Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


12-06-2018

Guerra da Lagosta - AS LAGOSTAS DA DISCÓRDIA


30/05/2016

Um inocente crustáceo foi a causa de uma das maiores crises diplomáticas da história entre Brasil e França, que quase chegou às vias militares mas também teve contornos cômicos. 

Sem título1

O imbróglio, que ficou conhecido como Guerra da Lagosta, teve início no começo da década de 1960, quando barcos franceses passaram a pescar no litoral de Pernambuco. Depois de esgotar a captura da lagosta em seu próprio litoral e nos países da costa ocidental africana, a França se interessou pelo Nordeste brasileiro, onde a produção crescia a olhos vistos.

A exportação anual de lagosta pulou de 40 toneladas, em 1955, para 1.741 toneladas em 1961. O Brasil lucrava quase 3 milhões de dólares por ano com esse comércio, que se concentrava nos portos de Fortaleza e Recife.

Os primeiros barcos franceses chegaram em março de 1961, depois de obterem autorização para realizar “pesquisas” em nosso litoral. Ao constatar que as embarcações estavam pescando lagostas em grande escala, a Marinha cancelou a licença. Em novembro a França voltou à carga, desta vez pedindo para atuar fora das águas territoriais brasileiras, na região da plataforma continental – faixa submersa até 200 metros de profundidade que pertence ao país, mas cujas águas são livres para exploração internacional. Autorização concedida, começaram os problemas.Sem título3

Em janeiro de 1962, um pesqueiro francês chamado Cassiopée foi flagrado capturando lagostas e apresado pela corveta brasileira Ipiranga. O incidente abriu uma curiosa discussão diplomática a respeito da natureza do animal em questão. A Convenção de Genebra, assinada em 1958, assegurava que os recursos minerais, biológicos, animais ou vegetais da plataforma continental pertencem ao país costeiro. Com base nesse tratado, o Brasil alegava que a lagosta era um recurso pertencente à plataforma, devido à sua natureza sedentária: para se deslocar caminhava, ou no máximo executava saltos. Em resumo, não nadava.

Em resposta, o governo francês saiu-se com o argumento oposto: a lagosta pode ser considerada um peixe. Ao se mover pelas águas de um lado para o outro, ela certamente não estava andando, e portanto não era um recurso da plataforma. O objetivo era deslocar o assunto para o campo da pesca em alto-mar, permitida pela Convenção.

Para derrubar a lógica francesa, o comandante Paulo de Castro Moreira da Silva (1919-1983), renomado oceanógrafo, defendeu o Brasil com uma pérola de ironia: “Ora, estamos diante de uma argumentação interessante: por analogia, se a lagosta é um peixe porque se desloca dando saltos, então o canguru é uma ave”.

Um prato cheio para a pilhéria, a Guerra da Lagosta virou até marchinha de Carnaval. Os versos consagrados de “Você pensa que cachaça é água?”, sucesso em 1953, foram adaptados nos salões para “Você pensa que lagosta é peixe?”. Mas a repercussão do caso era levada a sério pelos jornais. Sem título2Afinal, nenhum dos países dava o braço a torcer: os franceses continuavam pescando lagostas, e a Marinha brasileira apresava os barcos que conseguia pegar em flagrante. A carga era apreendida e os capitães tinham que assinar um termo se comprometendo a não mais voltar à costa brasileira. Mas muitos voltavam.

 

 

Fontes:

A GUERRA DA LAGOSTA  Autor: Braga Claudio da Costa  ano:2004 Edição do autor, 194 páginas, Encadernação: brochura

Este livro trata de um acontecimento de nossa história conhecido como 'A Guerra da Lagosta'. Apresenta uma coletânea de fatos pouco conhecidos, a maioria sigilosos, dessa crise vivida com a França devido à captura ilegal da lagosta, por pesqueiros daquele país, em nosso litoral nordestino. O livro apresenta documentação, inclusive aquelas tratadas nos bastidores da crise.

  • Formato: 

    LIVRO  Inline image

  • _______________________________________________________

  • Referências

    1. Cláudio da Costa Braga (23 de março de 2009). «As lagostas da discórdia».                      Revista de História. Consultado em 15 de abril de 2012.
    2. «O dia em que um presidente brasileiro quis anexar um vizinho»..                                          Defense Forces/Aeronaval Comunicação. 3 de setembro de 2016. 
    3. pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_da_Lagosta
  • _________________________________________________________

Divulgação do Sindicato dos Armadores de Pesca do Estado do Rio de Janeiro

 AS LAGOSTAS DA DISCÓRDIA – SAPERJ

 

   
 

AS LAGOSTAS DA DISCÓRDIA – SAPERJ