Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


10-11-2014

A Língua Portuguesa em Timor Leste no âmbito da CPLP


 

Este artigo, primeiramente, remete-nos para a compreensão do contexto histórico e cultural de Timor-Leste. E nesse sentido, é crucial compreendermos e identificarmos as relações entre a história, a cultura e a identidade do nosso país no contexto da CPLP, bem como as exigências e os compromissos assumidos neste foro multilateral.

 

pelo Roger Soares

 

Timor-Leste foi colónia portuguesa desde o século XVI, ou seja, esteve sob o domínio português durante 400 anos, mas o seu envolvimento passou por diferentes fases. E ainda, foi algo da invasão indonésia, sendo anexado à Indonésia como a sua 27ª província. Por outras palavras, o nosso país foi alvo de dois tipos de colonialismo que marcaram e definiram as diferenças e características das diferentes três gerações.

 

Durante o domínio português, quer na administração, quer no sistema de ensino, era usada exclusivamente a língua portuguesa, embora coexistindo, no dia-a-dia, com o tétum e outros dialectos. O português influenciou profundamente o tétum, especialmente o dialecto falado em Díli, conhecido como tétum-praça, que constitui actualmente a versão oficial da língua e é ensinado nas escolas.

 

O autor Luís Filipe R. Thomaz afirma que a evolução da língua portuguesa em Timor passou por quatro fases diferentes. A primeira fase corresponde às relações exclusivamente de carácter comercial estabelecidas entre Timor e Portugal. Quer isto dizer, a língua portuguesa ia-se afirmando mas só através do vínculo de comércio. Seguiu-se a segunda fase de âmbito religioso, ou seja, a religião foi um dos meios de transmissão da língua portuguesa, através da qual os filhos dos cristãos aprendiam a ler e a escrever nos seminários e colégios, difundindo-se assim a religião cristã em Timor-Leste. Posteriormente, surgiu a terceira fase orientada pela via política, onde se procede à estruturação político-militar do território. Deste modo, o território timorense passa a ser apoiado pelos portugueses, sendo Díli o local para a administração central, e assim a língua portuguesa assume-se como a língua administrativa, contribuindo para a sua difusão e incrementação. Por fim, a última fase corresponde à instituição de estabelecimentos de ensino com a difusão da língua portuguesa. A partir de 1915, a abertura de escolas em Díli e em todo o território possibilitou uma maior contribuição para a difusão do português.

 

Contudo, o progresso de escolarização deu-se de forma lenta, nos últimos anos de governação portuguesa, contribuindo para a perda da difusão efectiva da língua, o que significou o baixo uso da língua portuguesa na comunicação oral dos timorenses, e tão-somente o Tétum permanece até aos dias de hoje como língua veicular tradicional. Assim, o Português assumiu em Timor, apenas, o carácter de língua clerical, administrativa e cultural.

 

Com a invasão da Indonésia, o uso do português foi proibido, passando o bahasa indonésia a ser a língua vigente, quer na administração pública e ensino, quer nas instituições militares e policiais. Por outras palavras, o bahasa foi-se enraizando por todo o território e na comunicação entre os timorenses e naturalmente, toda uma geração de timorenses cresceu e foi educada nesta língua. Porém, o português continuou a ser usado pela resistência armada e pelas elites políticas, quer nas suas comunicações internas, quer no contacto com o exterior como forma de prevenir o sigilo da informação e comunicação entre os mesmos, bem como de se impor a língua portuguesa sobre a língua bahasa, isto é, um método de afirmação cultural. 

 

Finda a ocupação, as elites políticas afirmam a língua portuguesa como uma das línguas oficiais por considerarem este idioma e a respectiva colonização portuguesa como dois elementos que identificam a identidade de Timor-Leste. Note-se, também, que a entrada da língua portuguesa e posteriormente a sua evolução em Timor contribui, igualmente para a evolução e enriquecimento do vocabulário da língua Tétum.

 

Por tudo isto, o linguista australiano Geoffrey Hull considera que o “Português” faz parte da história da nação timorense. A não consideração do Português como a língua oficial, segundo ele, seria um exagerado risco para o futuro desta nação, pois colocaria em causa a sua identidade. E por outro lado, o português é uma língua de destaque no mundo moderno, ou seja, é uma língua internacional, falada por cerca de 200 milhões de pessoas nos cinco continentes. E esta escolha exerce um importante desempenho nas relações de Timor-Leste com o mundo lusófono, o que simultaneamente significa estreitar as relações entre ambos nos diversos domínios: cultural, económico e político.

 

Dadas as considerações mencionadas, o artigo nº 3 da Lei 1/2002 da Constituição timorense reconhece o Português como língua oficial a par do Tétum.

 

Porém os dados apresentados pela estatística sobre a língua falada em Timor demonstram que o Português é a única Língua que possui o menor número de falantes em relação às três línguas faladas existentes no país. Os factores que justificam esta diminuição assentam, essencialmente, na dificuldade em aprender a língua pela geração após 1975, devido à sua rica forma gramatical e às regras de aplicação, visto que as outras línguas existentes, o Bahasa, o Inglês e o Tétum, são línguas com menor enriquecimento gramatical e, por conseguinte, com maior facilidade de aquisição. Além disso, a existência dos dialectos contribui para dificultar a aquisição da língua portuguesa, isto é, os falantes dos dialectos que não sabem o tétum, vêm-se ainda mais incapacitados em aprender o português. Ainda assim, é certamente possível reverter esta situação, através de um maior empenho, quer pelos programas políticos ajustados às necessidades de aprendizagem da língua portuguesa, quer pelo interesse e dedicação de todos os timorenses em aprender este idioma. Ora, no âmbito da CPLP, a língua portuguesa ao ser o elemento de identificação desta comunidade, bem como o idioma de comunicação entre os países membros, significa que a língua portuguesa é a língua de comunicação nas relações políticas e diplomáticas entre eles. Como tal, é necessário dar ênfase pela aprendizagem da língua portuguesa em Timor-Leste, pois ao ser o idioma de comunicação da CPLP estamos não só a realçar as relações histórico-culturais, mas acima de tudo estamos abrir portas para maior investimento económico através da maior intensificação das relações económicas entre os países que compõem esta comunidade. Note-se, também, a força com que o mercado global e livre  tem “invadido” a esfera económica de cada país, positiva ou negativamente, e por isso mesmo é necessário posições mais firmes, competitivas e eficazes de modo a estimular o nosso crescimento económico de forma saudável e sustentável. E nesse sentido, a CPLP é uma porta aberta para Timor reforçar e ampliar as suas relações nos diversos domínios não só com os países membros mas também afirmar a sua posição geopolítica e geoestratégica no palco internacional.

 

Em suma, é necessário que haja uma política bem definida por parte do governo, no sentido de estimular e propagar a língua portuguesa em todo o território nacional para que todas as gerações novas possam adquirir, teórica e praticamente, este idioma.

 

Para a realização desta meta, não cabe só ao Ministério da Educação, o promotor da promoção da língua portuguesa, mas também é responsabilidade de todo o conjunto que compõem a sociedade timorense, desde os partidos políticos, os ONG´s, a sociedade civil, a Igreja, bem como todas as famílias. Nesse sentido, a criação de um Secretariado de Estado para a promoção da Língua Portuguesa pode ser uma possível solução com políticas mais incisivas e adequadas através de um bom diagnóstico da nossa realidade sociolinguística.

 

in Tempo Semanal
http://temposemanal.com/opiniaun/a-lingua-portuguesa-em-timor-leste-no-ambito-da-cplp#.U0N7Y_5hKPY.facebook
 

divulgado no

http://aicemassociacao.blogspot.pt/p/n-historico.html

 

publicado no

http://www.temposemanal.com/opiniaun/a-lingua-portuguesa-em-timor-leste-no-ambito-da-cplp