Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


27-08-2008

Cronologia da vida e obra de Euclides da Cunh, autor de Os Sertões


Cronologia da vida e obra de Euclides da Cunha, autor de Os Sertões.



- Euclides da Cunha nasceu a 20 de janeiro de 1866 na Fazenda Saudade, Santa Rita do Rio Negro, Cantagalo, Rio de Janeiro (Brasil), permanecendo lá até completar 3 anos de idade.

- 1868 - Falece D. Eudóxia Moreira da Cunha, mãe de Euclides.


Pais e Euclides

- Aos 4 anos de idade, órfão de mãe, Euclides passa a ser criado pela tia Rosinda Gouveia, em Teresópolis. Permanece lá até 1870.

- 1871 - Morre tia Rosinda.
São Fidélis = tia Laura Moreira Garcês, na Fazenda São Joaquim, São Fidélis (Rio de Janeiro).

- 1875 - Em São Fidélis (RJ), aos 10 anos de idade, Euclides inicia os primeiros estudos  no Colégio Caldeira (com o professor Francisco José Caldeira da Silva). Ele permanece lá até 1879, quando completa 14 anos de idade.

- 1877 - Manuel Rodrigues Pimenta da Cunha, pai de Euclides, vai para o Rio de Janeiro. Euclides fica com seu tio, Antônio Pimenta da Cunha.

- Salvador = casa da avó, onde ficou 1 ano (11-12 anos de idade).
Avó = Teresa Maria de Jesus, avô = Joaquim Antônio Pereira Barreto. Colégio Carneiro Ribeiro.

- EC volta para o Rio –  tio Antônio Pimenta da Cunha, largo da Carioca. Colégio Vitória da Costa – 1880 -1882. Colégio Menezes Vieira, rua dos Inválidos.
1883  - Curso de preparatórios do Colégio Aquino (2 anos).

- Aulas com Benjamin Constant – República. 
4 de abril de 1884 – “Em viagem” – O Democrata.
“O progresso envelhece a natureza, cada linha do trem de ferro é uma ruga e longe não vem o tempo em que ela, sem seiva, minada, morrerá!”

- “Ondas” – caderneta de poemas. Capa: “14 anos” . Em 1906: “Eu tinha 15 anos. Contém, pois, a tua ironia, quem quer que sejas.”

1888
•Euclides foi desligado da carreira militar, sob pretexto de incapacidade física.
•Protestou à frente do ministro da Guerra, Tomás Coelho.
•22 de dezembro – estréia na imprensa diária – defesa de revolução política. “A pátria e a dinastia” – “A província de São Paulo”. Assinou: EC.

- 17 de maio de 1889
“Da corte” 1º artigo assinado “Euclides da Cunha”.
“Colocado no seio da sociedade atual – à mercê das forças que a agitam, expansões egoísticas de milhares de interesses irradiando a todas as direções – o nosso espírito – não poderá fixar uma direção retilínea e agitando-se, morrendo-se, oscilará indeterminadamente, indeciso, da esperança à desilusão – a todo o instante feliz, triste a todo o instante”

- 1889
•Com a proclamação da República, Euclides foi readmitido na Escola Militar.
•Aos 23 anos – conhece Ana (17), filha do major Solon Ribeiro. “Entrei aqui com a imagem da República e parto com a tua imagem.”

14 de junho de 1890
•1ª carta – ao pai – comunicando casamento com Ana.
•10 de setembro de 1890
•Casamento com Ana Emília (Saninha).

•1891
•Concluiu o Curso da Escola Superior de Guerra, "de onde saiu com o título de Bacharel em Matemática, Ciências Físicas e Naturais.
•1892
•Em janeiro, foi promovido a primeiro-tenente.

- 1895
•Em fevereiro recebe a visita do pai, indo com ele para Descalvado. Em 28 de junho, é agregado ao Corpo do Estado-Maior de 1ª classe, depois do parecer de uma junta médica, devido ao fato de ser tuberculoso.
• 1896
•Desencantado com a República e com seus líderes, abandona a carreira militar em 13 de julho.

- Em 18 de setembro,  efetiva-se na Superintendência de Obras Públicas do Estado de São Paulo, como engenheiro-ajudante de 1ª classe. Vai para São Carlos do Pinhal.
•Sai a autorização para a construção da ponte metálica em São José do Rio Pardo.
É reformado como primeiro-tenente.


- O engenheiro Artur Pio Deschamps de Montmorency é vencedor da concorrência para essa construção. Euclides da Cunha, fiscal de obras desse distrito, vai a São José duas vezes: de 25 a 28 de agosto e em 25 de setembro..

•Quem não guardará na memória a passagem brilhante de Euclydes da Cunha por esta cidade?
•Ali naquele casebre tosco, triste e solitário, abraçado e orvalhado por opulenta paineira, à beira do Rio Pardo, parece ainda ouvir-se o rebuliço áspero e nervoso da pena de ouro de Euclydes da Cunha a traçar mapas, croquis, cálculos, desenhos e complicados projetos tecnicamente estudados para desmontar e reconstruir a grande Ponte Metálica desabada.*


... localizada em uma baixada sombria, batida por fortes ventos e constantemente vergastada por um frio úmido e cortante
•No obscuro interior do casebre, que mal comportava uma pessoa, via-se uma pequena mesa mal equilibrada sobre um soalho de tábuas largas, grossas (...) mal pregadas, com singelo tamborete de palhinhas, uns cadernos de registro, livro de ponto,


•um tinteiro, papéis, canetas, lápis e réguas. Em uma improvisada prateleira baixa, algumas fotografias da ponte tombada, rolos de papel para plantas e alguns instrumentos da sua profissão. Sobre o chão, a um canto, uma pilha de jornais, O Estado de São Paulo, amarelados pelo tempo, rodeados de pontas de cigarro e de caixas de fósforos vazias.*


Alguns daqueles jornais, para ele de suma importância, lhe foram dados por quem escreve estas linhas, os quais continham a coleção completa das suas arrebatadoras “Cartas Sertanejas” – de sua arrojada reportagem, traçadas pela vibrante pena de jornalista, pela ocasião da famosa Guerra de Canudos, naquele novo teatro de variados costumes selvagens, na sede de saber
e conhecer tudo [...]


•O engenheiro dos 29 dias
•...tombara ruidosamente, sem uma razão justificada, sem que houvesse uma grande enchente do rio que provocasse tal desastre, sem nenhum motivo aceitável, a não ser o atestado de imperícia e do criminoso descuido do seu imbecil construtor que ficara cognominado pelo povo de: “O Engenheiro dos 29 Dias”



•De sua residência, bem afastada do rio, o Engenheiro dos 29 dias ouvira, alta noite, o ruído formidável da sua ponte, atribuindo a atos de malvadez de mãos inimigas para disfarçar os apuros, apertos e vexames por que estava passando diante das numerosas pessoas que, em frente de sua casa, pediam informações.*


•Ora servindo-se de canoa, ora a pé, sem chapéu, pelos barrancos, todo molhado, com os sapatos enlameados,mantendo sempre a convicção de que encontraria uma rocha sobre a qual pudesse firmar os alicerces da ponte.*


•Colocá-la sobre melhor ponto de vista, mais alto, mais favorável ao trânsito, mais em alinhamento das ruas da cidade, formando uma bela avenida e descortinando uma linda vista panorâmica.*
•COPO DE CERVEJA A 4 M DE PROFUNDIDADE
Dr. Antônio Dias Ferraz Júnior, Dr. Jovino de Sylos, Francisco Escobar, José Honório de Sylos, Adalgiso Pereira, João Moreira, João Novo, Ernesto Mariz e João Modesto de Castro.*


•Heroicamente trabalhava (...) sem temer o fracasso, sem medo de não agradar aos interessados que tanto ridicularizaram o seu inditoso colega. Esclarece ainda: De gênio impetuoso e ardente, não se sentia fatigado, temperamento típico de uma pessoa guiada pela vontade ferrenha, pelo objetivo.*
•... um movimento espantoso e um barulho infernal, com infinita variedade de estorvos e contrariedades.*


•carros de bois, cantarolando, com enormes peças de madeira para os andaimes, carroções com caibros, carroças com tábuas, outras com  pedras enormes, com tijolos, areia, pedregulho.
•O vento, muitas vezes, tornava o ambiente insuportável, uma nuvem de pó, de mistura com areia, cal, cimento, carvão das forjas, fumaças das oficinas e das locomotivas (...) escurecia por completo aquela paragem, de modo a não poder ser vista uma pessoa ou um objeto, mesmo de perto!*


•Outras vezes, uma violenta rajada de vento invadia de súbito o escuro escritório do ranchinho, tombando o tinteiro, quebrando objetos, arrebatando para os ares papéis de importância e as tiras manuscritas para o seu grande livro, as quais rolavam pelo chão, enlameadas pela chuva, outras desapareciam na correnteza do rio, ali a dois passos de distância.*
•Com incrível presteza e facilidade ele substituía os autógrafos sujos de barro, bem como os que haviam sumido no rebuliço das ondas, com a mesma erudição.*


•... nauseabundo cheiro de um matadouro municipal - uma enorme quantidade de caveiras, pedaços de couro e ossama do gado abatido diariamente ... atraía enormes hordas de urubus famintos, alguns que chegavam à porta do ranchinho e Euclides os corria a pedradas, sentindo-se furioso com aquelas importunas visitas perturbadoras do seu trabalho, (...) rescendendo um budum insuportável.*


•Se essa não fosse a índole de Euclides, o engenheiro retardaria o mais possível a conclusão da ponte para garantir o seu ganha-pão por longo tempo.
• sobrecarregar a ponte  de enorme peso em movimento , para testar a resistência da construção: Sobre o lastro da ponte foram empilhadas pesadas barras de ferro, pedras, sacos de areia, pilhas de sacas de café, e pelo centro, passavam e repassavam muitas carroças, carros de bois, carroções de lado a lado, conduzindo cargas com peso superlotado, alguns veículos em disparada.*

PARTICULARIDADES DE EUCLIDES

•uma probidade inexcedível, possuindo um coração de ouro, alma nobre e generosa, caráter íntegro, qualidades morais admiráveis.* Diz ainda que o engenheiro, na sua concepção, era um bom chefe de família, extremoso*, às vezes, o escritor apresentava crises agudas de neurastenia
•de curiosidade irrequieta, inquietantes mudanças de humor*, mas que, no entanto, sempre respeitava o direito de todos. Era independente, franco, nada pedia para si* e se mostrava um constante estudioso.
•Fumava exageradamente toda espécie de cigarro.
•O homem que não fuma perde vinte por cento dos encantos da vida, se é que a vida em encantos.

•Que coisa mesquinha não seria a vida se não tivéssemos um cigarrinho cheiroso, um livro bom, uma boa palestra.
•Em caso algum obedeceria a médico que me proibisse de fumar, de saborear um cigarrinho.
• goianos, mineiros, Poço Fundo, Caracol, Campestre, Campestrinho, Virgínia, Veado
•Tinha horror à política, ao mandonismo*.
•Uma presença física franzina, mas muito simpática. Moreno, de estatura baixa, de olhos vivos e olhar firme, brilhante, observador, maneiras agradáveis e simpáticas, possuidor de uma conversação correta, insinuante, fluente, de voz sonora, agradável.
•Orador simpático, com violenta explosão de temperamento literário
•Fará um juízo errôneo quem supuser que Euclides trabalhava o dia inteiro no seu casebre, cheio de cuidados pelos seus “Sertões”. Poucas vezes ali entrava e pouco se demorava.
•O engenheiro só parava para almoçar. Nem mesmo para o café do meio-dia interrompia seu serviço. Às 18h00, dispensava todos os trabalhadores, sendo o último a sair, mas só depois de haver inspecionado tudo, além de recomendar os devidos cuidados ao guarda-noite.


•Euclides encantava a todos, tanto pela simplicidade admirável*, quanto pela sua graça cativante.
• Sempre tirava do bolso, ou de uma pasta, alguns autógrafos escritos com rapidez no seu escritório ou a sua obscura tenda de trabalho, no ranchinho da ponte, e iniciava amena leitura de autógrafos para os seus amigos, que a ouviam, admirados, (...) e depois das referências entusiásticas ou comoventes eram todas entregues ao seu copista, José Augusto Pereira


•A casa do escritor era freqüentada, na maioria, por literatos, escritores e poetas de diversos lugares que iam até lá para usufruir do contato com a sua pujante mentalidade literária.* Tratavam de assuntos importantes, em animadíssimas palestras sobre poetas e escritores. De política, nada absolutamente


•Há aqui somente três pessoas com quem me expando à vontade, nas minhas palestras: Francisco Escobar, José Honório de Sylos e Adalgiso Pereira.*
•Sublime no seu desprendimento, sem luxo, simplicidade pacífica de viver.
• Euclides retirou-se, com sua família, definitivamente para São Paulo, sem poder dizer o seu sincero adeus, saudoso e grato, aos seus numerosos amigos, um coração bondoso como o seu.


•Seu copista quando dizia admirado: “Que homem extraordinário!Parece que já tem o livro escrito no cérebro, provocando uma explosão, um verdadeiro vulcão em erupção!”
•A quem se der ao trabalho de ler as enfadonhas mas – VERDADEIRAS – notas registradas rapidamente - gentileza de deixar de parte todas as irregularidades e defeitos –
•à disposição de quem desejasse escrever sobre o saudoso hóspede do – “Ranchinho”. (Cidade d´Os Sertões, 30/08/1935)*.


•A primeira festa familiar que Euclides assistiu nesta cidade foi em minha residência, no dia 22 de abril de 1899*, data do casamento de Aníbal de Castro, irmão do Major.
•Euclides fora com a sua esposa, sendo apresentado pelo dr. Antônio Dias Ferraz Júnior, Juiz de Direito local, e pelo Sr. Francisco Escobar. Ficaram conhecidos e relacionados.


•Não pequei, portanto, como assíduo observador que fui do emérito construtor, rabiscando com inteira isenção de ânimo, uma apreciação minha, certa ou errada, mas sem sair do campo das minhas observações, quase todas vistas com meus olhos, outras por informações dignas de toda a confiança. Não exorbitei, não exagerei. O que realmente importa é a oportunidade da informação. Visei apenas prestar conhecimento


•de um Engenheiro dos mais distintos, conhecedor profundo dos múltiplos problemas da arte, buscando apontar aos rio-pardenses um belo exemplo de caráter, de beleza moral, de sabedoria, de patriotismo e de bondade, nele reunidos. Claro está que não o fiz por vaidade literária, porque não sou literato, como já ficou dito. Fica assim justificada a razão porque registrei neste caderno as minhas desfalcadas notas, não para publicá-las.*