Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


01-03-2015

Autor Angolano Zetho Cunha Gonçalves


Zetho

Livros disponíveis:

Rio Sem Margem

Rio Sem Margem II

Terra: Sortilégios

ZETHO CUNHA GONÇALVES nasceu na cidade do Huambo, em Angola, a 1 de Julho de 1960. Passou a infância e adolescência no Cutato (pequena povoação da Província do Kuando-Kubango, a que chama a sua “pátria inaugural da Poesia”).

Estudou no Colégio Alexandre Herculano, na cidade do Huambo, e Agronomia na extinta Escola de Regentes Agrícolas de Santarém, em Portugal.

Poeta, autor de literatura infanto-juvenil, antologiador, tradutor de poesia e organizador de edições, exerceu várias profissões: de tratador de gado numa fazenda a empregado de escritório, de vendedor de publicidade e publicitário a director adjunto de um jornal de turismo, de empregado de mesa em restaurantes e pesquisador de notícias para uma empresa da especialidade a intermediário e conselheiro de bibliófilos.

Tem colaboração dispersa por jornais e revistas de Angola, Brasil, Espanha, Moçambique e Portugal, e tem participado em vários colóquios e encontros literários, sobretudo no Brasil.

Está representado nas seguintes antologias ou livros-catálogos: Vozes poéticas da lusofonia, de Luís Carlos Patraquim, 1999; Sonhos d’agora e também d’outros tempos, de Roberto Chichorro, 2009; Divina música: Antologia de poesia sobre música, de Amadeu Baptista, 2009; Coletânea Prémio OFF FLIP de Literatura 2009, de Ovídio Poli Junior [Organização], 2010; Histórias pintadas de azul, de Roberto Chichorro, 2010; Conversas de Homens no conto angolano. Breve antologia (1980-2010), de António Quino, 2011.

Vive atualmente em Lisboa, dedicando-se inteiramente à literatura.

OBRAS DO AUTOR

 

POESIA

Exercício de escrita, 1979; Coração limite/Sobre a sombra do corpo, 1981; A construção do prazer/Reportagem do silêncio, 1981; O incêndio do fogo, 1983; O outro mapa da Terra, ed. manuscrita, exemplar único, 1997; O voo da serpente, ed. manuscrita, 12 exemplares, com 4 desenhos originais do autor, 1998; A palavra exuberante, 2004; Sortilégios da Terra: Canto de narração e exemplo, 2007; Rio sem margem: Poesia da tradição oral, 2011; Terra: Sortilégios, 2013.

 

LITERATURA INFANTO-JUVENIL

Debaixo do arco-íris não passa ninguém (poemas), com ilustrações de Roberto Chichorro [edição brasileira], 2006; A caçada real (teatro), com ilustrações de Roberto Chichorro, 2007; [edição brasileira], 2011; Brincando, brincando, não tem macaco troglodita (poemas), com ilustrações de Roberto Chichorro [edição brasileira], 2011.

 

TRADUÇÃO DE POESIA

O desejo é uma água, de Antonio Carvajal, com ilustrações de Antonio Jimenez, 1998.

 

ORGANIZAÇÃO DE EDIÇÕES

Corpo visível, de Mário Cesariny, com ilustrações de Pedro Oom, 1996; Obra poética, de Luís Pignatelli, 1999;Uma rosa na tromba de um elefante, de António José Forte, com Desenhos de Aldina, 2.ª ed., 2001; Uma faca nos dentes (Obra Poética Completa), de António José Forte, com Prefácio de Herberto Helder e Desenhos de Aldina, 2003; Breve história da mulher e outros escritos, de Natália Correia, com Prefácio de Maria Teresa Horta, 2003; A estrela de cada um, de Natália Correia, 2004; Entrevistas a Natália Correia, de Antónia de Sousa, Bruno da Ponte, Dórdio Guimarães e Edite Soeiro, 2004; Contos Inéditos e Crónicas de Viagem, de Natália Correia, 2005; Os Brasileiros, de Eça de Queiroz (em colaboração com Eduardo Coelho) [edição brasileira], 2008; Contos, fábulas & outras ficções, de Fernando Pessoa, 2008; [Tradução italiana de Virgina Caporalli, com o título La vita non basta. Racconti, favole e altre prose fantastiche, 2010]; Impia scripta, de Luís Carlos Patraquim, 2011. O senhor Freud nunca foi a África, de Luís Carlos Patraquim, no prelo.

 

ANTOLOGIAS

35 Poemas para 35 anos de independência, 2010; Antologia do conto africano de língua portuguesa [edição brasileira], no prelo; Antologia do conto angolano (em colaboração com João Melo), no prelo; Antologia da poesia angolana: 1849-2009 (em colaboração com Rosário Fernandes), no prelo; Poesia africana de língua portuguesa(em colaboração com Luís Carlos Patraquim), a publicar.

Zetho Cunha Gonçalves (amadeubaptista.blogspot.pt/2014/07/zetho-cunha-goncalves.html)

 

Zetho Cunha Gonçalves, poeta convidado

 

 

 

DOIS POEMAS

 

 

 

A OITAVA LUA NOVA

                          À Glaura Cardoso

A flor do imbondeiro
cai
     do coração de um pássaro – esta
é a Noite que desmembra o Tempo,
selando seus astros, removendo
a escuridão na escuridão,
açoitando
o latir dolente dos cães − e à roda,
o silêncio dos leopardos.

A Noite é a única realidade,
desde os ancestrais: quanto mais negra,
mais verdadeira.
                        E eis que chega
a oitava Lua Nova, a Lua
dos ventos e da doença.

As magras águas dos rios
dementam os peixes, que sufocam
pela ausência da sua bússola lunar.

E loucos − loucos
de eternidade,
dançam os pés do vento sobre o mundo.

Por um tremor de céu,
os meus olhos inflamam como relâmpagos
a fulminar
sob as pálpebras. É o fim
da estação do cacimbo: as febres
estuporando os corpos, a Terra
submersa
por um tapete de cinzas
e árvores calcinadas.

Do coração de um pássaro
cai
     a flor do imbondeiro.

(In: Noite Vertical, no prelo)

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FALAM, CONVERSAM O MUNDO
                          Para Arnaldo Santos
                          e José Luandino Vieira

Falam,
conversam o mundo.
E do segredo mínimo
das águas – correndo,
ascende o brilho
do ouro submerso.

Estão sentados no fogo antigo
da Terra – escavam,
retiram as palavras
do seu estado larvar,
atam seus cordões umbilicais a ventres
inaugurais e púberes:
− A palavra,
dizem: procura-a
na concha do ouvido.
Que ela cante – expedita e natural.

Estão sentados no fogo antigo
da Terra – a voz é o seu poder
e bordão:
caligrafia aérea e cantante
insculpida no sangue e sua dança
− batendo, fluindo, sustentando
a escultural melodia da Terra:
de geração em geração: o mundo,
nosso – canto,
poema.

E que a palavra seja –
modelando-se por águas noctívagas,
iluminadas,
ao rés do vento: epopeia breve
− que o tempo alonga,
acrescenta,
rememora – a voz.
E estas mãos:
sua inumerável herança.

(In: Noite Vertical, no prelo)

 

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