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Antonio Borges Sampaio


26-05-2021

O Antissemitismo disfarçado Por FLAVIO GUIMARÃES BITTENCOURT DO VALLE


Por FLAVIO GUIMARÃES BITTENCOURT DO VALLE

  • Publicado 18, Maio, 2021,19:05

Recentemente, os principais veículos de mídia no mundo inteiro vêm noticiando o conflito no Oriente Médio envolvendo Israel e o grupo terrorista Hamas, que controla a faixa de Gaza. Nas últimas semanas, os bombardeios se intensificaram dos dois lados e o clima entre israelenses árabes e judeus se degradou, com ataques nas ruas, destruição de templos religiosos, lojas e residências. O conflito árabe-israelense é tão antigo e complexo que necessita de anos de compreensão e estudo para chegarmos a alguma conclusão. Por isso, nesse breve artigo, tentarei explicar de forma resumida os possíveis fatores que levaram ao agravamento dessa guerra histórica e contextualizar os ataques diários que os dois territórios têm sofrido.

Em minha opinião, três foram os pontos de tensão que motivaram os acontecimentos recentes. Pela ordem de importância, são eles: (a) o despejo de 4 famílias árabes do bairro de Sheikh Jarrah em Jerusalém Oriental. Neste bairro tradicionalmente palestino, um grupo de judeus levou até os tribunais israelenses a reivindicação da propriedade de terras onde as famílias árabes moravam; (b) o crescente número de violência urbana de árabes contra judeus, para a publicação em uma rede social. Uma brincadeira preocupante ganhou força nos últimos meses, onde jovens árabes gravavam a si mesmos agredindo ou linchando judeus em Jerusalém, para postarem no Tik Tok como parte de um desafio. Essa violência possui relação com o terceiro ponto de tensão: (c) o mês do Ramadã, um período sagrado para os muçulmanos que, nesse ano, coincidiu com uma data sagrada para os judeus, o Iom Yerushalayim (Dia de Jerusalém).

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Em relação aos ataques aéreos, o Hamas deu ao governo israelense um prazo para reverter o despejo das 4 famílias, o que não foi cumprido. Então, o grupo terrorista, juntamente com a Jihad islâmica, iniciou os ataques aos civis israelenses, dentre eles judeus, católicos, e até mesmo muçulmanos que vivem democraticamente em Israel. Em menos de 24h, os terroristas dispararam mais de 2000 foguetes contra o estado judeu, matando 7 civis, ferindo mais de 523 e atingindo ônibus, casas, escolas e hospitais. O estrago não foi maior graças à tecnologia do Kipat Barzel (Domo de Ferro), que mapeia e neutraliza boa parte dos mísseis lançados de Gaza e adjacências. Em resposta, a defesa de Israel atingiu 650 alvos terroristas em Gaza, incluindo locais de lançamento de foguetes e túneis de ataque. Infelizmente, uma tática comum dos grupos terroristas, que é o principal motivo de mortes de inocentes, se consiste em formar escudos humanos, instalando suas bases junto a áreas civis. Misturar crianças, mulheres e demais civis em zonas militares evita o bombardeamento dos núcleos armamentistas por parte do exército israelense e causa um impacto humanitário forte quando alguma base é atingida. Além disso, parte dos foguetes do Hamas acabam explodindo dentro da própria Faixa de Gaza, e por não terem trajeto minuciosamente definido quando lançados, podem acertar, inclusive, cidades e bairros majoritariamente árabes em território israelense. Enquanto um míssil antiaéreo israelense custa algo em torno de 80 mil dólares, um míssil palestino custa cerca de 1 mil dólares.

A IDF (Força de Defesa Israelense) se preocupa unicamente em atacar os terroristas, mesmo que nem sempre esse objetivo possa ser cumprido. Israel não odeia os árabes. Pelo contrário. No Knesset (Parlamento de Israel), existe uma bancada árabe e representantes muçulmanos eleitos democraticamente. O país, que é a única democracia do Oriente Médio, oferece ajuda humanitária para seus vizinhos, como cuidados medicinais, energia elétrica, água e comida. Na maioria dos conflitos que envolvem civis, o Estado de Israel oferece estrutura hospitalar completa e de graça aos feridos do outro lado de sua fronteira que, muitas vezes, não querem voltar para suas terras natais, onde continuariam sendo governados por ditadores terroristas. Todo esse esforço exercido por Israel foi afirmado por Ben Gurion, que dizia que “A ajuda é nossa missão histórica e é necessária para Israel, não menos do que a ajuda aos outros países que ajudamos”.

 

Macaque in the treesNa foto, soldados israelenses carregam civil árabe para um hospital de referência em Israel (Foto: Arquivo pessoal)

 

Por fim, é inadmissível toda e qualquer vida ser cruelmente tirada e afetada, dia após dia, por este conflito, tanto de israelenses judeus e não-judeus, quanto de civis palestinos que perderam suas vidas para o terrorismo. Além disso, por entender a complexidade do conflito no Oriente Médio, é importante que toda e qualquer manifestação de cunho preconceituoso e antissemita seja veementemente condenada. Ataques indiscriminados de extremistas palestinos contra a população civil de Israel são inaceitáveis, assim como de extremistas judeus contra civis palestinos. Esses ataques já foram, inclusive, condenados pelo Primeiro-Ministro israelense, Benjamin Netanyahu, pois ferem e matam inocentes, incitam o ódio, causam medo e danos irreparáveis e representam crimes contra os direitos humanos, além de ajudar a perpetuar o caráter violento do conflito ao beirar uma guerra civil. As ações de um governo, como o despejo das famílias árabes de Sheikh Jarrah, podem e devem ser criticadas, assim como a brutalidade e a desumanidade dos terroristas do Hamas e da Jihad. O que não podemos aceitar é o ódio ao povo judeu, árabe e palestino, bem como a associação das religiões judaica e muçulmana a um vilão e a uma vítima do conflito. As vítimas são, e sempre serão, as pessoas.

 

https://www.jb.com.br/pais/opiniao/artigos/2021/05/1030258-o-antissemitismo-disfarcado.html