Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


22-11-2014

Otto L. Winck: Minha pesquisa me descortinou de maneira especial a importância d


Otto L. Winck: «Minha pesquisa me descortinou de maneira especial a importância da língua galego-portuguesa na construção de nossas identidades lusófonas»
A tese de doutoramento do escritor e professor brasileiro analisa a identidade galega

 

PGL - Otto Leopoldo Winck é Doutor em Estudos Literários pela Universidade Federal do Paraná, escritor, autor do romance Jaboc (Prêmio Nacional de Academia de Letras da Bahia, 2005). A sua tese, «Minha Pátria é minha Língua: construção da identidade e sistema literário na Galiza», defendida recentemente em Curitiba, debruça-se sobre a "célula matricial da lusofonia", com uma profundidade e compreensão que nunca antes se tinha dado no Brasil nem talvez em parte alguma.

O autor debruça-se sobre duas narrativas ficcionais que tem como tema a procura/descoberta da identidade:Arredor de si, de Otero Pedrayo, e Periferias, de Carlos Quiroga. Acrescenta ainda ao corpus um relato de viagens do brasileiro filho de galegos Renard Pêrez,Chão galego, que completa com um olhar exterior a abordagem do problema identitário galego.

O estudo apresenta um intenso recuo hitoriográfico e teórico para chegar a um enquadramento exequível da prosa de ficção do século XX, onde justamente se (re)avivam o interesse e a necessidade, na Galiza, pela sua re/construção identitária, e onde se vai realizar a análise central. No trabalho entra-se na discussão do conceito nação, examina-se a História da Galiza entre Espanha e Portugal, percorre-se o "despertar de uma consciência" galega no seu decorrer histórico, coloca-se um olhar mais do que de través sobre a Literatura Galega na sua estrutura sistémica, para chegar às análises literárias e à observação fundada das estratégias de construção da identidade no e do sistema literário galego.

PGL: Que leva a um escritor e professor brasileiro a debruçar-se sobre a literatura galega e sobre a Galiza?

Otto Winck: Quando concluía minha dissertação de mestrado, que foi uma análise narratológica do escritor paranaense Jamil Snege, eu já procurava um tema para o meu doutorado. Como eu fizera uma pesquisa de análise estritamente interna, preocupada em localizar e descrever os elementos da narrativa da obra de Snege, eu queria agora algo mais “externo”, um estudo histórico, ao mesmo tempo próximo e distante da minha realidade. E acabei dando na Galiza, um outro país, com uma história bimilenar bastante diferente da do Brasil, mas que ao mesmo tempo ostenta muitos laços de afinidade com o nosso, não somente pela língua, mas também por uma experiência em alguns aspetos similar de colonialismo.

Como se sabe, o Brasil teve de “inventar” sua identidade em primeiro lugar contra Portugal, mas depois e mesmo hoje contra toda forma de dependência econômica e cultural em relação às potências europeias primeiramente e num segundo momento aos Estados Unidos. Em todo país submetido a alguma espécie de colonização, formal ou não, direta ou indireta, cria-se uma elite que se beneficia desse estado, uma elite predatória, aliada ao opressor externo, “fração dominada da classe dominante”, para falar como Pierre Bourdieu.

Para esta elite é necessário cultivar uma imagem negativa do país para justificar seu estado de dependência e subdesenvolvimento. Na Galiza este sentimento é chamado de auto-ódio. No Brasil, complexo de vira-lata (isto é, cão sem raça, sem pedigree). Neste processo aparecem o desprestígio da língua na Galiza e de determinadas características nacionais no Brasil. Claro que isso eu só percebi depois, quando a pesquisa já estava adiantada.

Enfim, eu descobri muitos e surpreendentes pontos de contato entre essas duas nações atlânticas. Sem falar a língua que nos une, que é um dos elementos centrais da construção de nossas identidades. O brasileiro fala e pensa com a língua que nasceu aí, na antiga Gallaecia romana, língua que depois se tornou a língua do novo reino de Portugal, de quem tomou o nome emprestado. Claro que a língua, ao longo desse tempo, recebeu uma série de contribuições – mas basicamente é a mesma língua. Creio que este é o principal patrimônio cultural da Galiza, e deve ser defendido ardorosamente.

divulgado também no coloquioslusofonia.blogspot.com.es/2012/07/otto-l-winck-lingua-galega-identidade.html

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