Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


21-03-2013

Carta do padre José de Anchieta para os Irmãos da Ordem dos Jesuítas registro de Eduarda Fagundes


Trecho de uma carta do padre José de Anchieta para os Irmãos da Ordem dos Jesuítas

Registro de Eduarda Fagundes 

 Neste tempo em que estive em Piratininga, servi de médico e barbeiro curando e sangrando a muitos daqueles índios dos quais viveram alguns de que se não esperava vida, por serem mortos muitos daquelas enfermidades. Agora estou aqui em São Vicente, que vim com nosso padre Manuel de Nóbrega para despachar estas cartas. Demais disso, tenho aprendido um ofício que me ensinou a necessidade, que é fazer alpercatas, e sou já bom mestre e tenho feitas aos Irmãos, porque se não pode andar por cá com sapatos de couro pelos montes.

Isto tudo é pouco, pera o que Nosso Senhor vos mostrará, quando cá virdes. Quanto à língua, estou adiantado, ainda que mui pouco, pera o que soubera, se me não ocupara em ler gramática; todavia tenho coligido toda a maneira dela por arte, e para mim tenho entendido quase todo o seu modo; não o ponho em arte, porque não há cá a quem aproveite; só eu me aproveito dela e aproveitar-se-ão os que de lá vierem e souberem a gramática.

Finalmente, caríssimos Irmãos, sei dizer que, se o padre Mirão quiser mandar a todos os que andais opilados e meio doentes, a terra é mui boa e ficareis sãos. As medicinas são trabalhos e tão melhores quanto mais conformes a Cristo.

 

Uberaba, 18/03/13

Maria Eduarda