Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


05-04-2003

ELOS QUE AQUECEM O CORAÇÃO Nádia Chaia


 

Oceanário de Lisboa – uma viagem ao fundo do mar

Quando desembarcamos em Lisboa estava amanhecendo, o dia começava a clarear e eu carregava comigo um misto de sentimentos: a emoção de pela primeira vez pisar a terra ancestral; a curiosidade pelo desconhecido; a incerteza quanto a o que e quem encontrar; a vontade conhecer pessoalmente amigos virtuais e transforma-los em amigos reais; enfim, toda aquela mistura de sensações de quem vai a um lugar onde tudo ou quase tudo lhe é estranho.

Conforme o táxi que nos levou do aeroporto à pensão ia se aproximando do centro mais confiantes e à vontade fomos ficando. Começamos a sentir-nos em casa, reconhecendo semelhanças enormes com o Rio antigo e mesmo Niterói (que é onde moro) da minha infância e adolescência. Muitos dos prédios daqui (infelizmente a maior parte já demolidos) eram quase que cópias fiéis dos de lá.

Hospedamo-nos em uma pensão muito simples, porém limpa e aconchegante e, o que é melhor, extremamente bem localizada, a Beira Minho na Praça da Figueira, uma espécie de centro nervoso, onde tudo acontece: manifestações; shows; lançamentos de novos modelos de automóveis; a reunião, no final da tarde, das mais diversas etnias africanas; ponto de partida de condução para todo lado, do bonde (lá elétrico) ao Metro.

Dispensamos as excursões e os passeios guiados disponíveis nos hotéis. Seguindo algumas indicações que já levamos daqui e contando com a preciosa orientação da Mizé (filha da Margarida), resolvemos que andaríamos por nossa conta, especialmente a pé, que é quando se mantém um maior contato com as pessoas, com os costumes, e tem-se a liberdade de parar para observar o que quer que chame a atenção, sem ter que obedecer a um horário previamente estabelecido. Assim foi feito. Encantou-me a paz, a tranqüilidade com que se anda pelas ruas, mesmo na madrugada, sem medo de uma bala perdida, sem ouvir um tiroteio. Quando o funcionário da pensão veio alertar-me para o perigo nas ruas e conduções eu perguntei: - que perigo? Ele muito sério respondeu: - Os carteiristas, cheguei a ter vontade de rir. Agradeci pensando: quem me dera que as situações de risco a que somos expostos todos os dias fossem, simplesmente, depararmo-nos com punguistas...

Visitamos museus, antiquários, exposições, igrejas, planetário, os mais diversos pontos turísticos em Lisboa e fora dela e, em todo canto, se via beleza, se respirava história, tradição, respeito aos costumes. Mas, o mais importante para mim foi o contato direto com as pessoas, conversar sem compromisso, trocar impressões, dar e receber informações, procurar conhecer o dia-a-dia, observar.

Nos fins de semana tem-se a impressão de que Lisboa é a capital do mundo.As pensões ficam lotadas de turistas de todas as partes, franceses, alemães, espanhóis, italianos, ingleses, japoneses, etc. Escutam-se, nas ruas, as mais diversas línguas, parece uma Babel.

Conversando com as pessoas, fiquei sabendo que também lá o desemprego está muito grande. Achei o custo de vida muito alto, mesmo esquecendo o real e raciocinando em euro. Uma coisa que observei, e achei bastante preocupante, é a enorme quantidade de pedintes em toda parte, especialmente imigrante do leste europeu. Se alguma coisa não for feita rápido, a exemplo do que aconteceu aqui no Brasil, a falta de perspectiva de vida nas pessoas pode provocar um estado de violência que, felizmente, ainda é desconhecido.

Uma das boas coisas do Elos são as amizades virtuais que fazemos, mas quando os conhecemos pessoalmente e encontramos as pessoas maravilhosas que encontrei, estas passam a ser os elos que aquecem o coração. Alfredo Louro, Luís Carlos dos Santos e José Seara Matias, três pessoas muito mais do que especiais, são elos, de atenção, carinho, beleza de alma, sensibilidade, e acho que ainda ficaria muito tempo aqui enumerando as coisas boas que passaram. Além deles tive, através das artes da Margarida, a oportunidade de conhecer duas outras pessoas muito simpáticas e inteligentes, a Mizé e a radialista Tereza Morgado.

O brasileiro, via de regra, pelo menos assim ocorreu conosco, é muitíssimo bem tratado e recebido pelos portugueses e sente pena na hora de partir. Até hoje ainda não consegui saber se trouxe Portugal dentro do peito ou se lá deixei um pedaço de meu coração.

Até um dia, Portugal. Com muito amor um dia eu volto.

Nádia Povoa Chaia Niterói Brasil