Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


25-07-2015

Livro: O Meu Irmão Afonso Reis


Afonso Reis Cabral, o jovem autor da obra "O meu irmão ", está no Brasil para lançar seu livro.   Acompanhem esta revelação da literatura portuguesa.

Afonso Reis Cabral vence Prémio Leya com O Meu Irmão

LUÍS MIGUEL QUEIRÓS 

17/10/2014 - 12:41

Autor tem 24 anos e é descendente do autor de Os Maias, Eça de Queiroz.

O Meu Irmão, de Afonso Reis Cabral, é o romance vencedor do Prémio LeYa 2014, no valor de cem mil euros. O anúncio foi feito nesta sexta-feira, ao final da manhã, por Manuel Alegre, presidente do júri, que adiantou que o autor tem 24 anos e é descendente do escritor José Maria Eça de Queiroz, autor deOs Maias.

O júri, que se reuniu esta quinta e sexta-feira, incluía ainda os escritores Nuno Júdice, Pepetela e José Castello, o ensaísta José Carlos Seabra Pereira, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Lourenço do Rosário, Reitor do Instituto Superior Politécnico e Universitário de Maputo, e Rita Chaves, professora da Universidade de São Paulo.

Na conferência de imprensa de apresentação do prémio estiveram também o Presidente Executivo da LeYa, Isaías Gomes Teixeira, o director-coordenador de Edições Gerais da LeYa, e João Amaral, Secretário do Prémio LeYa. O Meu Irmão foi escolhido entre 361 originais, de autores de 14 países.

Na sua declaração, o júri observa que o livro premiado “trata de um tema delicado” e que “poderia suscitar uma visão sentimental e vulgar: a relação entre dois irmãos, um deles com síndrome de Down”. No entanto, acrescenta a nota, “a realidade é trabalhada de uma forma objectiva e com a violência que estas situações humanas podem desenvolver, dando também um retrato social que evita tomadas de decisão fáceis, obrigando a um investimento numa leitura que nos confronta com a dificuldade de um mundo impiedoso”. E há ainda no romance, diz o júri, “uma tonalidade lírica”, que surge “na relação que se estabelece entre dois deficientes e que salva, através de apontamentos de poesia e de humor, o desconforto de quem vive este problema”.

Afonso Reis Cabral nasceu em Lisboa, em 1990, e cresceu no Porto onde estudou, no Colégio dos Cedros até ao 9º ano e depois na Escola Secundária Rodrigues de Freitas. Em 2005 publicou o livro de poemas Condensação onde reúne poemas escritos entre os 10 e os 15 anos. Escreve desde os 9 anos, começou na poesia e depois experimentou a prosa. Em 2008 ficou em 8º lugar no 7th European Student Competition in Ancient Greek Language and Literature entre 3532 concorrentes de 551 escolas europeias e mexicanas, tendo sido o único português a concorrer.

É licenciado em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Universidade Nova de Lisboa, instituição onde obteve também um mestrado em Estudos Portugueses. Foi revisor em diversas editoras e sempre se imaginou a trabalhar na área cultural. Trabalha actualmente na editora Alêtheia, de Zita Seabra, como coordenador editorial.

A primeira edição do Prémio Leya teve lugar em 2008 e premiou o jornalista e escritor brasileiro Murilo Carvalho pelo seu romance O Rastro do Jaguar". No ano seguinte venceu o romance O Olho de Hertzog, do moçambicano João Paulo Borges Coelho, e na edição de 2010 o júri decidiu, por unanimidade, não atribuir o prémio, alegando a falta de qualidade dos originais a concurso. Em 2011 foi distinguido o romance O Teu Rosto Será o Último, estreia literária do português João Ricardo Pedro, e em 2012 venceu o também português Nuno Camarneiro, com o romance Debaixo de Algum Céu. O prémio de 2013 foi atribuído a uma portuguesa residente em Londres, Gabriela Ruivo, pelo romance Uma Outra Voz.

O Meu Irmão é o primeiro romance que Afonso Reis Cabral deu por terminado. "É o primeiro que concluo", disse ao PÚBLICO. "Tinha escrito uns primeiros capítulos, umas porcarias, nada de especial, ideias que depois não funcionavam". O problema, explica, é que "nunca tinha agarrado uma história que conhecesse".

Foi o que fez desta vez, embora o livro não seja autobiográfico. Salvo no sentido, precisa, em que "há sempre um fundo autobiográfico em toda a literatura". E para sublinhar o carácter ficcional de O Meu Irmão, lembra que o seu autor civil tem 24 anos, ao passo que o narrador do romance é um homem que "está quase nos seus 50 anos". Em todo o caso, acabou de receber o prémio LeYa, a obra ainda não está publicada, e acha que é prematuro estar neste momento a abordar o que no livro possa haver de mais directamente inspirado na sua experiência pessoal, "É tão recente que quero pensar antes de falar", diz.

Começou este romance pouco depois de acabar o curso e trabalhou nele cerca de três anos: "um a meio-gás e dois a trabalhar a sério". Pelo meio foi trabalhando em editoras e reconhece que a sua experiência profissional como revisor e editor o ajudou, mas sobretudo porque implicava ler, algo que já fazia desde muito novo. "É impossível escrever sem ler, sem o contacto com outros livros", reconhece, mas o olhar mais técnico e ajuizador que o seu actual ofício lhe exige enquanto leitor de pouco lhe serviu para avaliar o seu próprio romance. "Não consigo lê-lo como leitor distanciado, não consigo sequer ter noção do todo do livro".

http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/afonso-reis-cabral-vence-premio-leya-2014-1673223