Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


26-06-2015

Mulheres portuguesas na resistência: Maria Luisa Palhinha da Costa Dias


[0463.] MARIA LUÍSA COSTA DIAS [I]

* MARIA LUÍSA PALHINHA DA COSTA DIAS *

[15/10/1916-10/05/1975]

 

 

Médica.

 

Nasceu em Coimbra a 15 de Outubro de 1916 e morreu com o marido, Pedro dos Santos Soares (1915-1975), num grave acidente de viação ocorrido a 09 de Maio de 1975.

 

Pertenceu ao Movimento de Unidade Democrática e ao Partido Comunista.

 

Em 1947, partiu em trabalho partidário com Pedro Soares para Moçambique, de onde regressou em 1950, entrando para a clandestinidade no ano seguinte.

 

Presa em 3 de Dezembro de 1953, em Palmela, recolheu ao Forte de Caxias e foi libertada a 18 de Dezembro de 1954.

 

Novamente presa com o marido em 5 de Dezembro de 1958. Torturada, saiu da prisão em 20 de Abril de 1962, depois duma campanha nacional e internacional a favor da sua libertação. Pesaria então pouco mais de 30 quilos.

 

Autora duma das treze cartas incluídas no manifesto enviado clandestinamente da Prisão de Caxias, datado de Maio de 1961, e dirigido às “organizações femininas e democráticas do mundo inteiro”, onde se fazia a denúncia das torturas e das condições em que as mulheres estavam presas:

 

“Fui julgada ao fim de dois anos de prisão preventiva e condenada a dois anos de prisão correccional e medidas de segurança. Tal condenação foi-me aplicada em contradição com as conclusões expressas pelo próprio tribunal que, tendo negado a comprovação dos factos essenciais de que era acusada pela PIDE, me condenou, agravando ainda a pena com medidas de segurança, apesar de me encontrar tão doente que tive de ser dispensada pelo tribunal de assistir ao julgamento.

O meu estado de saúde está profundamente abalado por doença grave e sem nenhum tratamento, dado que a assistência de que necessito não pode ser ministrada na prisão e é-me negado internamento hospitalar. Em Agosto de 1960 tive de ser submetida a uma intervenção cirúrgica urgente consequência daquela ausência de tratamento. As torturas psíquicas que então me foram infligidas pela PIDE, os violentíssimos choques que com ela tive de travar nas vésperas da operação e durante os escassos dias que estive hospitalizada, provocaram-me um estado de extremo depauperamento físico, um grave esgotamento nervoso que [se] mantém passado oito meses, encontrando-me ainda incapacitada de realizar qualquer actividade intelectual.

Neste estado precário de saúde foi-me aplicado, assim como a todos os outros presos da cadeia, alguns dos quais gravemente doentes, um castigo de dois meses em regime de subalimentação, cortes de visitas e de lanches.

Neste estado de saúde, de há três meses, tenho sido sujeita arbitrariamente a longos períodos de isolamento que fortemente têm abalado a minha saúde” [transcrição no Público por São José Almeida, 20/11/2004, p. 12].

 

Libertada, voltou de novo à clandestinidade.

 

Cumpriu missões na Argentina, Brasil e Chile e participou, com Cecília Areosa Feio, Maria da Piedade Morgadinho, Maria José Ribeiro e Sofia Ferreira, no Congresso Mundial de Mulheres realizado em Helsínquia (1969).

 

Integrou, depois de Abril de 1974, a delegação portuguesa à Assembleia Geral da ONU (Setembro de 1974).

 

Católica, teve funeral religioso.


Escreveu: Crianças emergem da sombra: contos de clandestinidade, Lisboa, Edições Avante!, 1982.


[JE]

 

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