vida noturna e isso é uma coisa boa, mas é preciso haver um equilíbrio”.

Diz sentir falta sobretudo da comida macaense, especialmente o minchi, para além da “cultura diferente” do território. “Eu cresci com o meu pai e o meu avô a explicarem-me esta cultura onde o Ocidente se funde com o Oriente e como isso não se encontra em mais lado nenhum”.

Em São Francisco, onde vive, a sua herança macaense já originou várias peripécias. “Às vezes é uma loucura, porque o meu pai e os meus avós nasceram cá. Há dias em que vamos jantar fora e eles falam em cantonês, em português, em inglês e às vezes misturam tudo. As pessoas costumam abordar-nos para perguntar em que línguas estamos a falar. É engraçado”.

Embora considere que “Macau tem capacidade para crescer muito fora do mercado asiático”, Gil Manhão afirma que “muitas pessoas [nos Estados Unidos] não sabem o que é ou onde é Macau”.

 

Iniciativas culturais

para divulgar Macau

Jéssica Xavier

Jéssica Xavier visitou a RAEM em 2007, por ocasião do I Encontro de Jovens Macaenses. No entanto, não teve oportunidade de visitar grande parte do território. “Da última vez que cá estive fiquei doente, por isso, não consegui fazer muita coisa que queria. Não cheguei a ir à Torre de Macau, ao Templo de A-Má. Há muitos lugares que não consegui visitar”, explicou. Face à sua última estadia, nota, “há muito mais casinos e mais construção. Há casinos em todo o lado”.

A jovem vê o III Encontro de Jovens Macaenses como uma forma de ficar a conhecer a sua própria cultura. “Há tanta gente que emigrou que não conhece Macau, não sabe o que significa ser macaense e há emigrantes de segunda geração que nunca cá estiveram então nem conhecem a cultura. É bom aprendermos sobre as nossas raízes e a nossa história”.

Enquanto uma das directoras do “Lusitano Club of California” ajudou a fundar na área de São Francisco “uma espécie de centro cultural de Macau”, onde organiza eventos para unir a comunidade. “Organizamos, por exemplo, piqueniques para juntar todas as famílias, comemoramos o ano novo chinês com comida tradicional chinesa e macaense, como minchi ou feijoada”.

Durante esta visita espera “interagir com outras Casas de Macau para perceber o que eles fazem e perceber o que sabem sobre a cultura”, para além de voltar a provar a comida macaense e visitar família que só vê “talvez a cada 10 anos”.

Tal como Gil Manhão, Jéssica Xavier acredita que “californianos americanos não sabem onde Macau é. Tem que se lhes explicar e às vezes perguntam-me porque tenho um apelido espanhol. Tem que se explicar o que é Macau e contar a história de ser uma antiga colónia portuguesa, porque eles não sabem”.

Iana D’assumpção Vital

A representar o Brasil veio até à RAEM a Casa de Macau no Rio de Janeiro. A presidente, Iana D’assumpção Vital, diz sentir-se “em casa” de cada vez que visita Macau, “até mais do que no Brasil”.

“Gosto do ambiente aqui de Macau. O Rio de Janeiro é uma cidade muito grande, aqui sinto-me mais acolhida, mais em casa. Sinto falta deste ambiente mais familiar”, contou.

Iana D’assumpção Vital considera o encontro importante pois “às vezes é o primeiro contacto que um macaense tem com Macau. Algumas pessoas são filhos ou netos de macaenses mas nunca estiveram cá e quando vêm têm a oportunidade de absorver tudo o que há aqui”.

Além disso, sublinhou, a iniciativa é útil “para dar uma visão diferente ao jovens e para das valor à Casa, já que podemos ver o que é feito noutro lugares que possa ser feito no Rio de Janeiro também”.

Estando à frente dos comandos de uma Casa de Macau cuja direção tem apenas membros com idade inferior a 40 anos, Iana D’assumpção Vital considera que uma liderança mais jovem deve ser promovida em todas as Casas, sob pena destas se extinguirem. “As Casas foram fundadas por sócios mais idosos e a maioria já está a falecer. Se não começarem a passar a direcção e os projectos para os mais novos, a probabilidade de a Casa acabar é muito grande”, explicou, referindo que foi esse o motivo que precedeu a sua candidatura.

Assumindo que por vezes são cometidos erros, ter uma direcção composta quase exclusivamente por jovens tem por objectivo “tornar a Casa mais dinâmica” bem como “tentar trazer mais jovens para a Casa, porque ela tem muito poucos membros e, se assim não for, pode acabar”.

Na qualidade de presidente da Casa de Macau no Rio de Janeiro, apostou nos eventos culturais para a divulgação de Macau, como apresentações em PowerPoint e “fazer perguntas às pessoas sobre cultura geral de Macau, que às vezes os mais novos não sabem e os mais velhos já esqueceram e vale a pena relembrar”. São também divulgados todos os festivais e celebrações que decorrem em Macau, bem como organizados cursos de culinária macaense.

O III Encontro de Jovens Macaenses continua hoje com uma visita ao Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM, à Casa do Mandarim e ao Museu Marítimo, um almoço, uma sessão fotográfica de grupo junto às Ruínas de São Paulo e um jantar para assinalar a cerimónia de abertura no JW Marriott Macau.

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