Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


22-08-2016

Vovó Chipangara está zangada: assim se chama o mural do pintor, na Beira, que vai ser declarado património nacional de Moçambique.


 

 


A declaração deverá ser feita na quarta-feira pelo Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, no âmbito da visita que iniciou na segunda à província de Sofala, avançou à Lusa o Consulado Geral de Portugal na Beira.

No ano em que Malangatana Valente Ngwenha, falecido em 2011, completaria 80 anos, a iniciativa do consulado português, em parceria com o Ministério da Cultura e Turismo de Moçambique, devolveu, nas últimas semanas, vida ao mural, que se encontrava em avançado estado de degradação, pelas mãos do restaurador português Fernando Mariano, com a colaboração do moçambicano Jonas Tembe, do Museu Nacional de Arte de Maputo.

Trata-se de uma intervenção que "permitirá resgatar do esquecimento e destruição esta obra do maior pintor moçambicano", resumiu António Inocêncio Pereira, cônsul na Beira.

O restauro, com um custo calculado em mais de 500 mil meticais (sete mil euros), será integralmente suportado pela comunidade e empresas portuguesas na Beira.

"A melhor forma de homenagear Malangatana" refere o diplomata, "seria então tudo fazer para ajudar a reabilitar a sua 'Vovó Chipangara está zangada'", mural criado pelo artista em 1970, em pleno período colonial, na antiga galeria e auditório da Beira, atual casa da Cultura da província de Sofala.

O mural segue a narrativa anticolonial transversal no percurso de Malangatana, na Beira traduzida por um dos seus principais bairros, Chipangara (também conhecido como Espangara), e pela voz de uma "vovó", que, na tradição africana, "pelo menos os mais novos tinham que ouvi-la, até porque estava zangada", segundo o sociólogo e escritor Filimone Meigos.

Chipangara, prossegue o autor num texto escrito em 2012, era e continua a ser um bairro periférico, populoso e cujas "paupérrimas condições de vida" inspiraram Malangatana.

"A zanga significaria por hipótese o prenúncio de cansaço, do avizinhar-se da gota que transbordaria a água do copo que Espangara representava, a parte pelo todo, metonímica do Moçambique colonizado", observa Filimone Meigos.

A Beira acolhe, entre 24 e 28 deste mês, a nona edição do Festival Nacional da Cultura, com a presença prevista do chefe de Estado.

Também na Beira, o Centro Cultural e a Universidade Zambeze organizam, na sexta-feira, o seminário "Patrimónios: Modos de Olhar".

Trata-se de uma extensão na Beira de uma parceria com o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e o Centro Cultural Português de Maputo.

Ao longo de todo o dia, segundo um comunicado enviado à Lusa, investigadores do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e da Universidade Zambeze debatem a temática do património "a partir de uma perspetiva multidisciplinar, mas com enfoque na influência portuguesa".

O tema património é ainda alvo de uma exposição - "Património Arquitetónico Modernista na Cidade da Beira, patente na Galeria do Centro Cultural Português até 09 de setembro.

MURAL DE MALANGATANA DECLARADO PATRIMÓNIO NACIONAL MOÇAMBICANO

 

   
 

Mural de Malangatana declarado património nacional moçambicano

By Lusa

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