Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


06-05-2017

Ruth Rodríguez: “emos de fazer o esforço de transmitir o galego às novas geraçõe


 

cdpRuth Rodríguez nasceu na Marinha, onde há uma erosão linguística nas falas e estudou veterinária onde, ainda que poda parecer contraditório, o galego é rara avis.

Na Nova Zelândia e na Argentina, o contacto com a comunidade brasileira permitiu-lhe respirar.

Atualmente é professora em estágio na faculdade de Veterinária, na USC.

A Liga Estudantil Galega foi determinante na sua vida e pede para o galego não continuar a perder falantes.

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Ruth nasceu numa vila da Marinha, o Valadouro. Em relação à imagem que tinhas dela em criança, que mudanças ocorreram, linguísticas ou de qualquer outro género?

Dantes absolutamente todas as crianças falávamos em galego, agora já me tem acontecido de ir e ouvir crianças a falarem em castelhano. Ainda assim tenho de reconhecer que a minha vila tem uma percentagem de falantes elevadíssima em comparação com o habitual na Galiza. Porém o que percebo quando falo destes temas com as minhas amigas é que os mais jovens já estão a perder as palavras que usavam sem problema os nossos avôs e que usamos ainda nós e as crianças já não usam.

Em que momento tomas consciência de que o galego não é um bem comum e que pode vir a desaparecer?

Quando fum embora, aos 12 anos a estudar no liceu em Foz, ali já não havia cento por cento galego-falantes coma na minha vila. Foi o momento em que me dei conta de que havia que fazer algo ou o galego ia desaparecer. Contudo, o momento mais difícil como galega que usa o galego todos os dias vivi-no quando me mudei para Lugo, sobretudo porque na minha faculdade quase não se fala galego.

O teu contacto com o reintegracionismo foi, felizmente, por via familiar. Que lembras daquela época?

A minha mãe sempre teve alguma que outra coisa em galego na normativa reintegracionista ou diretamente em Português, ela não é reintegracionista mas sempre me fez ver as duas normas com normalidade, tudo podia ser lido em galego. Tenho de dizer que o reintegracionismo já como reivindicação e mais a fundo conheci-o com o meu professor de galego, Ramón Reimunde, que me fez ver o galego duma outra forma como uma vantagem para me comunicar com o mundo da lusofonia, se calhar uma das grandes vantagens de ser galego que ainda há muitas pessoas que não conhecem.

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Ruth é professora em estágio na faculdade de Veterinária, na USC. As tuas aulas são em galego mas como é a biologia linguística da tua faculdade?

E qual a biologia linguística dos criadores de gado? Bom aqui dá-se como já comentei antes uma natureza particular, a natureza da contradição humana. Na faculdade de Veterinária o uso do castelhano é quase exclusivo, vou dar dados oficiais e julguem vocês mesmos: nos últimos cursos o uso do galego na docência do grau foi apenas por volta de 20% e no mestrado entre o 0-9% em função do ano. Imaginem a vida dum aluno galego-falante na minha faculdade. Tenho de dizer que somos até escassos também neste ponto. Há poucos alunos galegos e ainda há menos que falem galego. Pelo contrário os criadores de gado são normalmente pessoas que moram no rural e falam galego perfeitamente. Eu sempre fui da opinião de que lecionando aulas em castelhano estávamos fazendo um fraco favor aos nossos alunos que ao chegarem à vida profissional têm maus entendidos com os clientes.

Como investigadora já rumaste para a Nova Zelândia e para a Argentina. Como foi a conexão com o galego internacional nesses países?

Em qualquer dos dois países mora uma percentagem importante de imigrantes ou estudantes brasileiros. Na altura eu não estudava português e não tive nenhum problema para me comunicar com eles em galego, ainda me servia como desafogo de falar tudo o tempo em inglês e castelhano.

Ativista de várias entidades como Cultura do País ou a Liga Estudantil, que te mostra a tua experiência a respeito das melhores estratégias para que a nossa língua ganhe presença social?

Já agora, na Liga Estudantil Galega deixei de militar no ano passado quando deixei de ser representante de alunos, mas passar por esta organização foi determinante na minha vida. Em tudo caso, eu creio que temos de trabalhar muito mas que infelizmente não podemos ficar a trabalhar os ativistas sozinhos. É imprescindível a colaboração de toda a sociedade, e seria muito recomendável que do governo se trabalhasse pela nossa língua, coisa que não acontece. Depois desta perspectiva negativa, creio que para manter a língua não é novidade dizer que o futuro está neles, nas crianças, ou nos focamos em que eles conservem a língua ou não há futuro, e parte disso está em voltar a viver no rural, coisa que não é fácil no momento. Pelo de agora temos de fazer o esforço de transmitir o galego às novas gerações já que são os que têm a possibilidade de conservá-lo e são os que menos o falam. Para além disso, há que trabalhar em dar-lhe o valor que lhe corresponde mas nem só nas organizações, há que ser ativista todo o dia, no trabalho, na sociedade, …o galego tem de ser valorado como uma língua útil que serve para tudo. De facto é mesmo assim, eu posso dizer em galego tudo o que preciso para comunicar, é isto último o que faz sentido para que uma língua exista.

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