Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


27-08-2016

O futuro da música angolana está muito bem entregue nas mãos de jovens talentosos, afirma Aline Frazão


A cantora e compositora Aline Frazão acredita que existe em Angola muitos músicos talentosos, e que a criação de plataformas como o Jazzmente, a Trienal de Luanda e outras que têm dado “espaço” a novos talentos, podem de facto proporcionar um pouco de estrutura do ponto de vista da exploração da música nacional.

Em geral, lamentou, em entrevista ao ONgoma, em Angola a falta de estruturas é transversal a outros sectores, sendo há muita coisa por se construir e um grande caminho pela frente. “Acredito que o futuro da música angolana está muito bem entregue nas mãos de jovens talentosos, com muita garra e dedicação”.

A artista, que foi a convidada da 9ª edição do Jazzmente, que aconteceu na passada quarta-feira no Restaurante Moments, em Luanda, revelou que tem acompanhado à distância a programação do ciclo de shows e reconheceu a qualidade dos músicos que a antecederam. “Para mim é um grande privilégio poder fazer parte deste núcleo, dar o meu contributo ao projecto e também apresentar-me com uma banda (com pessoas daqui), visto que já há algum tempo que isso não acontecia. Eu fiquei muito contente e aceitei logo o convite para participar no Jazzmente.”

Em justificação à inconstante actuação nos eventos nacionais, a cantora explicou que a banda que toca consigo está sediada em Lisboa, onde vive actualmente. “Por questões de logística e produção é muito complicado trazer a banda cá. Normalmente, apresento-me sozinha, uma vez que toco violão e porque é mais rentável, mas agora inaugura-se uma fase em que posso tocar finalmente com músicos de cá, e no fundo o Jazzmente acaba por ser um pretexto para tal”, disse, tendo acrescentado que,  apesar de regressar com muita frequência para Angola e passar alguma temporada cá, a razão que a leva a estar mais na Europa do que em Luanda tem a ver com o circuito de músicas do mundo que funciona muito bem lá.

“Trabalho com alguns agentes, o que possibilita-me a tocar em muitos países como Espanha, Áustria, Suíça, entre outros, e isso, creio eu, é o sonho de muitos artistas. Logo, é um pouco por esta razão que me tenho mantido fora, mas apesar desta rede de internacionalização do meu trabalho, sempre fiz questão de apresentar os meus discos cá e até mesmo em primeira-mão, por forma a manter Luanda dentro do meu circuito. O ‘Clave Bantu’, por exemplo, o meu primeiro álbum, foi apresentado no Festival Internacional de Jazz, quando ainda havia, sendo que o ‘Movimento’, o segundo, foi apresentado aqui durante três noites, em estreia absoluta na verdade, e o ‘Insular’, que também teve lançamento mundial, a sua estreia foi cá.

Aline Frazão referiu ainda que a receptividade do seu trabalho a nível internacional é muito boa, embora seja diferente de tocar para um público que entende o que se está a transmitir, ou seja, países de língua portuguesa como Portugal, Brasil ou Moçambique, este último onde pretende ir em digressão no próximo mês de Outubro. “Em países como Alemanha, por exemplo, o público é muito receptivo e sensível, mostra-se bastante surpreendido com a música angolana, e isto é bonito, porque no final acabam por agradecer-nos (a mim e a banda), dizem estar contentes e que esperam que a gente volte, mesmo quando no fundo não entendem as letras. Isso é o que de facto alimenta os retornos a várias cidades. É lindo de ver esta construção de público e interesse que existe pela música angolana, até mesmo em cidades que se calhar nunca tínhamos ouvido falar”, exprimiu.

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