Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


14-05-2021

Mauritania a sentença esperada Raul M. Braga Pires


Raúl M. Braga Pires

POLITÓLOGO, ARABISTA

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Politólogo, Arabista, atualmente Colaborador-Residente do Serviço Português da Rádio Voz da América onde assina duas rúbricas de análise, a Coluna Radar Magrebe Lusófono (texto) e o Programa 2 R’s – África Ocidental. Entre Janeiro de 2011 e Dezembro de 2014 viveu em Marrocos, onde lecionou na Universidade de Rabat, durante todo o período da Primavera Árabe, tendo sido um observador privilegiado e atento das mudanças provocadas por este Movimento Social no Magrebe, Sahel e Médio Oriente.  É durante este período (já com o Blogue Maghreb/Machrek sindicado no site do Semanário Expresso) que também é contratado pelo Grupo Impresa como Comentador Especialista da SIC Notícias para a Região MENA (Middle East & North Africa).  Licenciado em Relações Internacionais pela Universidade Lusíada de Lisboa, Mestre em Estudos Asiáticos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, é actualmente Doutorando em Relações Internacionais no ISCSP.  É membro da Comissão de Relações Internacionais da Sociedade de Geografia de Lisboa e também Investigador-Associado do CINAMIL (Academia Militar) e do Observatório Político. Habitualmente convidado por diversos OCS nacionais e internacionais, sempre que se justifica qualquer análise relacionada com acontecimentos no Magrebe, Sahel, Médio Oriente e países lusófonos com forte presença muçulmana.

Mauritania a sentença esperada

 

Raúl M. Braga Pires

Raul M. Braga Pires

14 Maio 2021 — 00:16ook

Há mais de um ano a moer no tribunal, a primeira sentença saiu finalmente e coloca o ex-presidente (PR) mauritaniano em prisão domiciliária para já, por um período de dois meses e renováveis por quatro vezes, enquanto o processo decorre com tudo e todos os colaterais a Mohammed Ould Abdelaziz.

Tendo optado sempre pelo silêncio, raramente falou em tribunal, não se fosse comprometer ainda mais perante as evidências de fraude e favorecimento dos seus mais próximos, onde o lugar de destaque é ocupado pelo seu genro e seus 56 camiões com zero quilómetros parados numa garagem que não é estranha a nenhum dos dois.

Este processo arrasta-se há demasiado tempo e, enquanto não vir um fim definitivo à vista, continuará a interferir na presidência Ghazouani, que precisa definitivamente de sair da sombra do seu mentor, o anterior PR, e dar credibilidade a um país crucial no Sahel na luta contra todos os tráficos que alimentam os jihadismos e que também continua sob uma suspeita constante de ainda praticar a "escravatura a céu aberto" em pleno século XXI. Esta credibilização nacional é também crucial para o debate que se adensará neste ano em torno da "questão sarauí", já que para breve será nomeado um novo representante especial das Nações Unidas para o Sara, o qual poderá optar por envolver países com geografias próximas ao conflito, sendo a Mauritânia mais do que um actor secundário, já que o actual PR Ghazouani poderá ele também, uma vez mais como forma de afirmação pessoal, alterar o azimute traçado pelo seu antecessor e colocar o país numa espécie de concurso internacional entre Marrocos e Argélia, de quem na realidade depende para a sua sobrevivência económica, manutenção de soberania e, optar por aquele que lhe der mais. Neste sentido, a discreta Mauritânia tem argumentos e o seu PR a necessidade de tornar o país num polo de importância regional até aqui ignorado por todos.

O ex-PR Mohamed Abdelaziz não viu, na realidade, nada de novo nesta sentença, já que teve a sua residência, o seu agora cárcere, sob vigilância a maior parte deste ano, mas o fim deste processo também o protege das habituais audiências que lhe colocavam questões incómodas, às quais o seu silêncio deixava no ar, perante a república islâmica, o anátema da culpa e da responsabilidade pessoal perante os factos. Na Mauritânia, como em Portugal com as comissões parlamentares e os "Sócrates desta vida", este também foi um momento constrangedor, no qual o zé-povinho se sentiu usado, abusado e por fim gozado face a um dos "donos daquilo tudo"!

A assinalar também ontem o fim do Ramadão, que marcará agora certamente um crescendo no conflito israelo-palestiniano, já se alvitrando uma terceira intifada, após um mês de escaramuças constantes na Esplanada das Mesquitas em Jerusalém, os palestinianos terão mais tempo para cair de novo na armadilha da agenda política israelita.

Votos de Eid Moubarak, Festa Abençoada, a todos/as!

Politólogo/arabista
www.maghreb-machrek.pt.
Escreve de acordo com a antiga ortografia

 

 

Maghreb Machrek

MM CMS Magreb Médio Oriente Árabe

Mauritânia

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A MAURITÂNIA, JUNTAMENTE COM O MARROCOS, ANEXOU O TERRITÓRIO VIZINHO DO SAARA OCIDENTAL EM 1976, CAPTURANDO O TERÇO SUL DO PAÍS A PEDIDO DA ANTIGA POTÊNCIA COLONIALESPANHA