Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


21-03-2013

A Emigração Florentina - Eduarda Fagundes



Eduarda Fagundes

 

Desde a sua ocupação o arquipélago dos Açores foi terra de emigrantes. A constituição vulcânica, sujeita a periódicos desastres naturais, e a distante posição geográfica e politicamente periférica,  em relação à metrópole portuguesa,  favoreceram à debanda dos habitantes mais carentes toda a vez que surgia uma urgente situação de sobrevivência.

Se o Brasil foi o foco nas busca dos ilhéus para a emigração desde o século XVI, a partir da segunda metade do século XIX a America do Norte tornou-se a preferência. Para isso influenciaram a proximidade geográfica, a baleação luso-americana, e as histórias bem sucedidas daqueles que para lá foram tentar uma vida com melhores perspectivas de conforto e desenvolvimento.

 

Foi em 1765 que começaram a surgir nas águas das Ilhas das Flores e Corvo os barcos baleeiros da então Colônia Britânica da América. Em tempos certos,  chegavam à caça da baleia ( cachalotes) para a extração do óleo, âmbar e espermacete, produtos altamente valorizados naquele tempo. Meses passados no mar, era nos longínquos ancoradouros açorianos das Flores e da Horta ( Faial) que os baleeiros encontravam refresco, gêneros alimentícios e gente.  Herman Melville em 1851 no seu mundialmente conhecido livro, Moby Dick, escreveu que os baleeiros procedentes dos Açores traziam entroncados campesinos que completavam a tripulação como marinheiros e trancadores de baleias.

 

 Para os florentinos ( naturais da Ilha das Flores), por mais de um século,  os barcos da baleação foram o meio de transporte mais utilizado na fuga para as terras idealizadas da América. Apesar da preocupação das autoridades do reino em conter e reprimir a evasão de jovens em idade produtiva, através de patrulhas marítimas, as fugas continuavam de forma ininterrupta.  Embora sem estadistas oficiais, sabe-se através de jornais da época que entre 1864 e 1920 saíram das Flores quase dez mil pessoas ( das ilhas açorianas), a maioria clandestinamente, com a escandalosa inobservância,  e até anuência, das autoridades locais que faziam vista grossa, mediante pagamento. Eram jovens que vinham de outras ilhas para as Flores, onde sabiam que encontrariam facilidade em embarcar em navios que os levariam para Boston ou New Bedford, destino preferido pelos ilhéus. Provincetown, Nantucket, New Bedford, Boston, Califórnia, Nevada,  era terra de açorianos na America. De nada serviram as canhoneiras que fiscalizavam as águas florentinas e os sermões encomendados dos padres, que falavam das agruras e sofrimentos daqueles que emigravam  para terras estranhas. O som tonante das "águias americanas"( moedas de ouro de 20 dólares)que chegavam com os retornados e a aversão ao serviço militar em terras distantes tropicais, para defender um espaço que nada lhes dizia, falavam mais alto ao ilhéu.

Com os anos, tantos foram os emigrados e tão estreita se tornou a relação com a América baleeira, que pelo menos dois florentinos, Manuel Borges de Freitas Henriques e Manuel José de Avelar adquiriram embarcações ( Kate Williams e Pimpão, respectivamente) destinadas às ligações marítima entre a Ilha e a América.  

 

Quando o petróleo descoberto no século XX  sobrepujou em importância econômica o óleo de baleia, o que havia sobrado da frota baleeira americana estava em mãos de açorianos ou de seus descendentes. ANTONIO INÁCIO BIXO, ANTONIO TEODORO ARMAS, ANTONIO CAETANO CORVELO, HENRY CLAY ( ou AQUILIA RODRIGUES), WILLIAN F.JOSEPH, FRANCISCO AUGUSTO, NICHOLAS RODRIGUES VIEIRA, JOHN VIEIRA, JOSEPH A. VIEIRA, ANTONIO JOSE DE FREITAS, JOSEPH THOMAS EDWARDS, e outros mais foram capitães,  pela experiência adquirida  na labuta de anos em águas do Pacifico e do Atlântico, que  levaram a saga florentina baleeira em terras luso-americanas.

 

 Nos Açores e na América a vida do ilhéu se alterou. A linguagem, o comportamento social e a cultura açoriana sofreram influencia de americanismos. O trabalho passou a ser facilitado pelo emprego de instrumentos e utensílios importados. Trouxeram o rádio, as impressoras tipograficas, a canoa baleeira, as caliveiras para o milho, as ideias e as biblias protestantes. O açoriano conheceu as comodidades da vida norte-americana. 

 

O distanciamento, a pouca importância e visibilidade da metrópole portuguesa em relação ao ilhéu, a proximidade e relacionamento histórico com a América tornaram em geral, até hoje, o açoriano um americanófilo e, para outros, simpatizantes da pouco viável independência.

 

Maria Eduarda Fagundes.

Uberaba, 19/02/13

 

Compilação de dados do livro de Francisco Antônio Nunes Pimentel Gomes, " A Ilha das Flores:

da redescoberta à atualidade

( Subsídios para a sua História) "

 

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