Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


17-06-2004

OS MAIAS Nunca a TV foi tão romântica Xico Xadrez


artigo de Xico Xadrez * destaca minissérie; resgata textos pouco conhecidos em que Machado de Assis exalta Eça de Queirós

Nunca a TV foi tão romântica, é a definição lapidar de Veríssimo para "Os Maias".

Agora, a Rede Globo lança seu DVD, para deleite do mundo, em especial o lusófono.

Na verdade, "Os Maias" não teve a grande audiência merecida. A obra de Eça de Queirós teve na mídia eletrônica um elevado momento nesta realização ímpar.

Com Eça, através da interpretação de Fábio Assumção e grande "trouppe", "nunca a TV foi tão romântica".

E, isto ela precisava voltar a ser, depois de tempos áridos e secos. Humores sem gosto, novelas sem sabor, jornais anódinos, telas sem cor.

Mas, agora vem esta oportunidade de conviver com este mágico literato, admirado por Machado. "Por mais esperado, disse em crônica de 23 de agosto de 1990, este óbito, veio como repentino", em emocionante elegia.

"A arte existia", assinala Machado de Assis. "A língua existia, nem podíamos os dois povos, sem elas, guardar o patrimônio de Vieira e de Camões; mas cada passo do século renova o anterior e a cada geração cabem seus profetas. Hoje, há novos guardiões de Machado, Eça, Vieira, Pessoa e Camões.

São os profetas das "novas ondas", os mesmo que lançam o DVD "Os Maias". Oportuno, seja no Rio, seja em Lisboa. Seja em Coimbra, Fátima, Figueira da Foz, Tentúgal. "Os Maias" é para ser assistido em São Paulo, Porto Alegre, Ouro Preto, Uberaba, Dili, Luanda, Maputo, Guiné, Belo Horizonte. É uma ligação forte entre todos continentes. Um elo vibrante.

É para ser visto em todo lugar. De Cabo Verde a São Tomé e Príncipe. Em Ponto Delgada, no Faial, em Madalena, na ilha do Pico. Em qualquer lugar dos Açores. Em Fernando de Noronha, em Macau. De Manaus ao Porto. De Galiza à Goa.

Da Bahia de Todos os Santos aos que amam a arte em todo lugar. Como o escritor Luiz Fernando Veríssimo, Machado de Assis aplaudiria de pé.

Hoje, nós do Elos Clube de Uberaba, que reinvindicamos em diversas oportunidades, seja em artigos de opinião, seja no fórum ELOS do site www.ldc.com.br/iclas, nos congratulamos com a Rede Globo pela feliz iniciativa: lançar "Os Maias" em DVD e redomendamos a aquisição de tão relevante obra literária, traduzida nas telas emocionantes da mídia eletrônica. "Os Maias", realmente, é um libelo apaixonante.

A publicidade relâmpago, aproximadamente, vinte segundos, está a nos lembrar: "Nunca a TV foi tão romântica". E, agora, jamais vamos nos esquecer que isto é possível. Uma ousada mudança de paradigma. As tentativas anteriores de levar Eça às telas - salvo melhor juízo - fracassaram. O mexicano "O Crime do Padre Amaro" , por exemplo, foi um pastiche.

E "Os Maias" ainda tem uma trilha sonora que arrebata corações, desanuvia almas, torna pungente seus dramas e traz Eça aos dias atuais.

"Os Maias" é Portugal efervescente, é lusofonia incandescente. São quintas deslumbrantes. São quintais esfuziantes. São cores que descansam os olhos. Formosas paragens, traduzindo tanto encanto deste país que já singrou mares e conquistou continentes.

E, sobre Eça? Se temos Machado como referência, com sua voz que atravessa séculos, cortante e pungente, delimitando possibilidades, abrindo perspectivas, para que olvidar sua opinião abalizada?

"Para os romancistas é como se perdêssemos o melhor da família, o mais esbelto e o mais válido. E tal família não se compõe só dos que entraram com ele na vida do espírito, mas também das relíquias da de outra geração e, finalmente, da flor da nova".

Machado de Assis é definitivo em seu elogio a Eça: "Tal que começou pela estranheza acabou pela admiração".

Em seu raciocínio solerte, Machado de Assis aponta que "a antiguidade consolava-se dos que morriam cedo considerando que era a sorte daqueles a quem os deuses amavam".

É reconhecido que a obra de Eça de Queirós é uma profunda crítica social. Discípulo do socialista Proudhon, desde "O Crime do Padre Amaro" e o "Primo Basílio", passando por "Os Maias" até "A Cidade e as Serras", alia, concilia,renovação de estilo com técnicas do romance, somadas às idéias do realismo e do naturalismo. Continuador de Dickens, Balzac, Flauber e Zola, arquitetou "Os Maias" em 1888, reconhecidamente, uma contribuição fundamental da literatura portuguesa.

"Os Maias" evoca uma burguesia lisboeta, colonial e decadente, em que sua aristocracia padece de uma esclerose, devidamente retratada através de existências sem horizontes.

Sua originalidade impressiona mesmo os doutos. José Maria Eça de Queirós trouxe significativa contribuição para nossa literatura, em sua breve vida, de 1845 a 1900. No período de 1861 a 1866, fez direito na Universidade de Coimbra, com atuação destacada no movimento estudantil, participando, inclusive da Questão Coimbrã, de cunho realista.

Passa em concurso para exercer a carreira diplomática e, em 1870, parte para assumir o Consulado de Portugal em Havana, na ilha de Cuba. Em 1888, parte para Paris, destino de tantos intelectuais. Lá, ele fica lotado no Consulado de Portugal. Na Cidade Luz, em 1900, é vítima da tuberculose intestinal, que o acometera.

Agora, só Machado de Assis para nos esclarecer mistérios de vida e morte: "Quando a morte encontra um Goethe ou Voltaire, parece que esses grandes homens, na idade extrema a que chegaram, precisam de entrar na eternidade e no infinito, sem nada mais dever à terra que os ouviu e admirou".

"Onde ela é sem compensação é no ponto da vida em que o engenho subido ao grau sumo, como aquele Eça de Queirós tem ainda muito que dar e perfazer. Em plena força da idade, o mal os toma e lhes tira da mão a pena que trabalha e evoca, pinta, canta, faz todos os ofícios da criação espiritual".

* Francisco José dos Santos Neto (Xico Xadrez) - jornalista MTb 3201 - Fórum Elos
Nosso site é www.ldc.com.br/iclas.