Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


16-09-2015

Candomblé é tradição,ancestralidade e resistência Negro Belchior


"Quando você recebe um convite para ser entrevistada numa revista, não há garantias de como o conteúdo vai ser veiculado. Mas, associar a sua entrevista à uma reportagem que traz o Candomblé e a Umbanda como religiões da moda,  é lastimável."

 

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Por Janaína Grasso

Para começar, não há nada de descolado em ser de religião de matriz africana. Não é ‘alternativo’, nem ‘religião da moda’. O que me espanta é ver como a mídia ainda se sustenta na superficialidade e continua representando aspectos da cultura negra de maneira esvaziada, estereotipada, deturpada. Essas religiões têm tradição, fundamentos e regras na sua existência.

Quando você recebe um convite para ser entrevistada numa revista, não há garantias de como o conteúdo vai ser veiculado. Mas, associar a sua entrevista à uma reportagem que traz o Candomblé e a Umbanda como religiões da moda, e como se isso fizesse de você “alternativo”, é lastimável.

Precisamos nos retratar de outra forma, com criticidade e mais respeito. Querem falar sobre os jovens no Candomblé e da Umbanda? Identifique que essas são religiões de matriz africana, elas têm origem, elas têm tradição, memória, história, estrutura. Resistem de geração em geração. São heranças culturais.

Difundir informações esvaziadas e estereotipadas é um desserviço. Que nível de instrução e informação querem propagar, e para quem? Essa é uma representação que não aceitaremos mais calados. Chega!

 

11998350_820584968056461_843560752_n - CopiaNo teatro querem trazer blackface; na televisão, personagem ‘Africano’ e na revista, fazer das nossas religiões um espaço para ‘descolados’.

As menções às religiões de matriz africana devem ser feitas com seriedade e respeito, independente das motivações de cada um. Penso também que adentrar numa vida de religião de matriz africana, conhecer toda a riqueza e complexidade que existem nelas implica em assumir uma conduta a favor do direito a equidade, já que essas religiões tem como eixo fundamental a coletividade e pluralidade.

As religiões de matriz africana, o candomblé e a umbanda, se mantêm vivas graças a muita resistência. Elas enfrentam um racismo e discriminação secular. Quantas casas de candomblé são destruídas pela intolerância religiosa e a violência? Quanto racismo se enfrenta dia a dia por fazer parte de uma religião de matriz africana, uma matriz acolhe seus adeptos sem distinção de raça, orientação sexual, classe social ou qualquer outro critério de exclusão.

Estar numa religião de matriz africana significa estar junto às causas e lutas que assumimos, por um compromisso histórico.

http://negrobelchior.cartacapital.com.br/candomble-e-tradicao-ancestralidade-e-resistencia/