Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


02-06-2020

Os jovens e a pandemia - Helena Pato


Mas a que propósito esperar outros comportamentos dos jovens nesta pandemia? - A juventude é mesmo assim...
A juventude sempre foi, é, e será, uma idade de que não podemos esperar o amplo sentido de responsabilidade que, inocentemente, desejamos que tivesse. Nesta como noutras situações. Mas em matéria de saúde individual e pública, pouco adianta ensinarmos, transmitirmos valores, pregarmos: os jovens têm outros critérios, outras vontades, outras prioridades, outra vivência do presente, outra noção do que é a VIDA. O futuro é treta de cotas. «Futuro», aos 20 anos, é uma palavra mais do que abstracta. «Risco de vida» é um conceito que apenas entra no nosso dicionário já em idade adulta avançada, ou quando passamos perto da morte ou por alguma adversidade - nossa ou de amigos. A SIDA meteu-lhes o maior dos medos e nem assim se preveniram ou se previnem, todas e todos, adequadamente. Passam das drogas leves à heroína, sempre a acreditarem que não caem na dependência e, depois, que são capazes de vencê-la. Super-heróis. Metem-se a 200 à hora, numa moto super veloz ou num carro, depois de beberem litros de cerveja, de vinho ou bué de shots, sem lhes passar pela cabeça que se vão espatifar, minutos depois. Na queimas das fitas entram em coma alcoólico sem nunca lhes ocorrer que a licenciatura e as farras terminam por ali. Penduram-se num penhasco, a desafiarem os riscos, persuadidos de que a eles nada acontece. Lançam-se em qualquer saudável aventura na Natureza, sem se precaverem o necessário, porque nem pensam nos perigos...

Para os jovens, a VIDA não é um bem supremo. A VIDA é para ser vivida INTENSAMENTE, a cada minuto, porque é um dom que é preciso sugar até ao limite, até ao ponto em que os adultos venham (totalitariamente) impedir a sua fruição. E mesmo assim, há que ultrapassar proibições, desafia-las, torpedeá-las - correr novos riscos.
Há momentos, horas, segundos, em que o sofrimento, que os jovens podem causar a terceiros - e até aos mais queridos familiares - , desaparece com a mesma ligeireza com que afastam a ideia da sua própria destruição. Se terceiros, sem moralismos, usam alguma pedagogia, assente em relação empática, já consolidada, pode haver um saldo surpreendentemente positivo - às vezes é o milagre, a surgir espontâneo, parecendo fácil.
«A morte só acontece aos velhos» não é uma ideia do século XXI: acompanha-nos, quase sempre, desde a juventude e até ao fim. E, mesmo assim, acontece arranjamos outro subterfúgio para acreditar que não morremos nem na velhice. Porque, tal como os jovens, recusamos pensar nela….


[Diz que convém não generalizar? Ok!
Diz que a maioria dos jovens não é assim? OK!
Diz que há excepções? Ok!
Eu não faço sociologia, eu falo de mim, da minha juventude e dos milhares de jovens que fui conhecendo]