Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


08-08-2017

RAPOSO TAVARES - O ALENTEJANO QUE DESBRAVOU O BRASIL


O Brasil fez-se enorme com este herói/vilão dos confins do Alentejo

António Raposo Tavares nasceu numa pequena aldeia de Mértola em 1598 e daqui partiu com 20 anos rumo ao Brasil para realizar a primeira expedição de reconhecimento geográfico entre o Atlântico e a cordilheira andina, o trópico de Capricórnio e o Equador. Percorreu 12.000 quilómetros.

CARLOS DIAS 

7 de Agosto de 2017, 9:06Partilhar notícia

 

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O Brasil nasceu modesto comparativamente com o território que hoje ocupa. A parte que cabia a Portugal, fruto da divisão imposta pelo Tratado de Tordesilhas, não passava de uma faixa de terra ao longo do litoral atlântico com 2,8 milhões de quilómetros quadrados de superfície. Mal o acordo entre os monarcas ibéricos foi selado, a pressão castelhana procurou anular a presença portuguesa na América do Sul. A resposta foi dada por aventureiros, que se embrenharam mata adentro para estender as fronteiras o mais longe possível da costa. Nesta imensa empreitada destacou-se um português nascido numa pequena aldeia do Alentejo profundo e que ajudou a criar o quinto maior país do mundo. 

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Esses grupos de exploradores, conhecidos por bandeirantes, saíam, entre os séculos XVI e XVIII, do planalto de Piratininga, onde hoje emerge a cidade de S. Paulo, e rumavam ao desconhecido, por sua conta e risco, para materializar o alargamento dos limites territoriais do maior país da América do Sul . Hoje, a nação brasileira cobre uma superfície com 8,5 milhões de quilómetros quadrados. 

António Raposo Tavares, que nasceu em 1598 em S. Miguel do Pinheiro, uma pequena aldeia do concelho de Mértola, junto à fronteira com o Algarve, “foi o maior de todos os bandeirantes”, assinala o historiador português Jaime Cortesão na sua obra “Raposo Tavares e a formação territorial do Brasil”, editada em 1958.

Entre a luz e a sombra

Nascido no seio de uma família suspeita de seguir a estrela de David, “o mais temível dos bandeirantes” era judeu cristão-novo e tivera problemas com a Inquisição, pormenor que explicará a sua permanente oposição à autoridade eclesiástica, como veio a revelar o percurso da sua vida.

Órfão, ainda criança, de mãe cristã-nova, viveu até aos 18 anos com a madrasta, também ela várias vezes presa pela Inquisição sob a acusação de "judaísmo". Anita Novinsky, professora na Universidade de S. Paulo, consultou na Torre do Tombo documentos que diz comprovarem a ascendência judaica de boa parte dos bandeirantes, entre eles Raposo Tavares.

O pai, Fernão Vieira Tavares, partidário de D. António Prior do Crato, administrava os dinheiros da Santa Sé gerados em Portugal até que foi acusado de ter “desfalcado o papado, pelo que acabou por perder todos os seus bens”, descreve o historiador António Borges Coelho. As contingências de uma vida atribulada forçaram-no a uma carreira no Brasil, para onde parte em 1618, a convite do conde de Monsanto donatário da capitania de S. Vicente. O filho, que já completara os 20 anos, acompanha-o.

A faceta rebelde de Raposo Tavares só viria a revelar-se após a morte do pai em 1622. Nessa altura residia num pequeno lugarejo no planalto de Piratininga, onde hoje se localiza a cidade de São Paulo, fundada pelos jesuítas em 1554. Foi ali que nasceu todo o seu entusiasmo e aptidão pelo principal modo de vida paulista: formar expedições para escravizar índios que viviam nos territórios na posse de Castela.

As actas da câmara de S. Paulo, em 1627, já denunciavam o jovem nascido no Alentejo “como amotinador do povo”, acusado de “matar e escravizar índios, espalhando sangue e desolação”.

 

O Brasil fez-se enorme com este herói/vilão dos confins do Alentejo

 

   
 

O Brasil fez-se enorme com este herói/vilão dos confins do Alentejo

Carlos Dias

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