Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


01-03-2003

Boletim cultural e informativo da Embaixada Galega da Cultura


RENOVAÇÃO

 

Núm.15 Março, Abril e Maio de 2003.

Boletim cultural e informativo da Embaixada Galega da Cultura

 

http://www.ldc.com.br/iclas

 

monchodefidalgo@terra.es

suzanacouceiro@hotmail.com

Conselho: Moncho de Fidalgo, Tomé Martins, Suzana Couceiro, R. Queixomariu Fidalgo, Roi da Bolandeira, J.L. Galego, J. Luís A. Fernando do Savinhão. Ricardo A. Windor.

Nem Renovação nem as pessoa que compõem a

Embaixada Galega da Cultura

idéias possam ser referenciadas ou comentadas

sem qualquer cumplicidade.

Nota do Conselho.

Conteúdos deste número:

A Língua-Patrimônio Cultural dos Povos Lusófonos

Discurso do presidente Lula

História da língua portuguesa,

Quem voltasse àqueles tempos de garoto,

por Moncho de Fidalgo

A Língua - Patrimônio Cultural dos Povos Lusófonos

 

Palavra ou expressão escrita em língua estrangeira e destinada ao conhecimento público no Brasil deverá ser acompanhada dos termos correspondentes em língua portuguesa. É o que estabelece o substitutivo do senador Amir Lando a projeto da Câmara de Deputados aprovado pela Comissão de Educação. A proposta objetiva a promoção, proteção, defesa e uso da língua portuguesa, considerada parte do patrimônio cultural brasileiro, concorrendo para a definição da soberania do país, e relaciona uma série de ações que o poder público deve desenvolver para promover, difundir e valorizar o idioma.

Segundo Lando, o projeto busca manter a pureza da língua portuguesa, mas

"sabendo que ela é um movimento constante" .

A defesa da língua, suporte da identidade e soberania dos povos, preocupa também muitos outros países que adotaram medidas legais ou criaram movimentos visando a preservação dos seus idiomas em relação ao uso de estrangeirismo. A França, por exemplo, além de editar uma lei para disciplinar o uso do idioma francês e de ter um Ministério de Terminologia, exige a tradução de todos os programas de computador. Já nos Estados Unidos, 21 estados americanos criaram algum tipo de defesa legal do inglês contra a penetração do espanhol. E no Japão, o Ministério de Educação, Cultura, Esportes, Ciências e Tecnologias criou uma comissão de 20 especialistas para promover a tradução dos termos estrangeiros.

Acredito que aos povos lusófonos compete se unirem na defesa da língua comum.

E isto se desenvolve a partir de intercâmbios culturais, científicos e culturais . Mas antes é necessário dar-se prioridade à Política da Lusofonia. O diálogo Norte-Sul é inadiável e a Lusofonia tem, aqui, um papel fundamental a desempenhar.

Mas nem todos os povos lusófonos têm situações idênticas em relação à defesa da língua. Na Espanha a Constituição define Estatutos de Autonomia, três Nacionalidades Históricas: Galiza, País Basco, Catalunha e 14 Regiões Autônomas de língua castelhana . Contudo o caso da Galiza não é comparável ao País Basco ou à Catalunha, que correspondem a uma situação de línguas minoritárias, com pouco futuro. A Galiza , segundo Ramón Lonrenzo( Vieiros, N º 2, México, 1962 ), na defesa da língua deveria juntar-se a Portugal e " arrincar o pano que afasta as duas rexións para traballar nos mesmos eidos...En Galicia somos muitos os que queremos esta xuntanza". Com efeito a língua da Galiza, uma língua minoritária em território espanhol, é majoritária a nível mundial e de uso oficial em diversos organismos internacionais.

As medidas legais ou o surgimento, dentro da sociedade civil, de movimentos culturais em defesa da língua são iniciativas que devemos aplaudir e divulgar. O patrimônio cultural comum ou as experiências de outros idiomas assim o exige.

Margarida Silva e Castro, Brasil, Instituto de Cultura Lusófona - Elos Clube de Uberaba , E-mail:

 

 

 

Discurso do Presidente Lula no dia da posse, dia 1.01.03.

‘O fim da fome será uma causa nacional’

Eis a íntegra do discurso "Novo rumo para o Brasil" feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem depois de assinar o termo de posse no plenário do Congresso Nacional.

"Mudança. Esta é a palavra-chave. Esta foi a grande mensagem da sociedade brasileira nas eleições de outubro.

"A esperança, finalmente, venceu o medo e a sociedade decidiu que estava na hora de trilhar novos caminhos.

"Diante do esgotamento de um modelo que, em vez de gerar crescimento, produziu estagnação, desemprego e fome. Diante do fracasso de uma cultura do individualismo, do egoísmo, da indiferença perante o próximo, da desintegração das famílias e das comunidades. Diante das ameaças à soberania nacional. Da precariedade avassaladora da segurança pública. Do desrespeito aos mais velhos e do desalento dos mais jovens. Diante do impasse econômico, social e moral do país — a sociedade brasileira escolheu mudar. E começou, ela mesma, a promover a mudança necessária.

"Foi para isso que o povo brasileiro me elegeu presidente da República. Para mudar. Este foi o sentido de cada voto dado a mim e ao meu bravo companheiro José Alencar.

"E eu estou aqui, neste dia sonhado por tantas gerações de lutadores que vieram antes de nós, para reafirmar os meus compromissos mais profundos e essenciais. Para reiterar, a todo cidadão e cidadã do meu país, o significado de cada palavra dita na campanha. Para imprimir, à mudança, um caráter de intensidade prática.

"Para dizer que chegou a hora de transformar o Brasil naquela nação com a qual a gente sempre sonhou. Uma nação soberana, digna, consciente da própria importância no cenário internacional e, ao mesmo tempo, capaz de abrigar, acolher e tratar com justiça todos os seus filhos.

"Vamos mudar, sim. Mudar com coragem e com cuidado. Com humildade e ousadia. Mudar tendo consciência de que a mudança é um processo gradativo e continuado, não um simples ato de vontade, não um arroubo voluntarista. Mudança por meio do diálogo e da negociação. Sem atropelos ou precipitações. Para que o resultado seja consistente e duradouro.

"O Brasil é um país imenso, um continente de alta complexidade humana, ecológica e social, com quase 175 milhões de habitantes. Não podemos deixá-lo seguir à deriva, ao sabor dos ventos, carente de um verdadeiro projeto de desenvolvimento nacional e de um planejamento de fato estratégico.

"Se queremos transformá-lo, a fim de vivermos em uma nação em que todos possam andar de cabeça erguida, teremos de exercer, cotidianamente, duas virtudes: a paciência e a perseverança.

"Teremos que manter sob controle as nossas muitas e legítimas ansiedades sociais, para que elas possam ser atendidas no ritmo adequado e no momento justo. Teremos que pisar na estrada com os olhos abertos — e caminhar com os passos pensados, precisos e sólidos. Pelo simples motivo de que ninguém pode colher os frutos antes de plantar a árvore.

"Mas começaremos a mudar já, pois, como diz a sabedoria popular, uma longa caminhada começa pelos primeiros passos.

"Este é um país extraordinário. Da Amazônia ao Rio Grande do Sul, em meio a populações praieiras, sertanejas e ribeirinhas, o que vejo, em todo lugar, é um povo maduro, calejado e otimista. Um povo que não deixa nunca de ser novo e jovem. Um povo que sabe o que é o sofrer, mas sabe também o que é a alegria. Que confia em si mesmo e em suas próprias forças.

"Creio em um futuro grandioso para o Brasil porque a nossa alegria é maior do que a nossa dor. A nossa força é maior do que a nossa miséria. A nossa esperança é maior do que o nosso medo.

"O povo brasileiro, tanto em sua história mais antiga quanto na mais recente, tem dado provas incontestáveis de sua grandeza e generosidade. Provas de sua capacidade de mobilizar a energia nacional em grandes mutirões cívicos. E eu desejo, antes de qualquer outra coisa, convocar o meu povo, justamente, para um grande mutirão cívico. Para o mutirão nacional contra a fome.

"Num país que conta com tantas terras férteis e com tanta gente que quer trabalhar, não deveria haver razão alguma para se falar de fome. No entanto, milhões de brasileiros, no campo e na cidade, nas zonas rurais mais desamparadas e nas periferias urbanas, estão, neste momento, sem ter o que comer.

"Sobrevivem milagrosamente abaixo da linha da pobreza, quando não morrem na miséria, mendigando um pedaço de pão.

"Essa é uma história antiga. O Brasil conheceu a riqueza dos engenhos e das plantações de cana-de-açúcar, nos primeiros tempos coloniais — mas não venceu a fome. Proclamou a independência nacional e aboliu a escravidão — mas não venceu a fome. Conheceu a riqueza das jazidas de ouro em Minas Gerais e da produção de café no Vale do Paraíba — mas não venceu a fome. Industrializou-se e forjou um notável e diversificado parque produtivo — mas não venceu a fome.

"Isso não pode continuar assim. Enquanto houver um irmão brasileiro, ou uma irmã brasileira, passando fome, teremos motivos de sobra para nos cobrir de vergonha.

"Por isso, defini, entre as prioridades de meu governo, o programa de segurança alimentar, que leva o nome de Fome Zero. Como disse em meu primeiro pronunciamento após a eleição, se, ao final de meu mandato, todos os brasileiros tiverem a possibilidade de tomar o café da manhã, almoçar e jantar, terei cumprido a missão de minha vida.

"E é por isso que hoje eu conclamo: vamos acabar com a fome em nosso país! Transformemos o fim da fome em uma grande causa nacional como foram, no passado, a criação da Petrobras e a memorável luta pela redemocratização do país.

"Essa é uma causa que pode e deve ser de todos, sem distinção de classe, partido, ideologia. Face ao clamor dos que padecem o flagelo da fome, deve prevalecer o imperativo ético de somar forças, capacidades e instrumentos para defender o que é mais sagrado: a dignidade da pessoa humana.

"Para isso, será também imprescindível fazer uma reforma agrária pacífica, organizada, planejada. Vamos garantir o acesso à terra para quem quer trabalhar. Não apenas por uma questão de justiça social, mas para que os campos do Brasil produzam mais e tragam mais alimentos para a mesa de todos nós. Tragam trigo, tragam soja, tragam farinha, tragam frutos, tragam o nosso feijão-com-arroz.

"Para que o homem do campo recupere a sua dignidade, sabendo que, ao se levantar com o nascer do sol, cada movimento de sua enxada ou de seu trator irá contribuir para o bem estar dos brasileiros, do campo e da cidade.

"Vamos incrementar, também, a agricultura familiar, o cooperativismo, as formas de economia solidária. Elas são perfeitamente compatíveis com o nosso vigoroso apoio à pecuária, à agricultura empresarial, à agroindústria e ao agronegócio. São, na verdade, complementares, tanto na dimensão econômica quanto social. Temos de nos orgulhar de todos esses bens que produzimos e comercializamos.

"A reforma agrária será feita em terras ociosas, nos milhões de hectares hoje disponíveis para a chegada de famílias e de sementes, que brotarão viçosas, com linhas de crédito e assistência técnica e científica.

"Faremos isto sem afetar de modo algum as terras que produzem. Porque as terras produtivas se justificam por si mesmas — e serão estimuladas a produzir sempre mais, a exemplo da gigantesca montanha de grãos que colhemos a cada ano.

"Hoje, tantas e tantas áreas do país estão devidamente ocupadas. As plantações se espalham a perder de vista. Há locais em que alcançamos uma produtividade maior do que a da Austrália e a dos Estados Unidos. Temos que cuidar bem, muito bem, desse esplêndido patrimônio produtivo.

"Por outro lado, é absolutamente necessário que o país volte a crescer, gerando empregos e distribuindo renda. Quero reafirmar aqui o meu compromisso com a produção, com os brasileiros e brasileiras que querem trabalhar e viver dignamente do fruto de seu trabalho.

"Já disse e repito: criar empregos será a minha obsessão.

"Vamos dar uma ênfase especial ao Projeto Primeiro Emprego, voltado para criar oportunidades aos jovens, que hoje encontram tremenda dificuldade em inserir-se no mercado de trabalho.

"Nesse sentido, trabalharemos para superar nossas vulnerabilidades atuais e criar as condições macroeconômicas favoráveis à retomada do crescimento sustentado, para o qual a estabilidade e a gestão responsável das finanças públicas são valores essenciais.

"Para avançar nessa direção, além de fazer um combate implacável à inflação, precisaremos exportar mais, agregando valor aos nossos produtos e atuando com energia e criatividade nos fóruns internacionais do comércio globalizado. Da mesma forma, é necessário incrementar — e muito — o mercado interno, fortalecendo as micros e pequenas empresas. É necessário também investir em capacitação tecnológica e na infra-estrutura voltada para o escoamento da produção.

"Para repor o Brasil no caminho do crescimento que gere os postos de trabalho tão necessários, carecemos de um autêntico pacto social pelas mudanças. De uma aliança que entrelace, objetivamente, o trabalho e o capital produtivo, geradores da riqueza fundamental da nação. De modo a que o Brasil supere a estagnação atual. Para que o país volte a navegar no mar aberto do desenvolvimento econômico e social.

"O pacto social será igualmente decisivo para viabilizar as reformas que a sociedade brasileira reclama e que eu me comprometi a fazer: reforma da previdência, reforma tributária, reforma política e reforma da legislação trabalhista, além da própria reforma agrária. Esse conjunto de reformas vai impulsionar um novo ciclo de desenvolvimento nacional.

"Instrumento fundamental desse pacto pelas mudanças será o Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, que pretendo instalar já a partir de janeiro, reunindo empresários, trabalhadores e lideranças dos diferentes segmentos da sociedade civil.

"Estamos num momento particularmente propício para isso. Num momento raro na vida de um povo. Num momento em que o presidente da República tem consigo, ao seu lado, a vontade nacional.

"O empresariado, os partidos políticos, as forças armadas e os trabalhadores estão unidos. Os homens, as mulheres, os mais velhos, os mais jovens, estão irmanados no mesmo propósito de contribuir para que o país cumpra o seu destino histórico de prosperidade e justiça.

"Além do apoio da imensa maioria das organizações e dos movimentos sociais, contamos também com a adesão entusiasmada de milhões de brasileiros e brasileiras que querem participar dessa cruzada pela retomada do crescimento, contra a fome, o desemprego e a desigualdade social. Trata-se de uma poderosa energia solidarista que a nossa campanha despertou e que não podemos e não vamos desperdiçar. Uma energia ético-política extraordinária, que nos empenharemos para que encontre canais de expressão em nosso governo.

"Por tudo isso, acredito no pacto social. Com esse mesmo espírito, constituí o meu Ministério com alguns dos melhores líderes de cada segmento econômico e social brasileiro. E vamos trabalhar em equipe, sem personalismos, pelo bem do Brasil. E vamos adotar um novo estilo de governo, com absoluta transparência e permanente estímulo à participação popular.

"O combate à corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública serão objetivos centrais e permanentes do meu governo. É preciso enfrentar com determinação e derrotar a verdadeira cultura da impunidade que prevalece em certos setores da vida brasileira.

"Não permitiremos que a corrupção, a sonegação e o desperdício continuem privando a população de recursos que são seus e que tanto poderiam ajudar na sua dura luta pela sobrevivência.

"Ser honesto é mais do que apenas não roubar e não deixar roubar. É também aplicar com eficiência e transparência, sem desperdício, os recursos públicos focados em resultados sociais concretos.

"Estou convencido de que temos, dessa forma, uma chance única de superar os principais entraves ao desenvolvimento sustentado do país. E acreditem: não pretendo desperdiçar essa oportunidade, conquistada coma luta de muitos milhões de brasileiros e brasileiras.

"Sob a minha liderança, o poder executivo manterá uma relação construtiva e fraterna com os outros poderes da República, respeitando exemplarmente a sua independência e o exercício de suas altas funções constitucionais.

"Eu, que tive a honra de ser parlamentar desta casa, espero contar com a contribuição do Congresso Nacional no debate criterioso e na viabilização das reformas estruturais que o país demanda de todos nós.

"No meu governo, o Brasil vai estar no centro de todas as atenções. O Brasil precisa fazer, em todos os domínios, um mergulho para dentro de si mesmo, de forma a criar forças que lhe permitam ampliar o seu horizonte.

"Fazer esse mergulho não significa fechar portas e janelas ao mundo. O Brasil pode e deve ter um projeto de desenvolvimento que seja ao mesmo tempo nacional e universalista. Significa simplesmente adquirir confiança em nós mesmos, na capacidade de fixar objetivos de curto, médio e longo prazos e de buscar realizá-los. O ponto principal do modelo para o qual queremos caminhar é a ampliação da poupança interna e da nossa capacidade própria de investimento. Assim como o Brasil necessita valorizar seu capital humano investindo em conhecimento e tecnologia.

"Sobretudo, nós vamos produzir. Porque a riqueza que conta é aquela que é gerada por nossas próprias mãos. É a riqueza produzida por nossas máquinas, pela nossa inteligência e pelo nosso suor.

"O Brasil é grande. Apesar de todas as crueldades e de todas as discriminações, especialmente contra as comunidades indígenas e negras, apesar de todas as desigualdades e de todas as dores, que não devemos esquecer jamais, o povo brasileiro realizou uma obra de resistência e construção nacional admirável.

"Construiu, ao longo dos séculos, uma nação plural, diversificada, contraditória até, mas que se entende de uma ponta a outra do território. Dos "encantados" da Amazônia aos orixás da Bahia, do frevo pernambucano às escolas de samba do Rio de Janeiro, dos tambores do Maranhão ao barroco mineiro, da arquitetura de Brasília à música sertaneja, e estendendo o arco de sua multiplicidade nas culturas de São Paulo, do Paraná, de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul e do Centro-Oeste.

"Esta é uma nação que fala a mesma língua. Que partilha os mesmos valores fundamentais. Que se sente e é brasileira. Onde a mestiçagem e o sincretismo se impuseram dando uma contribuição original ao mundo. Onde judeus e árabes conversam sem medo, onde toda migração é bem-vinda, porque sabemos que em pouco tempo, pela nossa própria capacidade de assimilação e de bem-querer, cada migrante se transforma em mais um brasileiro.

"Esta nação, que se criou sob o céu tropical, tem que dizer a que veio. Internamente, fazendo justiça à luta pela sobrevivência em que seus filhos se acham engajados. E externamente, afirmando a sua presença soberana e criativa no mundo.

"Nossa política externa refletirá também os anseios de mudança que se expressaram nas urnas. No meu governo, a ação diplomática do Brasil estará orientada por uma perspectiva humanista e será, antes de tudo, um instrumento do desenvolvimento nacional. Por meio do comércio exterior, da captação de tecnologias avançadas e da busca de investimentos produtivos, o relacionamento externo do Brasil deverá contribuir para a melhoria das condições de vida da mulher e do homem brasileiros, elevando os níveis de renda e gerando empregos dignos. As negociações comerciais são hoje de importância vital. Em relação à Alca, nos entendimentos entre o Mercosul e a União Européia, e na Organização Mundial do Comércio, o Brasil combaterá o protecionismo, lutará pela eliminação de barreiras e tratará de obter regras mais justas e adequadas à nossa condição de país em desenvolvimento. Buscaremos eliminar os escandalosos subsídios agrícolas dos países desenvolvidos, que prejudicam os nossos produtores, privando-os de suas vantagens comparativas. Com igual empenho, nos esforçaremos para remover os injustificáveis obstáculos às exportações de produtos industriais. Essencial em todos esses foros é preservar os espaços de flexibilidade para as nossas políticas de desenvolvimento nos campos social e regional, de meio-ambiente, agrícola, industrial e tecnológico. Não perderemos de vista que o ser humano é o destinatário último dos resultados das negociações. De pouco valerá participarmos de um esforço tão amplo e em tantas frentes se daí não decorrerem benefícios diretos para o nosso povo. Estaremos atentos também para que estas negociações, que hoje em dia vão muito além de meras reduções tarifárias e englobam um amplo espectro normativo, não criem restrições inaceitáveis ao direito soberano do povo brasileiro de decidir sobre o seu modelo de desenvolvimento.

HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA

Do Latim aos Primeiros Textos em Galego- Português ( Século XIII)

Por Paul Teyssier , Paris, 26 de Março de 1982, , História da Língua Portuguesa , Lisboa: Sá da Costa, 2001 *

Os primeiros textos escritos em português surgem no século XIII. Nessa época, o português não se distingue do galego, falado na província ( hoje espanhola) da Galiza. Essa língua comum- o galego-português ou galaico – português – é a forma que toma o latim no ângulo noroeste da Península Ibérica.

I –

Os Factos históricos

1 – A romanização da Península Ibérica

Os Romanos desembarcam na Península no ano 218 a. C. A sua chegada constitui um dos episódios da Segunda guerra Púnica. Dão cabo dos Cartagineses no ano de 209 e empreendem, então, a conquista do País. Todos os povos da Península, com excepção dos Bascos, adotam o Latim como língua e mais tarde, todos abraçarão o cristianismo.

A Península é inicialmente dividida em duas províncias (ver mapa 1) , a Hispania Citerior ( a região nordeste) e a Hispania Ulterior (a região sudoeste). No ano 27 a . C., Augusto divide a Hispania Ulterior em duas províncias: a Lusitânia, ao norte do Guadiana, e a Bética, ao sul. Posteriormente, entre 7 ª C. e 2 ª C., a parte da Lusitânia situada ao norte do Douro, chamada Gallaecia, e anexada à província tarraconense ( a antiga Hispania Citerior) . Cada província subdivide-se num determinado numero de circunscrições judiciárias chamadas conventus. Um exame rápido de mapa 1 da Península mostra que o actual território da Galiza espanhola e de Portugal corresponde, aproximadamente a quatro desses conventus – os de Lucus Augustus (Lugo), de Bracara (Braga), de Scalabis (Santarém) e de Pax Augusta( Beja). A área lingüística do que virá a ser o galego e o português delineia-se, pois, desde a época romana, no mapa administrativo do Ocidente Peninsular.

Mapa 1- A Espanha romana no tempo de Augusto

Nesse território, assim definido, a romanização fez-se de maneira mais rápida e completa no Sul do que no Norte. Os Gallaeci, em particular, que habitavam a zona setentrional, se comparados aos outros povos, conservam por mais tempo elementos da sua própria cultura.

2- Os Suevos e os Visigodos ( séculos V, VI e VII )

Em 409, invasores germânicos –Vândalos, Suevos e Alanos – afluem ao sul dos Pirinéus, seguidos, mais tarde, pelos Visigodos. Assim começa um dos períodos mais obscuros da história peninsular, que terminará em 711, com a invasão muçulmana. Os Alanos foram rapidamente aniquilados. Os Vândalos passaram para a África do Norte. Os Suevos, em compensação, conseguiram implantar-se e, por muito tempo, resistiram aos Visigodos, que tentavam reunificar a Península a seu favor. No século V o reino suevo era muito extenso, mas por volta de 570 reduziu-se à Gallaecia e aos bispados lusitanos de Viseu e Conímbriga. Em 585, esse território foi conquistado pelos Visigodos e incorporado ao seu Estado. No que diz respeito à língua e à cultura, a contribuição dos Suevos e dos Visigodos foi mínima. Tiveram um papel negativo: com eles a unidade romana rompe-se definitivamente e as forças centrífugas vão preponderar sobre as de coesão. Se o latim escrito se mantém como a única língua de cultura, o latim falado evolui rapidamente e diversifica-se.

3- A invasão muçulmana e a Reconquista

Em 711 os Muçulmanos invadem e em pouco tempo conquistam a Península Ibérica, com inclusão da Lusitânia e da Gallaecia. Estes Muçulmanos eram Árabes e Berberes do Maghreb. Tinham o Islão como religião e o árabe como língua de cultura, mesmo aqueles que falavam berbere. Os povos ibéricos chamaram-se << Mouros> (esp moros).

Partindo do norte, a reconquista cristã vai gradativamente expulsando os Mouros para o sul. É durante esta Reconquista que nascerá, no século XII, o reino independente de Portugal. Até por volta do ano 1000 a Espanha muçulmana domina os inimigos cristãos. É a época áurea do califado de Córdova. Em 997 Al-Mansur destrói Compostela. Mas no início do século XI os reinos cristãos iniciam um movimento ofensivo que se tornaria irresistível. Na região ocidental que nos interessa, Coimbra é reconquistada em 1064, Santarém e Lisboa em 1147, Évora em 1165, Faro em 1249. Com a tomada de Faro, o território de Portugal está completamente formado. O resto da Península só seria, porém, definitivamente reconquistado bem mais tarde, em 1492, quando os Reis Católicos se apoderam do reino de Granada.

 

 

Mapa 2 -Área primitiva do galego-português e da Reconquista

 

Adoptada pelos moçárabes do país, por todos os elementos alógenos participantes do repovoamento assim como pelos muçulmanos que aí haviam ficado, esta língua galego-portuguesa do Norte vai sofrer uma evolução gradativa e transformar-se no português. Em começos do século XIII, quando surgem os primeiros textos escritos, a reconquista militar e política está em vias de terminar, mas as suas conseqüências lingüísticas não tiveram tempo de manifestar-se: a língua literária que emerge então é o galego-português do Norte .

Texto digitado e divulgado pelo Instituto Culturas Lusófonas Antônio B Sampaio Elos Clube Uberaba.

http://www.ldc.com.br/iclas/

 

QUEM VOLTASSE ÀQUELES TEMPOS DE GAROTO

Por Moncho de Fidalgo

Espaço na Biblioteca Virtual Galega (Universidade da Corunha):
http://bvg.udc.es/ficha_autor.jsp?id=JosRodri&alias=José+Ramom+Rodrigues+F

http://www.bvg.udc.es/

 

 

"E que fazes por aqui tão de manhã, Jorginho?"

"Vim às cereijas, senhor António."

Eu andaria então pelos seis anos de idade. Naquela altura em Vila Velha havia muitas cerdeiras, ainda é hoje que me pergunto que é que lhes teria acontecido? Anos mais tarde disseram-me os entendidos do lugar que viera uma peste e morreram todas. Mágoa, eu é que me consumia, de miúdo, por aquele fruto vermelho, tão redondinho ele. Que belas imagens guardo daquelas polinguinhas todas cheias de bolinhas tão requintadas.

"Quem fora pega, senhor António, para poder abondar todas aquelas madurinhas que há no cimo!"

"Carácio, Jorginho, aguarda que com aquele lareiro que tenho lá de quando andamos nas castanhas havemos de sacudir mais uma."

Achávamo-nos no Fundo da Fonte. É um lameiro que os de Ferreirinho têm lindando com os eidos de Sangunhedo. Há uma corredoira que faz de regato quando as chuvas do inverno e à outra beira já é Sangunhedo, do concelho de Sárria.

Que desiludido estava eu por não ser um pássaro e assim abondar as bolinhas vermelhas!

O senhor António guardava nas vacas, era o pegureiro da casa de Ferreirinho. Acompanhado dalgum neto ou ele sozinho. Era eu ainda um rapazete imberbe quando ele finou mais ainda assim tenho muitas boas lembranças daquele homem. Bom amigo dos garotos, que para ser Vila Velha um lugar tão pequeno éramos uma cheia deles. Coetâneos meus que estão ainda vivos são o Carlos de Carreira, Queixomariu, Ricardo Aveiro, os dous de Petres, também o Daniel e o Tonho de Ferreirinho, já finados os dous. Ainda havia uns cinco ou seis, mas eles já eram moços, e outros tantos mais novos. Quando nos juntávamos nas devesas a jogar a pelota fazíamos duas equipas sem qualquer problema.

"Quando eu vim casar para Vila Velha, Jorginho, havia muita fome, naquela altura a gente trabalhava no campo só pela comida, e ainda bem se eras bom trabalhador, porque se assim não acontecia rejeitavam-te!! Que tempos, e após a República estiveram a passar-se cousas terríveis. "Lembro que o senhor António dizia aquilo entre soluços. Com efeito, cousas terríveis. "Viera por cá o Pequeninho do Íncio pedir-nos os votos... E como lhe não ias votar? era ele tão boa pessoa. Não queria despesa alguma por curar na gente pobre. Após aquilo que lhe acontecera a ele tínhamos muito medo, tiravam à gente das casa pelas noites, levavam-nos à Valinha e aí se achavam pelas manhãs a vários mortos."

"Quem era o Pequeninho do Íncio?" Perguntei à minha mãe em chegando à casa.

"Abençoado seja o senhor. Quem é que anda a contar-te nessas cousas meu neno?"

Eu fiz-me o parvo e continuei com a pergunta.

"Era o médico do Íncio, amigo do teu avô em paz esteja." Eu não acordei a meu avô, seica morreu quinze dias antes de eu nascer, por isso me asignaram o seu nome. "Ao pobrinho assassinaram-no os falangistas e depois não conformes ataram-no à cauda dum cavalo para que todo o povo o olhara morto, assassinos; mas essas cousas não é bom que tu as saibas, meu anjinho." E minha mãe colheu-me no colo e apertou-me forte a ela.

"Sou, sou, Sevarino de Albartiom!"

"Mas este pequeno toleou... vaia estrúcia na que deu."

A minha mãe não compreendia o muito que eu ficara impressionado com a visita dum maluco que por aquelas terras andara. Era uma mestura entre medo e admiração. Contaram-se tantas cousas daquele homem que eu estava impressionado.

Isto tinha lugar numa noite de inverno fecha de todo. Já morávamos na casa nova, que começara meu pai a construir no ano em que eu vim ao mundo. Mas ainda lembro a lareira da casa velha, todos arremoinhados a carão do lume e os maiores a contar contos. O senhor José de Carreira estivera na guerra de Cuba, contava histórias muito medonhentas.

A tampa da panela dançava empurrada pela fervura, os cachelos estavam presto... Na tijola fazia-se a fogo lento um apisto de tomate, cebola e pimentos... Quanto eu gostava, e ainda gosto, daquele prato tão simples e tão rico.

E pela manhã havia-se de produzir uma das cousas que mais têm marcado a minha vida. Deixava a escola do lugar para me incorporar a uma escola privada na vila de Sárria. Uns problemas, dos que já tenho falado noutros escritos, faziam incompatível à mestra do povo com a minha presença, ao igual que lhes tinha acontecido a outros coetâneos meus. A pergunta seria como é que o povo, a população havia de aturar qualquer capricho ora da mestra ora do senhor abade? A escola era uma ameaça terrível. Falar da "escola" com miúdos, era como falar na cruz com o demo! Não havia de ser a primeira vez mas impunha muito ir à vila para assistir à escola.

"E como vás fazer, lá tens que falar castelhano?" Disse-me o José Luís de Carreira. Já não lembro o que lhe respondi, mas o coração encolheu-se-me um anaco.

Naquela noite pouco dormi, meus pais não me ralharam em nada. Ia-me da casa não só eu, também o pai havia de ir ganhar francos à França para pagar uma dívida.

Pela manhã cedinho minha mãe atirou-me da cama, ainda o teve que fazer quase com violência. Eu me não queria descolar dos lençóis. Ir morar a Sárria e acima à escola, se batiam num como na escola da paróquia que havia de ser de mim!

Faltava meia hora para que o carro de linha regular passara pela Santa Cruz do Oural... Eu ia caminho da paragem, acompanhado da minha mãe, rezando para que o auto-carro tivera um acidente ou que suspenderam a linha... O bom seria que o Jorginho, indefeso ele, não chegara nunca a Sárria. Mas o auto-carro passou e eu fiquei sozinho em Sárria... E segundo minha mãe graças àquela "mestrinha" de Sárria é que eu aprendi a ler e escrever:

"Pois o rapaz tinha onze anos e não sabia pôr seu nome. Essas outras mestras que havia nas escolas públicas de Franco só se ocupavam dos rapazes dos ricos e de aprender-lhes a rezar e cantar o Cara al Sol, malandras."

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Dous quilômetros de caminho, quiçá mais quiçá menos? Mas aquela distância significava na realidade um oceano de lamas ou um porto custoso de lhe acadar o cúmio. Salvada essa distância de corgas fundas e lamas perigosas eis, pois, a estrada geral Lugo Monforte.

"Agora já ninguém lembra a corga da Arroteia nem o lamaçal da Serra... Mas havia que junguir duas parelhas boas de vacas ou de bois para transportar uma carrada de batatas ou qualquer outra mercadoria. Era do que se fazia um carto!" O Nemésio lembrava tempos idos, mas também guardava uma saudade grande daquele isolamento que fazia de Vila Velha um "país" mais livre e autóctone.

Com efeito, aquelas corgas ficaram todas baixo de centos de carradas de pedra que os vizinhos, sem qualquer ajuda, meteram lá.

Grande tipo aquele Nemésio, em paz esteja, o primeiro aparelho receptor de rádio trouxe-o ele:

"Que bem tocam no acordeão estes tipos... Dá gosto!"

Sempre sintonizava emissoras portuguesas para escutar melodias tocadas pelas mãos dalgum virtuoso acordeonista da outra banda do Minho.

"Ainda havemos de ir a escutá-los um dia, eh, Jorginho?" Eu botava muitas horas na sua casa. Ele era o pai de meu coetâneo Daniel Armesto.

"Havemos, ho!"

 

 

 

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Desde o "Coiso Velho" olha-se toda a Cervela. Ainda que o nome da Cervela abrange toda a paróquia, os de Vila Velha chamamos assim só às terras de perto da Igreja. E não só, também se vêem as terras de Vila de Mouros, Barbaím e até Bóbeda e Monforte... Eu guardava nas vacas. Naquela altura andaria pelos quinze ou dezasseis anos. É quando o Manolo do Clemente me propôs para eu ser um dos quatro dançarinos que intervêm na procissão da missa maior das festas da paróquia. Eu estava já nervoso, aquilo de actuar perante tanta gente como se concentrava naquela procissão eram palavras maiores!

"As festas da Cervela já não são o que antanho... Se calhar algum ano juntou-se tanta gente de merendas que todos os lameiros dos arredores ficaram pequenos para as acampadas. Vieram de todas as partes." O senhor Ramiro da caseta também guardava nas suas vacas num eido que linda com o nosso.

Há pessoas que não haviam de morrer nunca, o senhor Ramiro era um deles, neste caso porque ele falava o nosso idioma como os anjos... Mas, quiçá os anjos não falem, e se falassem teriam proibido a nossa língua por ordem da hierarquia!!

Era a primeira vez que eu ia dançar, e todas as noites havia que se exercitar, fazíamo-lo na reitoral, a casa do cura; mas já não morava nela porque D. José um bom dia decidiu ir-se para Madrid, seica por motivos de saúde. Agora é o pároco de Rubiám que vem dizer missa.

"Traz-nos aquela cadeira... Pom-ma aí. Esta é a Virgem do Rosário... tu, Pepinho, coloca-te mais alá, és a Santa Luzia!" O mestre, o Manolo do Clemente, faz como se as imagens dos santos estivessem em ringleira com uma separação entre eles duns três metros. Cada imagem seria transportada por quatro rapazes e a Santa Luzia por quatro moças. Na noite anterior "vestem-se" os santos, enfeitam-se todos com flores. Os dançarinos levam cada dançante um arco colhido com as duas mãos e todo ele recoberto de flores ou papelinhos de cores. Com estes arcos, em posição de coroa, vão-se fazendo vênias defronte à virgem do Rosário de dous em dous até três vezes... Para depois fazê-las os quatro dançarinos juntos, em ringleira e mirando sempre defronte à imagem da virgem e também três vezes. E assim continuariam outras cenas mais até rematar a procissão.

O mestre esforçava-se comigo já que eu era a primeira vez que ia dançar.

"Bem, bem... O Jorginho é que o faz chusco, sim senhor."

Daquilo não gostava eu porque se louvavam num e se no dia da verdade saía a cousa mal, ia arrepiar.

No final dos ensaios argalhávamos uma pequena "farra", era o pretexto para dançar, de mãos colhidas, com as rapariguinhas... Havia-as da paróquia mas também outras da cidade que se passavam na Cervela uns dias de férias.

Depois daquele ano vieram mais, eu era um dançarino titular. Foram anos incríveis de amores fugazes e sonhos arrumados por imperativo de uma realidade concreta. Mas confesso a minha satisfação.

Os dançarinos iam ataviados com uns "panos" que eram empréstimo de alguns vizinhos que os possuíam, muito escassos já que são peças únicas de até trezentos anos ou mais de existência.

Respeitei aquele dado, mas quando a senhora Filomena de Frugil mo emprestou falei-lhe destarte:

"Eu não posso acreditar..."

"É-che certo como a luz que nos alumia!"

Nos últimos anos importaram-se alguns de Portugal já que são idênticos aos nossos.

O tempo estava firme, não se mexia uma palha. De manhã cedo baixei para a Cervela, ainda havíamos de exercitar-nos um algo no sítio onde a cena teria lugar de verdade. "O dia chegou, Jorginho, tens que dançar para que a gente fique com a boca aberta!" Animava-me a mi próprio.

Quando se escutasse o primeiro foguete havíamos de avançar em formação, todos de uniforme de festa, com nossos panos, chapéus e arcos bem adornados. Também os moços e moças que haviam de portar as imagens dos santos, e também os miúdos para transportar ao São Roquinho e também a Cruz que abriria a procissão.

A orquestra já estava presta.

"Hão de tocar uma moinheira alegre." O mestre também é um dos dançarinos.

"É boa a de Chantada?"

"É boa."

E o foguete rompeu a tranquilidade, meu coração batia a cem... A orquestra iniciou a moinheira, a marcha começava. Ao passar à beira da gente faziam comentários:

"É o Jorginho?"

"É, é!"

"Ala Lugo!" Gritou o Nemésio de Ferreiro com sua expressão favorita. E eu ali com um nó na garganta que me não deixava viver. O murmúrio da gente dava-me confiança e mais ainda porque o mestre era a minha parelha de cerimónia, com ele a meu carão era avondo doado.

Sempre lembrarei aquela música da moinheira de Chantada. Que peça mais bela. O fado me depararia que anos, muitos anos após cá me acho intentando aprender a música da devandita peça. Certamente eu não serei um acordeonista tão bom como o Queixomariu, mas quiçá algum dia possamos tocar juntos nas festas da Cervela; e quem sabe, se calhar o Nemésio de Ferreiro desde a outra banda ainda nos bate palmas:

"Que tipos, como tocam, ala Lugo!"

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NÃO À GUERRA DO IRAQUE

Madrid, 2003.03.21

Embaixada Galega da Cultura

Embgalega@hotmail.com

… OU A QUALQUER GUERRA injusta, entendendo por injusta uma agressão sem causa justificada . Todas as guerras são atrozes, e esta é ainda mais porque só se persegue a dominação do petróleo. Quiçá em lugar da coca-cola haveria que beber "meca-cola?

A invasão muçulmana e a Reconquista são acontecimentos determinantes na formação das três línguas peninsulares- o galego-português a oeste, o castelhano no centro e o catalão a leste. Estas línguas, todas três nascidas no Norte, foram levadas para o Sul pela Reconquista. Nas regiões setentrionais, onde se formaram os reinos cristãos, a influência lingüística e demais regiões. No Oeste em particular, a marca árabo-islâmica é muito superficial ao norte do Douro, ou seja, na região que corresponde hoje à Galiza e ao extremo de Portugal. À medida que se avança para o sul, ela vai-se tornando mais saliente, sendo profunda e duradoura do Mondego ao Algarve. Foi na primeira destas regiões, ao norte do Douro- tendo talvez como limite extremo o curso do Vouga, entre o Douro e o Mondego -, que se formou a língua galego-portuguesa, cujos primeiros textos escritos aparecem no século XIII.

Na região meridional, o domínio muçulmano deixara subsistir uma importante população cristã de língua românica: os cristãos chamados moçárabes, palavra derivada de um particípio árabe que significa << submetido aos Árabes>>. Conhece-se pouco desses falares hispano-românicos, mas o suficiente para compreender que formavam, em toda a parte meridional da Península, uma cadeia contínua de dialectos bastante diferentes daqueles que, falados no Norte, serão mais tarde o galego-português, o castelhano e o catalão.

A Reconquista provocou importantes movimentos de populações. Os territórios retomados aos << Mouros>> estavam freqüentemente despovoados. Os soberanos cristãos << repovoaram>> esses territórios e entre os novos habitantes havia em geral uma forte proporção de povos vindos do Norte. Foi assim que o galego-português recobriu, pouco a pouco, toda a parte central e meridional do território português . O mapa 2 mostra os progressos sucessivos da frente cristã em 1064,1147, 1168 e 1249.

 

 

‘Hoje é o dia do reencontro do Brasil consigo mesmo’

(continuação da íntegra do discurso de posse de Lula). "A grande prioridade da política externa durante o meu governo será a construção de uma América do Sul politicamente estável, próspera e unida, com base em ideais democráticos e de justiça social. Para isso é essencial uma ação decidida de revitalização do Mercosul, enfraquecido pelas crises de cada um dos seus membros e por visões muitas vezes estreitas e egoístas do significado da integração. O Mercosul, assim como a integração da América do Sul no seu conjunto, é sobretudo um projeto político. Mas este projeto repousa em alicerces econômico-comerciais que precisam ser urgentemente reparados e reforçados. Cuidaremos também das dimensões social, cultural e científico-tecnológica do processo de integração. Estimularemos empreendimentos conjuntos e fomentaremos um vivo intercâmbio intelectual e artístico entre os países sul-americanos. Apoiaremos os arranjos institucionais necessários para que possa florescer uma verdadeira identidade do Mercosul e da América do Sul. Vários dos nossos vizinhos vivem, hoje, situações difíceis. Contribuiremos, desde que chamados e na medida de nossas possibilidades, para encontrar soluções pacíficas para tais crises, com base no diálogo, nos preceitos democráticos e nas normas constitucionais de cada país. O mesmo empenho de cooperação concreta e de diálogo substantivo teremos com todos os países da América Latina.

"Procuraremos ter com os Estados Unidos da América uma parceria madura, com base no interesse recíproco e no respeito mútuo. Trataremos de fortalecer o entendimento e a cooperação com a União Européia e seus estados membros, bem como com outros importantes países desenvolvidos a exemplo do Japão. Aprofundaremos as relações com grandes nações em desenvolvimento: a China, a Índia, a Rússia e a África do Sul, entre outras. Reafirmamos os laços profundos que nos unem a todo o continente Africano e a nossa disposição de contribuir ativamente para que ele desenvolva as suas enormes potencialidades.

"Visamos não só a explorar os benefícios potenciais de um maior intercâmbio econômico, e de uma presença maior do Brasil no mercado internacional, mas também a estimular os incipientes elementos de multipolaridade da vida internacional contemporânea. A democratização das relações internacionais, sem hegemonias de qualquer espécie, é tão importante para o futuro da humanidade quanto a consolidação e desenvolvimento da democracia no interior de cada Estado. Vamos valorizar as organizações multilaterais, em especial as Nações Unidas, a quem cabe a primazia na preservação da paz e da segurança internacional. As resoluções do Conselho de Segurança devem ser fielmente cumpridas. Crises internacionais como a do Oriente Médio devem ser resolvidas por meios pacíficos e pela negociação. Defenderemos um Conselho de Segurança reformado, representativo da realidade contemporânea, com países desenvolvidos e em desenvolvimento das várias regiões do mundo entre seus membros permanentes. Enfrentaremos os desafios da hora atual, como o terrorismo e o crime organizado, valendo-nos da cooperação internacional e com base nos princípios multilateralismo e do direito internacional. Apoiaremos os esforços para tornar a ONU e suas agências instrumentos ágeis e eficazes da promoção do desenvolvimento social e econômico, do combate à pobreza, às desigualdades e a todas as formas de discriminação, da defesa dos direitos humanos e da preservação do meio-ambiente.

"Sim: temos uma mensagem a dar ao mundo. Temos que colocar o nosso projeto nacional, democraticamente, em diálogo aberto com as demais nações do planeta. Porque nós somos o novo. Nós somos a novidade de uma civilização que se desenhou sem temor — porque se desenhou no corpo, na alma e no coração do povo, muitas vezes à revelia das elites, das instituições e até mesmo do Estado.

"É verdade que a deterioração dos laços sociais no Brasil nas últimas duas décadas — decorrente de políticas econômicas que não favoreceram o crescimento — trouxe uma nuvem ameaçadora ao padrão tolerante da cultura nacional. Crimes hediondos, massacres e linchamentos crisparam o país e fizeram do cotidiano, sobretudo nas grandes cidades, uma experiência próxima da guerra de todos contra todos.

"Por isso, inicio este mandato com a firme decisão de colocar o governo federal, em parceria com os Estados, a serviço de uma política de segurança pública muito mais vigorosa e eficiente. Uma política que, combinada com ações de saúde, educação, entre outras seja capaz de prevenir a violência, reprimir a criminalidade e restabelecer a segurança dos cidadãos e cidadãs. Se conseguirmos voltar a andar em paz em nossas ruas e praças, daremos um extraordinário impulso ao projeto nacional de construir, neste rincão da América, um bastião mundial da tolerância, do pluralismo democrático e do convívio respeitoso com a diferença.

"O Brasil pode dar muito a si mesmo e ao mundo. Por isso, devemos exigir muito de nós mesmos. Devemos exigir até mais do que pensamos. Porque ainda não nos expressamos por inteiro na História. Porque ainda não cumprimos a grande missão planetária que nos espera.

"Porque o Brasil, nesta sua nova empreitada histórica, social, cultural e econômica terá de contar — sobretudo — consigo mesmo. Terá de pensar com a sua cabeça, andar com as suas próprias pernas, ouvir o que diz o seu coração. E todos vamos ter de aprender a amar com intensidade ainda maior o nosso país. Amar a nossa bandeira, amar a nossa luta, amar o nosso povo.

"Cada um de nós, brasileiros, sabe que o que fizemos até hoje não foi pouco. Mas sabe, também, que podemos fazer muito mais.

"Quando olho para a minha própria vida de retirante nordestino, de menino que vendia amendoim e laranja no cais de Santos, que se tornou torneiro-mecânico e líder sindical, que um dia fundou o Partido dos Trabalhadores e acreditou no que estava fazendo, que agora assume o posto de supremo mandatário da nação, eu vejo e eu sei, com toda a clareza e com toda a convicção, que nós podemos muito mais. E que, para isso, basta acreditar em nós mesmos. Em nossa própria força, em nossa capacidade de criar, em nossa disposição para fazer.

"Estamos começando, hoje, um novo capítulo da História do Brasil. Não como nação submissa, abrindo mão de sua soberania. Não como nação injusta, assistindo passivamente ao sofrimento dos mais pobres. Mas como nação altiva, nobre, afirmando-se corajosamente no mundo. Como nação de todos, sem distinções de classe, de etnia, de sexo ou de crença.

"Este é um país que pode dar — e que vai dar — um verdadeiro salto de qualidade. Este é o país do novo milênio. Pela sua potência agrícola, pela sua estrutura urbana e industrial, por sua fantástica biodiversidade, por sua riqueza cultural, por seu amor à natureza, pela sua criatividade, por sua competência intelectual e científica, por seu calor humano, pelo seu amor ao novo e à invenção — mas, sobretudo, pelos dons e pelos poderes de seu povo.

"O que nós estamos vivendo hoje, neste momento, meus companheiros e minhas companheiras, meus irmãos e minhas irmãs de todo o Brasil, pode ser resumido em poucas palavras. Hoje é o dia do reencontro do Brasil consigo mesmo.

"Agradeço a Deus por chegar até onde cheguei: sou agora o servidor público número um do meu país.

"Peço a Deus sabedoria para governar, discernimento para julgar, serenidade para administrar, coragem para decidir e um coração do tamanho do Brasil para me sentir unido a cada cidadão e cidadã deste país no dia a dia dos próximos quatro anos."

guidasc@ldc.com.br
Texto digitado e divulgado pelo Instituto Culturas Lusófonas Antônio B Sampaio Elos Clube Uberaba.
por Magarida Silva.
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Redação: apartado dos correios, 24034-28080 Madrid
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