Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


01-05-2004

Embaixada Galega da Cultura - Renovação Núm 18-19


Moncho de Fidalgo

Histórias do pretérito

O velho caminha com a olhada extraviada no horizonte. É uma manhã fria do mês de Outubro. O ano está sendo abundante em chu­vas, o tempo meteorológico anda algo virado segundo os cientistas. Afirmam que acontece assim pela suba da temperatura da te­rra...Gases nocivos, experimentos militares, etc..

O "Passeio do Mar", chama-se assim por onde o velho escritor ca­minha, é uma rua que transcorre paralela à praia da vila marinheira onde o ficcionista escolheu para passar os últimos anos da sua vida.É muito popular entre as gentes, quase todos pescantins... Nunca an­tes tiveram uma personagem tão popular na vila.

As gaivotas voam perto do mar, o caminhante observa-as parado, arrumado à balaustrada que separa a praia do passeio... Uns rapazetes correm detrás duma bola de futebol pela areia, gritam, bulem. Quando passam à altura do homem solitário saúdam-no:

-Olá, " Senhor de Queixomariu"!

-Como lhe vai ?- pergunta outro.
O velho saúda-os com a mão e guarda silêncio
.
O mar está bravo, as ondas rojem com violência. Os rapazes
,

como imantados por aquele homem misterioso, amável como um ca­valheiro do século dezoito, recolhem a bola e caminham com ele. São cinco rapazes muito alegres.

-Senhor, como descansou hoje?

O velho, sorrindo, olhou-o de cima abaixo e articulou as primei­ras palavras:

-Bem... Muito obrigado homem! Tão decrépito estou?

-Nem falar! - Exclamou outro rapaz arregalando os olhos -. É que

o passamos muito bem com as histórias que vossa mercê nos conta. Essa linguagem na que nos descreve as cousas é "trangalhosa" !

-"Trangalhosa"? Quando eu era jovem diziam "fachendosa","Guai"...claro que eu nunca gostei dessas palavras vul­gares e alheias do nosso... Mas tudo muda.

-Como é que se faz chamar "Senhor de Queixomariu" se os livros tem-nos assinados com o seu nome verdadeiro? - Inquiriu outro rapaz que ainda não falara antes.

O velho perdeu a olhada no espaço infinito, umedeceram-se-lhe os olhos e guardou silêncio uns instantes.

-É uma história de amor, meu caro, muito bela. Aconteceu há muitos anos...Quiçá cinqüenta...Já choveu desde então.

-Certo! - Assentem os rapazes.

-Eu era um espírito rebelde morando em Madri. Vinte anos antes cometera um erro grave na minha vida. Ficara marcado...


 

-Que erro? - quase perguntaram todos à vez. O "Senhor de Queixomariu" passeia agora acompanhado dos rapazes que desfrutam dum dia sem aulas.

-Porque vivi vinte anos da minha vida sem viver de verdade, por esse motivo. Acaso com vinte e dous anos tinha eu que agüentar com uma situação de cadeia? Com uma mulher que ademais me não que-ria? Mas a história bonita aconteceu após aquilo...


 

-Conte, conte...


 

-Quando para mim a vida não tinha sentido no interior, no espí­rito... Nisso que se não vê mas dói muito!

-Que lho digam ao Xavier! - Exclamou o rapaz mais jovem do grupo.- Está namorado da filha da professora de "matracas"!

-Isso não é mau - continua o velho- sempre que a filha das "matracas" consinta! Os rapazes soltaram a rir a gargalhada.

-Já sei que a mãe da moça não é outra que a professora de mate­máticas! Mas voltando à história que nos ocupa dir-vos-ei que quando a vida para mim apenas tinha importância, incluso buscava a morte, não me apreciava a mi próprio, e isso é o mais terrível que lhe pode acontecer a um ser humano.

O escritor faz uma pausa para colher alento, observa uns segundos

o mar bravo, toca-se a longa barba com a mão esquerda e segue fa­lando:

-Mas quando tudo semelhava derrota, amargura, desilusão... Uma noite tépida do mês de Maio, acho que foi no mês das flores, decidi entrar num desses locais de baile nos que tocavam orquestras, vós já não acordais isso...E ali sentada numa cadeira, com outras moças, es­tava ela! A cara de Rosália, a nossa santinha.

- Mas Rosália não podia ser-se, caro "Senhor de Queixomariu"! -Disse todo alvoroçado o rapaz mais jovem.- Nessa altura já tinha morto...

O velho soltou a rir, os cativos também e uns contagiaram nos ou­tros... O "Senhor de Queixomariu" teve que sentar num dos bancos que há no passeio, não podia mais, o riso fadigou-o.

-Certo, meu filho, certo. Mas não era ela, a poetisa, era seu rosto; a cara duma mulher galega, eu dei em lhe chamar "menina". Ela foi quem me chamou "Senhor". Desde então faço-me chamar assim...

Os rapazinhos ficaram em silêncio algum tempo como adivin­hando o amor, quiçá a quantidade de amor que o "Senhor de Queixo­mariu" ainda guardava para a sua musa.

Foi o escritor que rompeu aquele silêncio embaraçoso:

-Então comecei a viver com uma paixão intensa a vida... Íamos de passeio, simplesmente caminhando já éramos felizes, estávamos muito namorados. E não vos conto mais porque depois ides copiar-me a história todos para um exercício de redação e a professora de literatura vai-vos suspender!


 

-Conte, conte... Faça o favor.

                        -Não copiamos...

                        -Não nos deixe assim!

 

-Tem que nos contar...

O velho ficou mirando para o único rapaz que não disse nada. As ondas furiosas rompem o silêncio. O rapaz baixou a cabeça e cravou a mirada no chão.

-Acaso, meu caro, a história repete-se? Anima-te, se agora a me­nina que amas te não corresponde, luta por ela. Logo sempre poderás dizer que não ficou pela tua culpa...

O rapaz ergueu a olhada para o "Senhor Queixomariu" e sorriu com aquela cara de anjo que dão os anos da juventude.

-Lutarei, senhor, lutarei até o final...

-Assim gosto eu dos homens!

-Senhor - o rapaz triste, que já deixara de está-lo, voltou a estar triste,- você lutou até o final?

-Lutei, lutei.

-Valeu de algo ?- perguntou o mais pequeno.

-Valeu... Parte da minha criação literária floresceu após ter conhe­cido a "menina"... Antes daquilo apenas cinco livros publicara. Ela foi a minha musa, foi para mim tudo. Perguntardes-vos onde está? Já fala­remos nisso. Passados os cinco primeiros meses, ou assim, ela fez a descoberta duma minha situação, não gostou dela e deixou-me.

O "Senhor de Queixomariu" pôs-se triste, voltou a olhada para

o mar, tocou-se a barba e fechou os olhos com força.

-O que é que era isso que ela achou?

-É longo de contar, a ela sim que lho expliquei com de­talhe...Algum dia saberdes o que é ter medo, angústia de que alguém a quem amardes vos deixe! O amor é certo que se baseia na sinceri­dade, e a gente conta as cousas segundo as vê... Contudo existem tan­tas sensibilidade, percepções diferentes, que sei eu, meus caros: "C´est la vie..."

E o pior de ter medo é que ninguém o perdoa!

-Que injusto... Até Pedro por medo negou a Cristo e foi santo, porquê ninguém o vai perdoar? - Enfureceu o rapaz que leva umas calças azuis e um casaco branco.

-Mas isso depende das alturas, meus amigos, na terra os humanos somos quiçá mais ingratos. Eu naquela altura desejava que ela tivera também um "pecado" semelhante ao meu para demonstrar-lhe que lho perdoava.. Mas ela era pura, estava limpa de "pecado", e quando digo pecado estou a construir uma metáfora.

-Senhor - interrompeu o rapaz mais alto dos cinco. - Não podemos aceitar que se martirize assim você! Ela seguro que não era uma santa, não existe isso!


 

-Ai, meus rapazes! Se vós conhecérais a "menina", é uma san­tinha, minha cara. É uma beleza comedida, oculta nos seu jeitos mo­derados e nas suas estritas e doces expressões.

-Meu senhor, quanto tempo faz que a não vê?

-Vexo-a todos os dias nos meus sonhos. Está presente na minha literatura, leio o publicado após daqueles anos e está comigo, ela mora em mim, na minha obra. Todas as noites me visita porque todas as noites releio nos meus livros.

Após aquele encontro dos rapazes com o "Senhor de Queixoma­riu" decorreram algumas semanas, quiçá meses... Os garotos perguntavam-se onde é que andaria o seu amigo, voltavam pelas tar-des ao passeio marítimo aguardando notícias até que um dia olharam passar um séquito funerário... Os pequenos arremoinharam escru­tando:

-Deve ser um morto importante, vai o alcaide e tudo!! - Exclamou um dos rapazes. Certamente, as câmaras da televisão faziam milagres! Todos os polí­ticos se penduravam agora dos méritos daquele velho escritor margi­nado noutros tempos por ele ser-se um radical da língua! - Dizia-se nas cofrarias oficiais...

Os sacerdotes cantavam canções de enterramento à vez que pediam pela alma do nosso ilustre Senhor de Queixomariu.

Páginas que pode visitar relacionadas com as nossas publicações:

 http://bvg.udc.es/ficha_autor.jsp?id =JosRodri&alias=Jos%E9+Ramom+Rodrigues+


 

F


 

Acostuma dizer-se que, a norte da raia, “fala-se galego”. De facto, “o
galego” (“el gallego”) é hoje reconhecido pelas autoridades espanho
-
las, que o consideram língua “própria” da Galiza (para elas “Galicia”)
,
ao mesmo tempo que “lengua también española”, como p.ex. n
a
Constituição espanhola ou no Estatuto de Autonomia da Galiza
.

E as “autoridades” linguísticas espanholas têm feito os máximos es-
forços por “provar” que essa língua falada a N da raia, que é cooficia
l
com o castelhano, não tem nada a ver com a que se fala a S da raia
,
que é oficial no Estado português
.
Ora, a realidade é que a verdadeira língua oficial da Galiza é a espan
-
hola, que é a língua que abrange todo o Reino de Espanha
.


 

“Existem grupos minoritários e independentes do oficialismo, que não estão dispostos a aceitar este “facto consumado” e que procuram falar e escrever bem o português. Naturalmente esses grupos são sanhudamente perseguidos”

E “o galego” são de facto “os galegos”, os falares, falas ou dialetos galegos da Galiza oficial (as quatro províncias da Corunha, Lugo, Ourense e Ponte Vedra) e mais da Galiza chamada “exterior” (Návia, Berzo e Seabra, comarcas ocidentais das Astúrias e de Leão), ou seja os dialetos portugueses do N da raia, em geral tanto mais castelhani­zados quanto mais distantes dela. Para esses dialetos, as autoridades espanholas inventaram uma “ortografia” espanhola, que reflete uma “ortofonia” também quase espanhola (quer dizer adatada à fonética dos hispanófonos galegos), e tornaram-na obrigatória nos centros de ensino e nas edições subsidiadas, banindo a ortografia e ortofonia re­almente próprias da língua, ou seja portuguesas: esta é a posição dita isolacionista, obediente às diretrizes dum partido político de âmbito estatal. Existem, claro, dissidências, grupos minoritários e indepen­dentes do oficialismo, que não estão dispostos a aceitar este “facto consumado” e que procuram falar e escrever bem o português, consi­derando que une e dá coesão a todos esses falares, e nos relaciona ca­balmente com o resto da Lusofonia, quer dizer que é a norma culta da nossa língua. Naturalmente esses grupos são sanhudamente perse­guidos e banidos do ensino e dos subsídios oficiais (como, aliás, nos melhores tempos da ditadura franquista). Mesmo assim, conseguem manter uma presença social muito superior ao seu número, publi­cando livros e revistas, celebrando congressos, seminários, etc., que nos derradeiros vinte anos têm alertado a sociedade galega para o pe­rigo da espanholização e exercido certa pressão nas opções filológi­cas até dos próprios isolacionistas. Há ainda uma posição intermédia, digamos quase lusógrafa mas não lusófona, ainda muito dependente do espanhol na grafia, na fonética e na morfologia e sintaxe, que pa­rece ter certas esperanças de ser aceite ou pelo menos tolerada pelo oficialismo. Os seus utentes, embora digam que a sua posição é tem­porária e que está a caminho do alvo final português, de facto cada vez mais ficam estacados num imobilismo cómodo ou docilmente submetidos à política linguística dum partido, e ainda pretendem “exportar” os seus produtos ao mundo lusófono, sem reparar que estão a criar confusão entre as pessoas lusófonas de boa vontade que realmente querem ajudar a Galiza na recuperação da sua língua. O que fazer? Certamente nós, a N da raia, temos muito que fazer para ampliar essas minorias críticas e continuar consciencializando as pes­soas. Mas a S da raia também os nossos irmãos transmontanos e min­hotos muito poderiam fazer para alentar a língua portuguesa na Galiza e recusar tanto o isolacionismo oficial como essas meias-tintas gráfi­cas e fonéticas, que afinal são mau português, e insistir num padrão correto para a nossa língua, seja ele o que se continua a empregar em Portugal ou o do ainda não ratificado Acordo da Ortografia Unificada de 1990, no que está explicitamente reconhecida a participação da Ga­liza.


 

A LINGUA DA GALIZA NÃO EXISTE PARA A ADMINISTRAÇÃO
ESPANHOLA
?
A LA MESA DEL CONGRESO DE LOS DIPUTADO
S

Francisco Rodríguez Sánchez, Diputado del GRUPO PARLAMENTARIO


 

MIXTO


 

Francisco Rodríguez Sánchez, Diputado del GRUPO PARLA­MENTARIO MIXTO (BNG), al amparo de lo dispuesto en el artí­culo 185 del Reglamento de la Cámara, presenta la siguiente pre­gunta para la que solicita respuesta por ESCRITO, relativa a discri­minación lingüística en el Registro Civil de Santiago de Compostela. La situación de indefensión de muchas personas en Galicia ante la discriminación lingüística que padecen por intentar vivir haciendo uso de su idioma, el gallego, resulta increíble desde una posición mí­nimamente democrática y de respeto por los derechos humanos fun­damentales. Y paradójica resulta cuando, además, el gallego tiene el reconocimiento de una lengua oficial en Galicia. El último episodio tiene que ver con un pasmoso hecho de discriminación lingüística en el Registro Civil de Santiago de Compostela. Al informarse sobre los trámites en este Registro para contraer matrimonio, una pareja se encontró con la sorpresa de que absolutamente ninguno de los docu­mentos que deberían rellenar estaban en gallego. Para algunos de estos formularios, los funcionarios le propusieron a la propia pareja que realizase la traducción, si los querían en lengua gallega. Adujeron que las versiones que había en castellano a dispo­sición de los usuarios las habían hecho ellos y no la Administración, de modo que no consideraban que fuese su obligación entregarlos en gallego. Para el caso de los impresos, oficiales, que deben cubrir tam­bién para poder contraer matrimonio civil, la única opción que se les dio a la pareja fue la de hacer una solicitud formal y esperar a que lle­gase la traducción al gallego, trámite que desde el propio Registro fe­chan en dos o tres meses. Para colmo, en este Registro Civil informaron a la pareja de que el juez que les correspondía no era de Galicia, por lo que, si querían que la boda fuese en gallego, les tendrían que poner un intérprete. ¿Hasta cuándo vamos a tener una Administración de Justicia que, en vez de estar al servicio de los ciudadanos y asumir la oficialidad del gallego, se comporta como un aparato burocrático insensible y des­pótico con uno de los derechos humanos más elementales, cual es el de las personas a ser atendidas en su lengua? ¿Cómo es posible que, a estas alturas, ninguno de los documentos que se deben rellenar en el Registro Civil para contraer matrimonio,


 

Esta proposta vai em espanhol porque se ela fosse em “galego” não seria atendida. ¿Cómo se puede llegar al increíble y dramático esperpento de que, si una boda se quiere en gallego, se deba poner un intérprete, aduciendo que el juez correspondient e no es de Galicia?


 


 

concretamente en Santiago, pero que es muestra de una situación ge­neral tenga versión en gallego? ¿Cómo se les puede dar, como única solución a los ciudadanos, si quieren cubrir impresos en gallego, la de hacer una solicitud formal y esperar a que llegue una traducción, trá­mite que el Registro fecha en dos o tres meses? ¿Cómo se puede llegar al increíble y dramático esperpento de que, si una boda se quiere en gallego, se deba poner un intérprete, aduciendo que el juez correspondiente no es de Galicia? ¿Qué medidas se van a tomar desde la Administración competente para que no se sigan produciendo estas situaciones de intimidación, burla, desprecio y prepotencia en un servicio encargado precisamente por velar por los derechos de los ciudadanos?. ¿Se piensa hacer una inspección para comprobar cuál es la situación de respeto por la oficialidad del gallego en el Registro Civil de San­tiago, en particular, y en los de Galicia, en general? ¿Quién está al servicio de quién, los ciudadanos al de la Administración o la Admi­nistración al de los ciudadanos? ¿Cuándo va a haber realmente una oficialidad real del gallego en la Administración de Justicia, y más concretamente en el Registro Civil?

11 de diciembre de 2003 Francisco Rodríguez Sánchez Diputado por A Coruña (BNG)

INQUÉRITO: 25% SENTEM-SE MAIS GALEGOS QUE ESPANHÓIS.

O jornal madrileno “El Mundo” (1-1-04) vem de publicar um inqué­rito realizado a finais de 2002 pelo organismo oficial espanhol CIS onde se revelam alguns dados, não só nas chamadas nacionalidades históricas (Galiza, Catalunha e País Vasco) o sentimento próprio é elevado, também nas regiões de Astúrias e Estremadura.

Galiza: A/ Sentem-se tão espanhóis como galegos: 58% País Vasco: A/ 34% Dados referidos ao País Vasco.

B/ Mais galegos que espanhóis:

25%

C/ Unicamente galegos:

7%

D/ Unicamente espanhóis:

5%

E/ Mais espanhóis que galegos:

4%

B+C= 32%

 

Catalunha: A/ 37% Dados referidos a Catalunha.

 

B/ 24%

 

C/ 16%

 

D/ 12%

 

E/

8%

 

B+C= 40%

 

 


 

B/ 19%

C/ 25%


 

D/ 5%

E/ 3% B+C= 44%


 

A DESUNIÃO IBÉRICA
Os verdadeiros propósitos da Espanh
a

À medida que cresce o número de artigos em defesa da União Ibérica, publicados no jornal português “O Dia”, lavrados por dois ou três plu­mitivos que qual recidiva doentia regressam incessantemente ao mesmo tema, vai-se avolumando no meu pensamento a dúvida se os hei-de ler com o espírito de alguma das bem-aventuranças que Cristo piedosamente nos legou ou se os devo perlustrar como mais uns da­queles “portugueses” sobre quem Camões, numa das estrofes do Canto IV dos Lusíadas, a propósito de Aljubarrota, nos deixou permanente e sábio alerta, e que em sucessivos momentos da nossa gesta colectiva renascem qual fénix imorredoura lembrando-nos per­manentemente quanta atenção e vigilância devemos ter para com al-guns que, estando ao nosso lado, errada e perigosamente julgamos serem dos nossos A união de Portugal com qualquer Estado poderia ser, sem dúvida, no plano meramente teórico, uma opção que pudés­semos equacionar ou mesmo tomar. Mas, com a vizinha Espanha, os Portugueses já conheceram uma funesta experiência, da qual se liber­taram tão depressa quanto puderam. E em variadíssimos momentos, antes ou depois de 1580, sabiamente recusaram tal ideia. Bem próximo de nós, um inteligente monarca soube prudentemente repudiar tal propósito, mesmo quando lhe propuseram serem ele e Portugal as cabeças reinantes dessa união. Mas, mais do que a experiência passada, é a inolvidável visão do presente que reprova tais néscios e perigosos sonhos. No entanto, o óbvio parece ser de difícil compreensão para certos intelectos: é a própria Espanha que, descrente numa impossível e várias vezes ten­tada e frustrada união, tem para com o nosso País, como mortífera e mais concrescível alternativa, um objectivo obsessivo permanente: a absorção total e irreversível de Portugal. Quem o não vê padece da mais completa cegueira fisiológica ou sofre de alguma ainda mais grave aporia do espírito impeditiva de vislumbrar o mais claro e ele­mentar. Porque, nesta temática, não estando remetidos ao excelso


 

“Com a vizinha Espanha, os Portugueses já conheceram uma funesta experiência, da qual se libertaram tão depressa quanto puderam”.


 


 

Era dia 9 de Dezembro de 1967. O Generalíssimo Franco convidara o Presidente da República de Portugal, o Almirante Américo Thomaz, para uma caçada.

mas nos movimentamos nos relevantes domínios humanos da polí­tica,esgotou-se-nos a compaixão e finou-se-nos a humana misericór­dia. Quando a gravidade do que se escreve atinge os píncaros do insu­portável e o descaminho da razão tange as alturas do inaceitável, resta-nos apenas esperar, para tais escribas, que os socorra uma luz divina como a que converteu Paulo de Tarso ou invocar o incomen­surável perdão do Criador para com tais espíritos transviados... Clemência, docilidade, silêncio ou condescendência são sentimentos que nos ficariam bem na Cidade de Deus, mas que não se esperem de nós na perversa, maligna e pérfida Cidade dos Homens onde Madrid, qual lobo disfarçado de cordeiro, caviloso e embusteiro, vagueia esfaimado e cobiçoso tragando pobres inocentes e deglutindo estólidos arautos de decrépitas e pérfidas novidades... Sem mais delongas, deixo aos nossos leitores um esclarecedor episó­dio sobre o que pensam os próprios Espanhóis acerca da União Ibé­rica. Eles, melhor do que nós, remetem essa imbecil quimera para o sítio onde há muito deveria estar: a lixeira da História, chão putredí­neo onde certos infelizes habitualmente vasculham algum manjar para alimentarem os seus débeis espíritos ou algum mantimento para nutrirem ambições de triste e vil destaque pessoal... Era dia 9 de Dezembro de 1967. O Generalíssimo Franco convidara o Presidente da República de Portugal, o Almirante Américo Thomaz, para uma caçada. Na comitiva ia o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal Franco Nogueira. Deste dia, o falecido chefe da diplomacia portu­guesa, deixa-nos um delicioso e interessantíssimo relato no seu diá­rio, publicado sob o título "Um Político Confessa-se". Depois da be­líssima descrição do campestre evento e das palavras breves que tro­cou com o governante espanhol, e após a considerações que teceu so­bre o Caudilho, Franco Nogueira dá-nos conta de uma preciosa e di­dáctica conversa que travou com o Capitão-General Agustín Muñoz Grandes, que foi Ministro da Defesa, Chefe da Casa Militar de Fran­cisco Franco, Chefe-do-Estado-Maior e Vice-do Governo. Eis as pa­lavras do nosso insigne diplomata e ministro: «Depois, faço escorregar a conversa para o iberismo, para a obsessão constante da Espanha, através de séculos e séculos, em anexar Portu­gal, e que pressinto hoje tão viva como sempre. Muñoz-Grandes, pes­soalmente um amigo e homem íntegro, reconhece que é assim. Co­menta com óbvia franqueza: «Eu lhe digo. Há, em relação a Portugal, duas classes de espanhóis. Há os que querem a integração, a anexação, o desaparecimento polí­tico de Portugal, e isso quase imediatamente, e por quaisquer meios que forem necessários.


 

E há os que desejam o mesmo objectivo, mas a conseguir gradualmente, em cinquenta ou setenta anos. Os primeiros são cerca de 90%,os segundos formam os restantes 10%. Isto faz parte da alma espanhola, não vejo como modificá-lo». E o capitão-general acrescenta muito seriamente, e com óbvia sinceri­dade, carregando no peito com a mão direita espalmada: «Acredite, eu faço parte dos dez por cento, não quero violências, tudo em amizade».Digo ao velho oficial que não duvido da sua franqueza sincera; mas peço-lhe que acredite também que o povo português não quer a união ibérica nem em cinquenta anos, nem em setenta, nemjamais. «É uma pena», remata o capitão-general com semblante su­cumbido». Para os desvairados militantes da União Ibérica, mais pa­lavras para quê?.


 

Mário Rodrigues


 


 

Crónica do Falar Lisboetês
De Vital Moreir
a


 

De súbito, o homem do quiosque de Lisboa a quem eu pedira os meus jornais habituais interpelou-me: "O senhor é do norte, não?" Respondi-lhe que não, que nasci na Bairrada e que resido há quase 40 anos em Coimbra. Fitou-me perplexo.Logo compreendi que do ponto de vista de Lisboa tudo o que fique para cima de Caneças pertence ao Norte, uma vaga região que desce desde a Galiza até as portas da capital. Foi minha vez de indagar porque é que me considerava oriundo do Norte. Respondeu de pronto que era pela forma como eu falava, querendo com isso significar obviamente que eu não falava a língua tal como se fala na capital, que para ele, presumivelmente, não poderia deixar de ser a forma autorizada de falar português. Foi a primeira vez que tal me aconteceu. Julgava eu que falava um português padrão, normalmente identificado como a forma como de falar grosso modo entre Coimbra e Lisboa e cuja versão erudita foi sendo irradiada desde o século XVI pela Universidade de Coimbra, durante muitos séculos a única universidade portuguesa. Afinal via-me agora reduzido à patológica condição de falante de um dialecto do Norte, um desvio algo assim como a fala madeirense ou a açoriana. Na verdade -logo me recordei - não é preciso ser especialista para verificar as evidentes particularidades do falar alfacinha (habitante de Lisboa) dominante. Por exemplo, "piscina" diz-se "pischinha", "disciplina" diz-se "dischiplina".


 

Julgava eu que falava um português padrão, normalmente identificado como a forma como de falar grosso modo entre Coimbra “A forma de falar lisboeta não se limita às classes populares, antes é compartilhada crescentemente por gente letrada e pela generalidade do mundo da comunicação audiovisual, estando por isso a expandir-se, sob a poderosa influência da rádio e televisão”.


 


 

E a mesma anomalia de pronúncia se verifica geralmente em todos os grupos "sce" ou "sci" : "crecher" em vez de "crescer", "seichentos" em vez de "seiscentos", e assim por diante. O mesmo se sucede quando uma palavra terminada em "s" é seguida de outra começada por "si" ou "se". Por exemplo, a expressão "os sinto­mas” sai algo parecida com "uchintomas", "dois sistemas" como "doichistemas". Ainda na mesma linha a própria pronúncia de "Lisboa" soa tipica­mente a "L´jboa". Outra divergência notória tem a ver com a pronúncia dos conjuntos "-elho" ou "-enho", que soam cada vez mais com "-ânho" ou "-âlho", como ocorre por exemplo em "coelho", "joelho", "velho", frequente­mente ditos como "coâlho", "joâlho" e "vâlho".Uma outra tendência cada vez mais vulgar é comer os sons, sobretudo a sílaba final, que fica reduzida a uma consoante aspirada. Por exemplo: "pov" ou "continent" em vez de "povo" ou "continente". Mas esta fonofagia não se limita as sílabas. Se se atentar na pronúncia da palavra "Portugal", ela soa muitas vezes como algo parecido com "P´rt´gâl".O que é mais grave é que esta forma de falar lisboeta não se limita às classes populares, antes é compartilhada crescentemente por gente letrada e pela generalidade do mundo da comunicação au­diovisual, estando por isso a expandir-se, sob a poderosa influência da rádio e televisão. Penso que não se trata de um desenvolvimento linguístico digno de aplauso: este falar português, cada vez mais cheio de "ches" e de "jes" é francamente desagradável ao ouvido, afasta cada vez mais a pronún­cia em relação a grafia das palavras e torna o português europeu uma língua de sonoridade exótica cada vez mais incompreensível para os espanhóis (apesar das facilidades com que nós entendemos a eles), mas inclusive para os brasileiros, cujo português mantém a pronúncia bem aberta das vogais e uma rigorosa separação de todas as sílabas das palavras. A propósito do portugês do Brasil, vou contar um pequena história que se passou comigo. Na minha primeira visita a esse país, fui uma vez convidado para um programa de televisão em Florianópolis (Santa Catarina). Logo me avisaram que precisava de falar devagar e tentar não comer os sons, sob pena de não ser compreendido pelo público brasileiro, que tem enormes dificuldades em compreender a língua comum, tal como falada correntemente em Portugal. Devo ter-me saído airosamente, porque, no final, já em "off" o entrevistador comentou: "O senhor fala muito bem português".


 

(Queria ele dizer que eu tinha falado um português inteligível para o ouvido brasileiro.) Não me ocorreu melhor que retorquir: * Sabe, fo­mos nós que o inventamos. Por vezes conto esta estória aos meus alunos de mestrado brasileiros, quando se me queixam de que nos primeiros tempos da sua estada em Portugal têm grandes dificuldades em perceber os portugueses, justamente pelo modo como o português é falado entre nós, especialmente no "dialecto" lisboetês corrente nas estações de televisão. Quando deixei o meu solícito dono do quios­que lisboeta do início desta crônica, pensei dizer-lhe em jeito de des­pedida, parafraseando aquele episódio brasileiro:

-Sabe, a língua portuguesa caminhou de norte a sul... Logo desisti, porém. Achei que ele tomaria a observação como uma piada de mau gosto. Mas confesso que não me agrada nada a ideia de que, por força de força homogeneizadora da televisão, cada vez mais portugueses sejam "colonoizados" pela maneira de falar lisboeta. E mais preocupado ainda fico quando penso que nesta altura provavel­mente teremos de falar em inglês. para nos entendermos com os es­panhóis e - ai de nós ! - talvez com os próprios brasileiros...

De Vital Moreira,
professor catedrático de português na Universidade d
e
Coimbra
.


 

ÚLTIMA AULA


 

O professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Weber Figueiredo, deu uma última aula para seus ex-alunos. Diante de uma platéia de formandos, acompanhados de seus pais, o professor para­ninfo da turma, discorsou sobre o Brasil. A aula dada no dia 13 de agosto, no auditório da UERJ, está sendo repassada pela Internet para profissionais e estudantes por causa de sua qualidade. Leia o que disse Weber Figueiredo:

"Ilustríssimos Colegas da Mesa, Senhor Presidente, meus queridos Alunos, Senhoras e Senhores. Para mim é um privilégio ter sido es­colhido paraninfo desta turma. Esta é como se fôra a última aula do curso. O último encontro, que já deixa saudades. Um momento fes­tivo, mas também de reflexão. Se eu fosse escolhido paraninfo de uma turma de direito,


 

“Confesso que não me agrada nada a ideia de que, por força de força homogeneizado ra da televisão, cada vez mais portugueses sejam "colonoizados" pela maneira de falar lisboeta”.


 


 

talvez eu falasse da importância do advogado que defende a justiça e
não apenas o réu
.
Se eu fosse escolhido paraninfo de uma turma de medicina, talvez e
u
falasse da importância do médico que coloca o amor ao próxim
o
acima dos seus lucros profissionais. Mas, como sou paraninfo de um
a
turma de engenheiros, vou falar da importância do engenheiro para
o
desenvolvimento do Brasil. Para começar, vamos falar de bananas
e
do doce de banana, que eu vou chamar de bananada especial, inven
-
tada (ou projetada) pela nossa vovozinha lá em casa, depois que vá
-
rias receitas prontas não deram certo. É isso mesmo
.
Para entendermos a importância do engenheiro vamos falar de bana
-
nas, bananadas e vovó. A banana é um recurso natural, que não so
-
freu nenhuma transformação. A bananada é = a banana + outros in
-
gredientes + a energia térmica fornecida pelo fogão + o trabalho d
a
vovó e + o conhecimento, ou tecnologia da vovó. A bananada é u
m
produto pronto, que eu vou chamar de riqueza. E a vovó
?
Bem a vovó é a dona do conhecimento, uma espécie de engenheir
a
da culinária. Agora, vamos supor que a banana e a bananada seja
m
vendidas. Um quilo de banana custa um real. Já um quilo da bana
-
nada custa cinco reais. Por que essa diferença de preços? Porqu
e
quando nós colhemos um cacho de bananas na bananeira, criamo
s
apenas um emprego: o de colhedor de bananas. Agora, quando
a
vovó, ou a indústria, faz a bananada, ela cria empregos na indústri
a
do açúcar, da cana-de-açucar, do gás de cozinha, na indústria d
e
fogões, de panelas, de colheres e até na de embalagens, porque tud
o
isto é necessário para se fabricar a bananada. Resumindo, 1kg de ba
-
nanad
a


 

agregada, e a sua fabricação criou mais empregos do que simples-
mente colher o cacho de bananas da bananeira. Agora vamos falar d
e
outro exemplo que acontece no dia-a-dia no comércio mundial d
e
mercadorias. Em média: 1kg de soja custa US$ 0,10 (dez centavo
s
de dólar), 1kg de automóvel custa US$ 10, isto é, 100 vezes mais
,
1kg de aparelho eletrônico custa US$ 100, 1kg de avião cust
a
US$1.000 (10 mil quilos de soja) e 1kg de satélite custa US$ 50.000
.
Vejam, quanto mais tecnologia agregada tem um produto, maior é
o
seu preço, mais empregos foram gerados na sua fabricação
.
Os países ricos sabem disso muito bem. Eles investem na pesquis
a
científica e tecnológica. Por exemplo: eles nos vendem uma placa d
e
computador que pesa 100g por US$ 250. Para pagarmos esta pla
-
quinha eletrônica, o Brasil precisa exportar 20 toneladas de minéri
o
de ferro. A fabricação de placas de computador criou milhares d
e
bons empregos lá no estrangeiro, enquanto que a extração do minéri
o
de ferro, cria pouquíssimos e péssimos empregos aqui no Brasil
.
O Japão é pobre em recursos naturais, mas é um país rico. O Brasil
é
rico em energia e recursos naturais, mas é um país pobre. Os paíse
s
ricos, são ricos materialmente porque eles produzem riquezas. Ri
-
queza vem de rico. Pobreza vem de pobre. País pobre é aquele qu
e
não consegue produzir riquezas para o seu povo. Se conseguisse, nã
o

seria pobre, seria país rico.Gostaria de deixar bem claro três coisas: 1º) quando me refiro à palavra riqueza, não estou me referindo a jóias nem a supérfluos. Estou me referindo àqueles bens necessários

para que o ser humano viva com um mínimo de dignidade e conforto; 2º) não estou defendendo o consumismo materialista como uma forma de vida,


 

“Os projetos, a tecnologia, o chamado pulo do gato, ficam no estrangeiro, com os verdadeiros donos do negócio”

muito pelo contrário; e
3º) acho abominável aqueles que colocam os valores das riqueza
s
materiais acima dos valores da riqueza interior do ser humano. Exis
-
tem nações que são ricas, mas que agem de forma extremamente po
-
bre e desumana em relação a outros povos
.
Creio que agora posso falar do ponto principal. Para que o noss
o
Brasil torne-se um País rico, com o seu povo vivendo com dignidade
,
temos que produzir mais riquezas. Para tal, precisamos de conheci
-
mento, ou tecnologia, já que temos abundância de recursos naturais
e
energia. E quem desenvolve tecnologias são os cientistas e os engen
-
heiros, como estes jovens que estão se formando hoje. Infelizmente
,
o Brasil é muito dependente da tecnologia externa
.
Quando fabricamos bens com alta tecnologia, fazemos apenas a part
e
final da produção. Por exemplo: o Brasil produz 5 milhões de televi
-
sores por ano e nenhum brasileiro projeta televisor. O miolo da TV
,
do telefone celular e de todos os aparelhos eletrônicos, é todo impor
-
tado. Somos meros montadores de kits eletrônicos. Casos semelhan
-
tes também acontecem na indústria mecânica, de remédios e, incrí
-
vel, até na de alimentos
.
O Brasil entra com a mão-de-obra barata e os recursos naturais. O
s
projetos, a tecnologia, o chamado pulo do gato, ficam no estrangeiro
,
com os verdadeiros donos do negócio. Resta ao Brasil lidar com a
s
chamadas caixas pretas. É importante compreendermos que os dono
s
dos projetos tecnológicos são os donos das decisões econômicas, sã
o
os donos do dinheiro, são os donos das riquezas do mundo. Assi
m
como as águas dos rios correm para o mar, as riquezas do mundo co
-
rrem em direção aos países detentores das tecnologias avançadas.
A
dependência científica e tecnológica acarretou para nós brasileiros
a
dependência econômica, política e cultural
.


 

Não podemos admitir a continuação da situação

esdrúxula, onde 70% do PIB brasileiro é controlado por não residen­tes. Ninguém pode progredir entregando o seu talão de cheques e a chave de sua casa para o vizinho fazer o que bem entender. Eu tenho a convicção que desenvolvimento científico e tecnológico aqui no Brasil garantirá aos brasileiros a soberania das decisões econômicas, políticas e culturais. Garantirá trocas mais justas no co­mércio exterior. Garantirá a criação de mais e melhores empregos. E, se toda a produção de riquezas for bem distribuída, teremos a erradi­cação dos graves problemas sociais. O curso de engenharia da UERJ, com todas as suas possíveis deficiências, visa a formar engenheiroscapazes de desenvolver tecnologias. É o chamado engenheiro de con­cepção, ou engenheiro de projetos. Infelizmente, o mercado desna­cionalizado nem sempre aproveita todo este potencial científico dos nossos engenheiros. Nós, professores, não podemos nos curvar às de­formações do mercado. Temos que continuar formando engenheiros com conhecimentos iguais aos melhores do mundo. Eu posso garantir a todos os presentes, principalmente aos pais, que qualquer um destes formandos é tão ou mais inteligente do que qualquer engenheiro americano, japonês ou alemão. Os meus trinta anos de magistério, le­cionando desde o antigo ginásio até a universidade, me dá autoridade para afirmar que o brasileiro não é inferior a ninguém, pelo contrário, dizem até que somos muito mais criativos do que os habitantes do chamado primeiro mundo. O que me revolta, como professor ci­dadão, é ver que as decisões políticas tomadas por pessoas desprepa­radas ou corruptas são responsáveis pela queima e destruição de inte­ligências brasileiras que poderiam, com o conhecimento apropriado, transformar o nosso Brasil num país florescente, próspero e social-mente justo. Acredito que o mundo ideal seja aquele totalmente glo­balizado, mas uma globalização que inclua a democratização das de­cisões e a distribuição justa do trabalho e das riquezas. Infelizmente, isto ainda está longe de acontecer, até por limitações físicas da pró­pria natureza. Assim, quem pensa que a solução para os nossos pro­blemas virá lá de fora, está muito enganado. O dia que um presidente da República, ao invés de ficar passeando como um dândi pelos pa­lácios do primeiro mundo, resolver liderar um autêntico projeto de desenvolvimento nacional, certamente o Brasil vai precisar, em todas as áreas, de pessoas bem preparadas. Só assim seremos capazes de caminhar com autonomia e tomar decisões que beneficiem verdadei­ramente a sociedade brasileira. Será a construção de um Brasil real-mente moderno, mais justo, inserido de forma soberana na economia mundial e não como um reles fornecedor de recursos naturais e mão­de-obra aviltada.


 

“Acredito que o mundo ideal seja aquele totalmente globalizado, mas uma globalização que inclua a democratização das decisões” “A ideia de Feijoo era a de manter viva a música popular, dando-a a conhecer a um público urbano”


 


 


 


 

Quando isto ocorrer, e eu espero que seja em breve, o nosso País po­derá aproveitar de forma muito mais eficaz a inteligência e o preparo intelectual dos brasileiros e, em particular, de todos vocês, meus queridos alunos, porque vocês já foram testados e aprovados. Final-mente, gostaria de parabenizar a todos os pais pela contribuição posi­tiva que deram à nossa sociedade possibilitando a formação dos seus filhos no curso de engenharia da UERJ. A alegria dos senhores, tam­bém é a nossa alegria. Muito Obrigado."

(Fonte: Revista Consultor Jurídico, 29 de agosto de 2003.)

1904-2004 CENTENÁRIO DO DISCO GALEGO

A empresa de documentação musical Ouvirmos, com o patrocínio da Câmara Municipal de Ponte Vedra e a colaboração da Rádio Galega e do Museu de Ponte Vedra, acaba de reeditar o primeiro documento sonoro em galego: o disco de 1904 do Coro Aires da Terra. Trata-se das 18 melodias impressionadas pelo laboratório rodante da Compagnie Française du Gramophone no quadro da sua estratégia para a difusão do seu novo invento: o gramofone. Para além de ser o primeiro documento sonoro da música galega, é também a primeira gravação do som de instrumentos como a gaita-de­foles e a sanfona. Cem anos depois Ouvirmos, dentro da sua colecção de documentos sonoros "A Tiracolo", apresenta o disco-livro Aires da Terra - 1904. O texto documental foi redigido por José Luis Calle. Conta com abun­dante material gráfico: a primeira etiqueta num disco galego, a foto­grafia do estúdio móvel que percorreu a Península a realizar as gra­vações... Aires da Terra, o pioneiro dos coros galegos, foi fundado em 1883 por Perfecto Feijoo Poncet (1858-1935), farmacêutico e gaiteiro ponteve­drês. Feijoo é a figura máxima da sua época no que diz respeito à dignificação e divulgação da música tradicional. A ideia de Feijoo era a de manter viva a música popular, dando-a a conhecer a um público urbano, desenvolvendo formas simples com técnica académica sobre ares de gosto popular e mesmo compondo cenas e quadros vivos e evocações de festas e romagens. No início das formações corais considerava-se prioritária a idéia da redenção do folclore, da salvação da cultura rural.

www.ouvirmos.com


 

Fundada em 1992 por iniciativa dos municípios do Porto e Vigo, a associação transfronteiriça do Eixo Atlântico nunca se deparou com desafios tão ambiciosos como os actuais. Cada vez mais se torna im­periosa a necessidade de afirmação junto de Madrid e Lisboa e, sobre­tudo, Bruxelas, sendo cada vez mais os projectos conjuntos apresenta­dos a fundos comunitários e negociados directamente com a União Europeia.

O turismo Uma cooperação integrada a nível de transportes e comunicações, apresenta-semas também de combate à exclusão social. O turismo apresenta-se também como também como uma das áreas mais competitivas desta euroregião. Ao uma das áreas ponto de um dos projectos prioritários do Eixo ser a criação de uma mais marca comum e a sua promoção internacional. competitivas


 

desta


 

Essa é pelo menos a vontade de Rui Rio, presidente da Câmara do euroregião.Porto, que preside ao Eixo Atlântico desde Junho de 2003. Os pri­meiros passos começaram já a ser dados com a promoção da Galiza no norte de Portugal e vice-versa. Por toda a região autónoma espan­hola figuram já cartazes de promoção ao Euro 2004, acompanhados de informação promocional das cidades nortenhas que serão palco do evento.

Em Portugal, os galegos convidam a uma visita no âmbito das come­morações religiosas do Ano Santo/Jacobeo 2004, onde todos os ca­minhos vão dar a Santiago de Compostela. As vias de comunicações são fundamentais para esta afirmação e, nesse âmbito, a ligação em TGV, entre o Porto e Vigo, será obrigatória.

Foram os galegos que sempre fizeram maior pressão para que a linha se tornasse uma realidade. Agora, também o Governo português con­sidera a ligação prioritária. A primeira em comboio de alta velocidade em direcção ao exterior. A data apontada para a abertura desta linha, que permitirá viagens rápidas, desde o norte de Portugal até França, é 2008. Embora o Governo de Madrid já tenha feito saber que esta li­gação não é prioritária, para os 18 municípios do Eixo este é o grande projecto que permitirá aumentar a competitividade da euroregião.


 

Alfredo Teixeira.


 


 

Este é o título dum correio recebido do amigo Luís, é constatação duma realidade oficial na Galiza. Com estes representantes “galegos” é possível alguma outra unidade?.

Olá,

Tive a sorte de assistir a esse encontro no Porto e foi muito interessante, aliás também a conferencia dum Engenheiro da UP; Álvaro Costa, que falou da Unidade Norte de Portugal a Galiza. Um dos factos mais interessantes foi o da potenciação dos Aeroportos de Compostela e Porto frente aos de Vigo e Crunha que são absolutamente contraproduzentes para o desenrolo de GZ-NP.

O pior do Encontro forom os "não_representantes" chegados em nome da Junta da Galiza... Dois espanhois (e dizer, staff colonial) falando num perfeito castelhano e sem a mais mínima ideia do que é isso de Norte de Portugal a Galiza. Verdadeiramente Lamentável!!!! A verdade é que não quero imaginar o que dizerom pois por uma questão de dignidade levante-me da cadeira e marchei quando começarom a falar.

Luís Magarinhos


 


 

Hispânicos dos EUA Preferem Notícias em Inglês
Por PABLO BACHELET, Reuters (Público
)


 


 

Quinta-feira, 22 de Abril de 2004 A maioria dos hispânicos residentes nos Estados Unidos usam a lín­gua inglesa para se informarem, apesar da variada oferta de alternati­vas em espanhol, o que influencia os seus pontos de vista relativa­mente a assuntos-chave como imigração, eleições presidenciais e guerra no Iraque, revela um inquérito divulgado na segunda-feira. A preferência pelo inglês entre os hispânicos - expressão utilizada nos EUA para designar a população oriunda dos países americanos de língua espanhola - é alargada e inclui falantes nascidos na Amé­rica Latina, de acordo com um inquérito do Pew Hispanic Center. Apenas os imigrantes mais recentes manifestam uma clara preferên­cia pelas fontes noticiosas em espanhol. Quarenta e quatro por cento dos latinos consomem notícias em am-bas as línguas, 31 por cento apenas em inglês e só 24 por cento utili­zam apenas fontes em espanhol. Três quartos dos hispânicos recebem pois notícias em inglês, e dois terços recebem notícias em espanhol. Muitos hispânicos usam ambas as línguas para se manterem informa­dos, mas "com o tempo, os imigrantes latinos migram firmemente dos meios em espanhol para os meios em inglês", diz-se no referido estudo. As notícias em espanhol são a escolha de 47 por cento dos que vivem nos Estados Unidos há doze anos ou menos. O número cai para 31 por cento quando se considera os que vivem no país há 13 anos ou mais. "Dado que a maioria dos latinos adultos nasceram ou fora dos Estados Unidos ou em Porto Rico, um estado associado dos EUA onde o espanhol é a língua dominante, os resultados do inquérito mostram que os meios noticiosos em inglês têm um alcance extraor­dinário", lê-se no relatório respectivo. Ao contrário de outros grupos imigrantes, os latinos têm uma oferta noticiosa diversificada na sua língua-mãe, desde a Univision Communications Inc. e o Telemundo Communications Group (da NBC) aos jornais "La Opinion" e "El Nuevo Herald". Os hispânicos constituem o maior grupo minoritário nos Estados Unidos, representando 13,5 por cento da população. O inquérito, com uma margem de erro de 3,4 pontos percentuais, revelou que muitos hispânicos tendem a alternar entre as línguas de onde obtêm as notícias, preferindo a informação em espanhol para se manterem a par dos acontecimentos nos seus países de origem. Comparados com os imigrantes que recebem as suas notícias em espanhol, os latinos de língua inglesa "têm perspectivas menos favoráveis sobre os imigrantes indocumentados, são mais cépticos quanto às políticas da Administração Bush no Iraque e confiam me-nos nas organizações noticiosas", diz-se no relatório. Questionados sobre se pensavam que a administração Bush tinha enganado o público deliberadamente sobre a ameaça iraquiana antes da guerra, 60 por cento dos latinos que obtêm as suas notícias em in­glês concordaram. Comparativamente, 51 por cento dos que se infor­mam através de notícias em espanhol disseram que a administração enganou o público. A língua inglesa é ainda mais dominante entre os potenciais votantes latinos, dos quais apenas seis por cento dependem apenas dos meios em espanhol.


 


 

Quarenta e quatro por cento dos latinos consomem notícias em ambas as línguas, 31 por cento apenas em inglês e só 24 por cento utilizam apenas fontes em espanhol


 

Redação: apartado dos correios, 24034-28080 Madrid



 

 http://www.agal-gz.org/modules.php?name =News&file=article&sid=1033

Conselho: Moncho de Fidalgo, Tomé Martins, Suzana Couceiro, R.
Queixomariu Fidalgo, Roi da Bolandeira, J.L. Galego, J. Luís A
.
Fernando do Savinhão. Ricardo A. Windsor
.

Nem Renovação nem as pessoas que compõem a
Embaixada Galega da Cultura se responsabilizam das opiniões individuais assinadas o
u
de grupos identificados cujas idéias possam ser referenciadas ou comentadas
.

Nota do Conselho. Retificamos uma gralha do número 17:

“Acadêmicos e associações querem que se fale o galego-português; por J.B. César do semanário Transmontano e não Mário Rodrigues que por um lapso figura como autor”