Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


04-07-2015

Elogio do escritor caboverdiano Onésimo Silveira por Adelino Torres


Adelino Torres começa assim:

É para mim uma grande honra participar na homenagem ao Doutor Onésimo Silveira. Esta oportunidade dá-me justificada alegria por duas razões: pessoais e profissionais.

2No primeiro caso, porque se trata de um companheiro que encontrei pela primeira vez há cerca de cinquenta anos e que, desde então, tenho revisto a espaços, sempre com renovado prazer.

3No segundo caso, pela excepcional qualidade do homenageado, como distinto homem de letras, poeta, escritor e ensaísta, características que fazem dele um dos grandes intelectuais contemporâneos, não apenas de Cabo Verde, mas da língua portuguesa como tentarei demonstrar a seguir.

4Começando pelas razões pessoais: conheço o Doutor Onésimo Silveira desde os tempos já longínquos da Argélia, onde ambos estivemos exilados logo a seguir a este país ter conquistado a sua independência no início dos anos 1960.

5Encontrámo-nos mais tarde em Paris e, se ele se lembra ainda, no café Lutèce no bd St Michel, onde até falámos de muita coisa (mas agora sou eu quem não se lembra do resto). Vimo-nos de novo, fugazmente, em Moçambique, em 1986 se não estou em erro, quando Onésimo Silveira era Embaixador da ONU para os refugiados e eu integrava uma missão da Universidade Técnica de Lisboa junto da Universidade Eduardo Mondlane.

6Mais tarde, já nos anos 2000, os nossos caminhos cruzaram-se de novo quando Onésimo Silveira era Embaixador de Cabo Verde em Lisboa e eu fazia parte do grupo de pessoas que tiveram a sincera alegria de o receber como novo membro da Academia Internacional da Cultura Portuguesa, então presidida pelo Professor Adriano Moreira.

7Portanto, cruzámo-nos repetidamente em quatro países diferentes ao longo de 50 anos, o que é mais do que simples “coincidência”…

8É claro que a maioria desses encontros, sobretudo os últimos, se fez em situações pessoais diferentes: ele nas altas esferas da diplomacia internacional, e eu incorporado nas tropas modestas do professorado sem influência e até, confesso, feliz por não a ter.

9Também não foram simples “coincidências” esses reencontros, porque trilhámos, cada um a seu modo, caminhos com pontos comuns e objectivos similares que enumero:

  • Ideais pela libertação de África;

  • Luta contra as injustiças feitas ao continente africano;

  • Defesa, em todos os momentos (e até hoje) das ideias de liberdade, de democracia humanista;

  • Partilha do património que pertence a todos aqueles que ainda se lembram do que foi o colonialismo e que dele não têm boas recordações.

10Portanto, esses encontros, mais do que “coincidências”, resultavam sim de objectivos que no essencial convergiam, ainda que por vias distintas e níveis de participação diferentes, como já disse. Isso era válido tanto nos anos 60-70 como ainda na actualidade, mesmo se o mundo se transformou e a realidade internacional se reveste de características que exigem novas abordagens.

O grito dos versos encontra-se de novo no livro de poemas Hora Grande (1962), cuja jovem editora de vida efémera era dirigida por Ernesto Lara Filho e Inácio Rebelo de Andrade, na cidade angolana que se chamava então Nova Lisboa, hoje Huambo.

28Para acrescentar outra “coincidência” às anteriormente referidas, tanto o Ernesto Lara Filho como o Inácio Rebelo de Andrade contam-se também entre os meus companheiros. O Ernesto faleceu mais tarde, depois da independência de Angola. O Inácio continua a publicar romances com a regularidade de um relógio que domina o tempo, com a exigência e qualidade que honrariam Angola se esta desse por isso.

29Quanto à obra poética de Onésimo Silveira, o livro Hora grande foi posteriormente integrado, em 2008, num outro seu livro com o belo título Poemas do tempo de trevas, publicado no Mindelo pelo Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro.

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