Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


14-01-2015

Charlie crônica de Francisco G Amorim


 Uma crónica sobre “Charlie”

 

O meu primeiro impulso ao ver pela Tv o que estava a acontecer em Paris foi de indignação e da sensação de impotência e incapacidade de lutar contra o jihadismo, covarde, que continua a avassalar o mundo. E logo me solidarizei com as vítimas das chacinas perpetradas, a sangue frio, mais ainda com o “tiro de misericórdia” ao polícia que, já atingido, estava estendido na calçada, e no assassinato também a sangue frio, tão covarde quanto este, da jovem polícia.

Esta sensação de estarmos a ser encurralados, fez com que me declarasse de imediato a favor de “Charlie”, se bem que não conhecesse nem o semanário, nem o seu histórico, mas a defesa intransigente da liberdade de expressão.

Depois fui-me apercebendo que o semanário estava há anos condenado por ter feito uma caricatura ridicularizando Maomé. E o Papa. E os judeus. E um sem número de “piadas” que por demasiado ofensivas, deixavam de ter piada, e em vez de levarem ao riso levavam à irritação, ao confronto, atingindo apelos racistas ou homofóbicos.

No Brasil tem um termo que define com precisão o que eles vinham fazendo: “Cutucando a onça com vara curta”. E um dia a onça saltou-lhes em cima. Covarde e friamente, todos sabemos, mas cansada de ser cutucada.

O senhor Hollande com aquela sua carinha de cego perdido no meio dum tiroteio, conseguiu um feito inédito: juntar nas ruas milhões de franceses que se dizem “Charlies”, convidar chefes de outros Estados para a passeata, que acabou tendo, para estes, um aspecto ridículo, mãosinhas dadas e afastados da verdadeira manifestação. Ridículo. Mas ganhou um ponto: abriu a consciência de muitos para a necessidade de convivência entre todos os credos e raças, o que, pode parecer muito bonito, mas se nunca funcionou desde há milhares de anos até hoje... não é natural que resolva alguma coisa. E uma quantidade de muçulmanos a dizerem que repugnam a ação dos jihadistas, porque o Islão é uma religião de entendimento. Não é.

É bem específico o Corão quando diz na Surata 9.29 – Combatei aqueles que não creem em Deus e no Dia do Juízo Final, nem abstêm do que Deus e Seu Mensageiro proibiram, e nem professam a verdadeira religião daqueles que receberam o Livro, até que, submissos, paguem o Jizya.

E continua em 9.30 Os judeus dizem: Ezra é filho de Deus; os cristãos dizem: O Messias é filho de Deus. Tais são as palavras de suas bocas; repetem, com isso, as de seus antepassados incrédulos. Que Deus os combata! Como se desviam!

Só o Deus “deles” é o único! Ninguém mais pode acreditar no que quiser!

A França está em operações de guerra na Síria-Iraque, no Mali, na República Centro Africana a “pedido dos governos democráticos” daqueles países em luta com a jihad. A Nigéria está entregue ao babaca e super corrupto Jonathan Goodluck, que continua enchendo os bolsos sentadão na sua poltrona de presidente enquanto a turma do Boko Haram, que já matou e sequestrou dezenas de milhares de pessoas, domina mais de um terço do país, com 50% de população muçulmana. Para estes o futuro é simples: ou alinham com os terroristas ou são considerados traidores e...

O radicalismo islâmico espalha-se pelo mundo. Todo o mundo. Parece que ninguém quer ou pode parar essa onda de primitivismo e terrorismo.

Hoje não há mais Urbano II que convoque nova cruzada, e resta-nos assistir à continuação dos genocídios dos cristãos e judeus na Síria, Iraque, dos curdos, depois o que sobrou dos arménios, e os ataques na Europa e Estados Unidos.

Na Espanha cresce uma onda libertária que quer que a Junta da Andaluzia retire a Catedral de Córdova da Igreja e a torne um lugar público – como se uma igreja não fosse um lugar público – com o “alto apoio” de uma espécie de ONU islâmica, com sede no Marrocos, que afirma que essa catedral foi uma mesquita. Foi sim. Mas antes de ser mesquita, cerca de 515 os visigodos ali construíram uma capela.

Uns islâmicos do Maranhão vociferam num seu site contra a ida do Papa Francisco à Turquia e à sua visita à ex-Igreja de Santa Sofia. Dizem que é uma afronta aos muçulmanos! É uma tristeza, mas os extremistas islamitas não sabem o que é amor, amizade, entendimento, nem sabem nada de história, porque a Igreja de Santa Sofia - Agia Sophia, que significa "Sagrada Sabedoria” ou “Sopro Sagrado”, o “Espírito Santo” – foi construída entre 532 e 537, mais de um século antes de Maomé ter nascido, e só transformada em mesquita entre 1453 e 1931, quando foi secularizada para reabrir como museu em Fevereiro de 1935. Quase 1.000 anos igreja cristã e menos de 500 mesquita!

“Charlie” parece ter ignorado um princípio fundamental da liberdade: “a liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro”.

Mas ninguém lhes pode tirar o a coragem de se terem exposto, ridicularizando o que todas as religiões e todas as políticas têm de negativo. Pisaram em terreno minado. Abusaram da “graça e do riso” ultrapassando as fronteiras que pertencem a cada um dos Outros. Ofenderam, insultaram, consciências cristãs, judaicas e os muçulmanos. Os primeiros viraram-lhes as costas, souberam perdoar, esquecer ou ignorar. Os segundos já têm com que se preocupar na Cisjordânia. Mas com mentecaptos, a quem a lavagem cerebral foi completa, não se pode brincar.

Sou Charlie em favor da liberdade mas não sou Charlie pelo insulto.

 

(www.fgamorim.blogspot.com)

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