Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


13-12-2015

Estudo mostra que portugueses sabem usar voto preferencial


“Os debates sobre voto preferencial têm sido feitos sem teste”, lembra Marina Costa Lobo, em declarações ao PÚBLICO, acrescentando que até agora essas discussões “são feitas na base da troca de argumentos para lá e para cá, sobre se as pessoas têm capacidade de preencher o estudo, mas sem testar”.

Neste estudo foram comparados três tipos de votos: o tradicional (A), o preferencial com possibilidade de votar no partido ou no candidato (B) e o preferencial com a possibilidade de votar apenas em candidatos (C).

Marina Costa Lobo é peremptória a afirmar que os resultados mais interessantes são os apresentados pelo sistema de voto preferencial em que os eleitores tinham de escolher apenas os candidatos (boletim C). “Em Lisboa no boletim C houve apenas 7,5% de votos brancos e nulos, o que é de salientar”.

A investigadora explica que o boletim de voto C em Lisboa, onde há 47 candidatos, “era constituído por duas folhas A3”. O que a leva a concluir que “é muito bom e é contra o que é expectável”. Marina Costa Lobo adverte, porém, que em Lisboa “influi o facto de as listas terem nomes conhecidos que são os mais relevantes dos partidos”, por exemplo, os líderes “que foram escolhidos”.

Outra conclusão que Marina Costa Lobo salienta é a de que os eleitores que participaram neste estudo sabem o que estão a fazer, mesmo quando confrontados pela primeira vez com o sistema de voto preferencial. “Se as pessoas não votassem de acordo com as preferências do voto partidário e tivessem votado ao calhas teria sido mais dividido. As pessoas sabem que partido e olharam para a lista do seu partido”, defende a investigadora, concluindo que “não é uma escolha tão difícil como podia parecer, as pessoas já conhecem os partidos”.

No estudo, é explicado que “considerando o Boletim C, em que se pediu aos eleitores para votarem num candidato apenas, verificamos que vários candidatos que não são cabeças de lista são escolhidos. No entanto, a ordenação do partido continua a ser em parte validada, estabelecendo um equilíbrio entre o que são as escolhas dos eleitores e as preferências dos partidos”.

Equilíbrio eleitores-partidos
Pelo que os três autores concluem: “Em suma, se tivermos em atenção o risco de aumento de votos nulos e brancos, a par da capacidade de votar preferencialmente, inclinamo-nos em sugerir a implementação do Boletim C.” E argumentam que “ o boletim C é aquele que permite uma maior escolha de candidatos de forma preferencial, sem no entanto deixar de exprimir a escolha dos partidos, devido à ordenação inicial dos partidos e ao facto de se estabelecer um limiar onde só aqueles candidatos que obtém esse número de votos são eleitos”.

Daí que a investigadora conclua, em declarações ao PÚBLICO que a importância deste estudo é mostrar que “o voto preferencial não se sobrepõe aos partidos é um novo canal que se estabelece entre eleitores e eleitos”, pois “as pessoas continuam a votar no partido”.

Por outro lado, este sistema “”obriga a uma responsabilização maior dos deputados em relação ao seu círculo e têm de fazer mais campanha e serem mais activos para serem conhecidos” e logo escolhidos pelos eleitores.

http://www.publico.pt/politica/noticia/estudo-mostra-que-portugueses-sabem-usar-voto-preferencial-1717248