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Antonio Borges Sampaio


30-05-2015

Livro Cabinda – Percurso histórico de uma igreja entre Deus e César – 1975- 2014


Padre Raul Tati ataca colonialismo de Luanda

Religioso lança livro sobre a Igreja em Cabinda e critica economia de “predação”.

Por Agência Lusa.

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Rafael Tati/JAImagens

Vista geral da cidade de Cabinda[ Rafael Tati/JAImagens ]

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O padre Raul Tati, da diocese de Cabinda, acusou Angola de exercer um poder colonial sobre o enclave baseado numa economia de “predação” que não respeita os direitos humanos e a dignidade dos cidadãos.

“Em relação à questão dos direitos humanos, é preciso que se diga ao mundo que quando nos é negado o primeiro direito – que é o direito à liberdade – todos os outros direitos estão comprometidos”, disse, em entrevista à Lusa, o padre Raul Tati, que lança em Lisboa o livro Cabinda – Percurso histórico de uma igreja entre Deus e César – 1975- 2014.

O livro foi lançado em Angola em Janeiro.

“Estamos dentro de uma situação de opressão que decorre do regime colonial que está imposto em Cabinda. Não se pode falar de direitos humanos no enclave”, sublinhou o sacerdote, que denunciou mais uma vez a falta de condições de vida das populações locais, apesar da existência das riquezas naturais, como o petróleo.

“Se queremos falar de benefícios: o que podemos receber de uma economia fortemente marcada por um paradigma de predação? A gestão económica em Cabinda é uma gestão do tipo colonial. Estão ali para explorar as riquezas de Cabinda e os restos que sobram é o que fica para os servos da gleba”, disse.

Para Raul Tati, “as migalhas que deixam para Cabinda” não servem nem para dar educação digna às crianças, nem saúde, porque, enfatizou, os cabindas não usufruem das riquezas do território.

“Neste momento não digo que são os angolanos que estão a usufruir porque há uma elite em Angola que tem tudo e mais alguma coisa e há muita gente pobre em Angola que está a sofrer, que está a sobreviver com menos de dois dólares por dia. Aqui não se trata de estarmos a lançar as abelhas contra os angolanos porque em Angola também há um colonialismo doméstico”, acusou Raul Tati.

No livro sobre o papel e a história da igreja em Cabinda, o padre aborda também a questão da “invasão dos cubanos”, a instauração do que considera dominação de tipo colonial em Cabinda pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, partido no poder) a partir de 1975 e as estratégias que foram adoptadas para manter o território dentro de Angola.

“Primeiro foi a estratégia militar porque Cabinda foi ocupada militarmente e mantida em Angola (…) e a segunda estratégia foi a espoliação das riquezas de Cabinda, sobretudo o petróleo, que é a moeda que sustenta a economia angolana e que sustentou toda a guerra civil. Estes aspectos estão todos retratados no livro”, disse Raul Tati, que se mostrou muito crítico sobre o “alheamento” dos vários governos portugueses face ao problema de Cabinda.

“Quando nós estamos a estender a mão a um povo que pretende uma solução para o seu problema é preciso que se vá até às últimas consequências. Estender a mão num momento e tirar noutro momento são jogos políticos que acabam por não ajudar em nada”, acusou Raul Tati.

O enclave de Cabinda é palco desde a independência de Angola, em Novembro de 1975, de uma luta pela independência, desencadeada ao longo dos anos por diferentes facções cabindas, restando actualmente somente a FLEC de Nzita Tiago, que ainda mantinha uma resistência armada residual à administração por parte de Luanda e a que renunciou em maio de 2013 em troca de autonomia.

A FLEC defendia que Cabinda era um protectorado português, tal como ficou estabelecido no Tratado de Simulambuco, assinado em 1885.

Separada de Angola pelo rio Congo, Cabinda possui significativos recursos naturais, em que as reservas petrolíferas representam cerca de metade da produção diária de 1,8 milhões de barris de petróleo angolanas.

TAGS: CabindaFLECFrente de Libertação do Enclave de CabindaLivroProvínciasRaul Tati

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