Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


15-12-2015

BRASIL EM TRANSE - ALÉM DO BOJADOR, ALÉM DA DOR


por Carlos Fino,jornalista, Brasília  A foto do perfil de Carlos Fino

Uma nova etapa da Operação Lava-Jato contra a corrupção foi hoje desencadeada pela Polícia Federal com mais de 50 mandados de busca e apreensão executados desde madrugada em todo o Brasil, incluindo na residência oficial do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, aqui em Brasília.

A nova etapa da Lava-Jato tem o nome de código de Operação Catilinária - uma alusão aos célebres discursos de Cícero contra Lúcio Catilina, que pretendia impor um golpe e dissolver o Senado romano: "Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?!".

As investigações, desencadeadas em Março de 2014, já levaram à detenção e condenação de dezenas de políticos, industriais e banqueiros e acabaram por gerar uma crise institucional, numa luta aberta entre poderes, de todos contra todos, que se veio juntar à crise económica e à crise moral e política, ameaçando paralisar o país.

O orçamento para 2016 ainda não foi aprovado porque parte dos deputados - incluindo do PMDB, aliado do PT no governo - fazem agora uma espécie de guerrilha institucional contra a presidente Dilma Rousseff, que querem ver afastada do poder num processo de impugnação.

O processo teve início, mas foi momentaneamente suspenso pelo Supremo Tribunal Federal/STF, órgão que aqui é correntemente solicitado a intervir, numa espécie de judicialização da política, que acaba também por provocar uma politização do judiciário, com os membros do STF a pronunciarem-se publicamente com frequência, defendendo posições contrárias uns contra os outros.

Falando hoje em cerimónia pública no Congresso, onde foi questionado sobre até onde iriam as investigações, o representante da Procuradoria Geral da República/PGR devolveu a questão, perguntando por seu turno até onde é que os investigados - actuais e futuros - tinham ido em termos de corrupção. E rematou, citando Fernando Pessoa, afirmando que pela sua parte a PGR irá até onde for preciso: "Se for necessário - disse - iremos além do Bojador, além da dor"..."

Foto de Carlos Fino.

Carlos Fino

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