Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


30-04-2015

Os Africanos em Portugal: História e Memória (séculos XV- XXI) -Catálogo Isabel Castro Henriques


Catálogo da exposição

Autoria & Coordenação: Isabel Castro Henriques

Edição: Comité Português do Projeto UNESCO « A Rota do Escravo»

Edição: 1ª          Ano: 2011

Páginas: 79

Capa e Contracapa «O Chafariz d’El-Rey no século XVI», pintura de autor desconhecido *

Coleção Berardo , Lisboa

A exposição “Os Africanos em Portugal: História e Memória (séculos XV- XXI)
A autoria e coordenação é da Profª Isabel Castro Henriques, uma das mais proeminentes figuras da cena académica no que diz respeito aos Estudos Africanos em Portugal. O objectivo da exposição é retratar cronologicamente as relações dos africanos com Portugal desde a sua chegada aos dias de hoje. 
O continente africano e os africanos ocupam um lugar central na problemática das relações de Portugal com outros homens, outras culturas e outros mundos ao longo da História, “pela longa duração dos contactos, pela natureza das formas relacionais, pela força da sua presença no imaginário português”, citando a autora. A presença de Africanos tem sido contínua até aos dias de hoje e difere por exemplo da presença dos romanos ou dos árabes que vinham para Portugal para cumprir objectivos pessoais. Os africanos vieram como escravos (duzentos e quarenta africanos desembarcaram no porto de Lisboa da primeira vez) e só depois da abolição da escravatura no séc. XVIII, pelo Marquês de Pombal, é que lentamente se foram integrando na sociedade portuguesa.


A exposição é apresentada em vários painéis compostos por textos e fotografias relativas aos sete temas:
1-      Africanos: Uma nova mercadoria (séc. XV- XVI)
2-      Bairro do Mocambo em Lisboa
3-      A Integração dos Africanos (séc. XVI- XIX)
4-      A desumanização dos Africanos
5-      Estratégias Africanas
6-      Permanências e Mudanças (séc. XVIII- XX)
7-      Novas Dinâmicas Africanas (Depois de 1974)


O interesse da UNESCO nesta exposição vem também na sequência da extraordinária e recente descoberta feita em Lagos.  A Câmara Municipal preparava-se para construir um parque de estacionamento quando teve que acabar com as obras de uma vez por todas pois foi encontrado um cemitério- ou que seria na altura a lixeira- com 155 esqueletos de homens, mulheres e crianças africanos escravos (muitos dos esqueletos ainda se encontram com as mãos atrás das costas como se pode ver em fotografia, na exposição). 
Segundo a UNESCO, este cemitério é único na Europa  e provavelmente o mais antigo do mundo.  O Comité Português UNESCO “ A Rota do Escravo” assumiu a edição e o apoio da exposição. 
Contou também com os apoios do ACIDI (Alto Comissariado para a Integração e Diálogo Intercultural),a Fundação Calouste Gulbenkian, a FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia), a Fundação Portugal Africa, o IPAD, e a UCCLA (União da Cidades Capitais de Língua Portuguesa).

* O Chafariz d’El-Rey no século XVI, pintura de autor desconhecido, que se supõe datar de 1570-1580, e que se inscreve na linhagem da pintura da época, no Norte da Europa, centrada em cenas urbanas. Se a qualidade pictórica se releva algo medíocre, em contrapartida põe em evidência a flexibilidade da composição que permite proceder ao inventário das práticas lisboetas, inscritas num espaço limitado atrás pelas construções na velha Ribeira das Naus, sendo o primeiro plano consagrado às actividades marítimas. O quadro concentra uma multidão misturando vários grupos sociais, onde se destaca uma grande quantidade de africanos desempenhando as mais diversas tarefas, transportando água ou calhandras cheias de detritos, descarregando as embarcações acompanhando os senhores ou sendo levados bêbados para a cadeia. Mas algumas cenas são inusitadas e surpreendentes: um africano ao leme de uma pequena embarcação, enquanto o colega toca pandeireta para tornar mais doce a relação amorosa dos dois passageiros brancos; a figura de um escravo - na “pista de dança”, à esquerda- carregando uma bilha na cabeça e preso por uma corrente de ferro que liga o pescoço aos pés[] pormenor superior direito; um africano a cavalo com o hábito da Ordem de Santiago[pormenor inferior direito]; no baile, podemos ver um par dançante formado por um homem preto, aparentemente calçado, e uma mulher branca, descalça! Às janelas, as portuguesas contemplam o espetáculo, marcado pela música e pela dança. [Coleção Berardo, Fotografia:Júlio Marques].(https://museudigitalafroportugues.wordpress.com/sobre/galeria-heranca-africana-em-lisboa/lisboa-ribeirinha/lisboa-cidade-portuaria/)

___________

 

http://www.ces.uc.pt/myces/UserFiles/livros/1097_Miolo_Finalissimo%20Ultimo_Frances_4_DEZ.pdf