Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


12-09-2007

Memória Amilcar Cabral 1924-1973


Por: Fernando Casimiro (Didinho)

didinho@sapo.pt

12.09.2007

Hoje, 12 de Setembro, se Amilcar Cabral fosse vivo, completaria 83 anos de vida.

Trago de novo à vossa consideração a mensagem do ano passado, pois continuo a achar que é importante propor Cabral à nova geração tanto na Guiné como em Cabo Verde!

De homenagens pontuais, duas vezes por ano (as datas de nascimento e do seu assassinato), se reforça a ideia de que Cabral foi esquecido pela maioria dos seus seguidores, se é que realmente de seguidores se tratam.

A herança que Cabral deixou e que importa reclamar, deve ser motivo de estudo por quem se interessa pelo pensamento humano e as suas repercussões na sociedade.

Importa passar o testemunho da responsabilidade de transmissão da sua mística às gerações intermédias que, por sua vez devem propor Cabral à nova geração, num ciclo visando a difusão dos ideais do pensador e combatente que ele foi.

Tenho ouvido muitas promessas no sentido de se relançar Cabral mas, infelizmente, não passam de promessas.

Saibamos valorizar o legado que Cabral nos deixou!

Aproveito para partilhar convosco um poema dedicado a Amilcar Cabral, da autoria de

Omarildo Luís da Silva.

 

 

Compatriota!

Como tu próprio dizes “Vamos continuar a trabalhar”, sinto que esta frase ficará para sempre na minha memória como chamamento de alguém em aflição (Guiné-Bissau) e que temos que socorrer prontamente para evitar males incontornáveis. Li com toda a atenção o artigo “Preocupações, análises e reflexões” e a única conclusão que cheguei é de que ainda temos patriotas e pessoas com dom da verdade e que desejam o bem da Guiné-Bissau e do seu povo. Amílcar Cabral lutou para construção da nossa nacionalidade, e infelizmente mataram-no no limiar da nossa independência. Mas cabe-nos a nós perpetuar o seu nome com tinta indelével na história da nossa martirizada pátria.

No dia 12 de Setembro comemora-se 83º ano de nascimento deste herói e fundador da nossa Pátria, por essa razão dedico-lhe esta poesia da minha autoria:

 

CAMARADA COMBATENTE

 

Nasceste na luta e lutaste na vida!

Viveste para a pátria e pela pátria morreste!

 

Camarada combatente

A pátria que tu libertaste,

Chora de saudades camarada,

A pátria que tu semeaste,

Recordará sempre de ti camarada!

As flores da luta que tu plantaste,

Recordarão sempre de ti camarada!

 

Camarada combatente

A luta foi a tua primavera,

E como sol brilhaste nela,

Fizeste desabrochar as flores,

Que hoje esqueceram a tua primavera,

Mas, não chora camarada!

Não chora camarada combatente,

Porque tu és combatente,

E um combatente canta,

Canta para esquecer o dissabor da luta!

 

Camarada combatente

Orgulho da pátria,

Canteiro da esperança!

Descansa em paz,

Que no dia em que acordares,

Hás-de encontrar no teu chão,

A razão do teu combate!

 

OMARILDO LUIS DA SILVA

12.09.2007

Licenciado em Relações Internacionais

Colaborador da Caixa Geral de Depósitos

Direcção da Banca de Não Residentes

 

RECORDANDO AMILCAR CABRAL

"Alguns camaradas, mesmo entre os que estão sentados nesta sala, têm a tendência de procurar comodidade à medida que crescem as suas responsabilidades. Há camaradas que parece que passaram vários anos à espera de responsabilidade para poderem cometer os erros que outros cometeram no seu lugar. Temos que combater isso com coragem, porque a luta é exigência, o nosso Partido é cada dia mais exigente. E aqueles que não entenderem, temos que pô-los de lado, por mais que nos doa o coração. Nós não podemos permitir que à medida que a luta avança, que o nosso povo se sacrifica por causa da nossa luta, que vários camaradas morrem e outros são feridos, ou ficam aleijados, que nós envelhecemos nesta luta, dando toda a nossa vida para a luta, em que tanta gente tem esperança em nós, tanto dentro como fora da nossa terra — não podemos permitir que alguns camaradas militantes ou responsáveis levem uma vida de facilidades e cometam actos que não estão de acordo com a nossa responsabilidade, diante de nós mesmo, diante do nosso povo, diante da África e do mundo.


Muita gente pensa que isto aqui é o quintal do Cabral, que ele é que tem que reparar aquilo que se estragou ou que alguém estragou. Estão enganados. Cada um de nós é que tem que reparar, pegar teso para corrigir, porque senão, não há nada que nos possa salvar, quaisquer que sejam as vitórias que já alcançámos. Por isso mesmo, a nossa luta é como o balaio que separa o arroz limpo do farelo, como uma peneira que peneira a farinha pilada, para separar a farinha fina da farinha de grão grosso ou de outras coisas. A luta une, mas é ela também que separa as pessoas, a luta é que mostra quem é que tem valor e quem é que não presta. Cada camarada deve estar vigilante em relação a si mesmo, porque a luta está a fazer a selecção, a luta está a revelar-nos a todos, está a mostrar quem somos nós. "


"Fazemos força para aqueles que não prestam melhorarem, mas sabemos quem vale e quem não vale, sabemos até quem é capaz de mentir. Há alguns que ainda não conhecemos bem. Os camaradas também me conhecem, conhecem outros dirigentes do Partido que respeitamos muito, porque valem até ao fim, vocês sabem isso bem. Há outros de que alguns têm medo, porque sabem que só valem porque têm a força nas mãos. Alguns de vocês que estão aqui já viram dirigentes do Partido cometer erros graves mas obedecem-lhes ainda porque têm medo deles"

 Amilcar Cabral  em: "O nosso Partido e a  luta devem ser dirigidos pelos melhores filhos do nosso povo"

 

enviado por didinho@sapo.pt              www.didinho.org 

A vida só tem sentido se, para além de nós, outros também puderem viver... Fernando Casimiro (Didinho)

 

 

ILHA

- um poema de Amílcar Cabral - Praia, Cabo Verde, 1945 -

Tu vives — mãe adormecida —  

nua e esquecida,

seca,

fustigada pelos ventos,

ao som de músicas sem música

das águas que nos prendem…  

 

Ilha:  

teus montes e teus vales  

não sentiram passar os tempos  

e ficaram no mundo dos teus sonhos  

—os sonhos dos teus filhos  —  

a clamar aos ventos que passam,  

e às aves que voam, livres,  

as tuas ânsias!  

 

Ilha:  

colina sem fim de terra vermelha  

-- terra dura   —  

rochas escarpadas tapando os horizontes,  

mas aos quatro ventos prendendo as nossas ânsias!

 Fonte: www.vidaslusofonas.pt/amilcar_cabral.htm