Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


22-02-2020

EM BUSCA DO ELO PERDIDO por Jacinto Palma Dias,historiador


Os romanos levaram 2 séculos para dominarem a Hispânia. Traziam o conceito de propriedade privada e o código civil que a legitimava. Ora a propriedade privada constituía um absurdo para povos ambulantes como o eram os hispânicos, do mesmo modo que os jesuítas quando tentaram propor o “Além” cristão aos índios do Brasil, tão ambulantes e diários como o eram os hispânicos. Depararam-se, assim, com populações que consideravam a propriedade privada um tão absurdo como o conceito de “Além”.

Embora vencedores e impositores os romanos sempre compreenderam que o sul de Portugal era mais “macio” que os que eram mais intransigentes, os povos do norte.

E os do sul eram mais macios por mais “civilizados” pelo contacto milenário com as várias culturas dominantes no Mediterrâneo, gregos, fenícios e cartagineses. Também o sul era mais próspero. Podem cair impérios, serem varridos por tsunamis, pilhados e destruídos, mas numa edificação há um elemento que resiste sempre à força da gravidade: os pavimentos. E aí os arqueólogos podem medir a prosperidade de um sítio, ou de uma região, pelo índice cultural que se projecta na qualidade estética de um pavimento, ou seja, neste caso, os mosaicos romanos. E para aí chamamos Jorge Alarcão quando diz ser o litoral algarvio a zona de Portugal romano em que mais predominavam “abastados proprietários, suficientemente ricos e cultos para pagarem a mosaístas, pintores e escultores que decoravam as casas (”O Domínio Romano em Portugal”, Lx.73, pg.192). Tanto mais que Faro (Ossonoba) parece ter tido a primazia como principal porto fornecedor e exportador da Lusitânia disputando esse papel a Lisboa e a Salatia. Simultaneamente as cidades romanas do Algarve distinguem-se por todas elas cunharem moeda com nome indígena.

Isto quer dizer que uma prática de coabitação estava em curso numa região de prosperidade indesmentível. Quando o império cai, em 476, essa prática tem a continuidade que conflui no aparecimento do Romanzo uma língua que António José Saraiva define como “latim evoluído e não qualquer mistura de latim e arábe” (“A Cultura em Portugal” Livro I, 1982, pg.55). O Romanzo será ainda a língua veicular dos moçarabes e um inequívoco português arcaico.

Jacinto Palma Dias

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