Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


26-08-2020

Biografia- Morreu o pintor e artista plástico português Nikias Skapinakis


Morreu o pintor e artista plástico português Nikias Skapinakis

Pintor português morreu aos 89 anos, em Lisboa.

PÚBLICO 

26 de Agosto de 2020

 

“Era um dos grandes artistas portugueses, vivos, e um grande amigo acima de tudo”, disse ao PÚBLICO, ainda em choque com a notícia que recebera, o galerista Fernando Santos. Estavam a fazer um projecto para o Museu de Amarante. Lembra que quando recebeu as obras de Descontinuando: Pintura e Desenho - 2018-2019, a última exposição que Nikias Skapinakis fez na sua galeria do Porto, as obras o chocaram. “Ele sempre foi uma pessoa com uma vivacidade, um colorir na sua obra… e quando eu vi a exposição tremi. Era uma exposição com tons negros.. Uma das melhores exposições dos últimos anos. E para mim foi um sinal de despedida”, conta emocionado. 

 

   
 

Nikias Skapinakis, o pintor que vive dentro da tela

Anabela Mota Ribeiro

"Nikias, o observador de mãos frias", escreveu sobre ele José Gomes Ferreira. O "Provocador Tranquilo", chamaram...

Nikias Skapinakis, pintor e artista plástico português, de ascendência grega, morreu nesta quarta-feira, aos 89 anos, no Hospital dos Lusíadas, em Lisboa. A notícia foi confirmada ao PÚBLICO pelo galerista Fernando Santos, que trabalhava com o artista nos últimos anos.

 

 

Exposição | Nikias Skapinakis. Presente e Passado, 2012 - 1950, Museu Colecção Berardo

 

   

Exposição | Nikias Skapinakis. Presente e Passado, 2012 - 1950, Museu Co...

 

 

O artista, recorda, queria expô-la num espaço mais recatado da galeria. Fernando Santos não concordou, disse-lhe que a exposição merecia ser vista com a importância que tinha e que a considerava única. Tanto que foi editado o livro Nikias Skapinakis — Paisagens (2018-2020) sobre a exposição, numa edição da Sistema Solar, com “um texto magnífico” do crítico de arte Bernardo Pinto de Almeida.

“Íamos apresentar a exposição no dia 4 no Museu de Amarante, houve uma alteração à programação e foi adiada”, lamenta Fernando Santos, sublinhando que Nikias Skapinakis era um dos artistas mais organizados que conheceu, preocupado com a sua obra, com um profissionalismo, uma dedicação e uma relação com a galeria extremos. “Tive o privilégio de conhecer um grande artista. Era uma pessoa extraordinária. Uma força da natureza que adorava aquilo que fazia. Estou destroçado.”

O artista plástico, filho de pai grego e de mãe portuguesa, nasceu em Lisboa em 1931. Ingressou na Escola de Belas-Artes de Lisboa para estudar arquitectura, curso que abandonou para se dedicar à pintura, profissão que manteve até à data da sua morte. Nos anos 50, instalou-se no Atelier Vila Martel, que partilhou com Bartolomeu Cid dos Santos e Sá Nogueira. Eles partiram para o estrangeiro, ele ficou. Em 1958 pintou um retrato de Almada Negreiros, que para ele foi sobretudo uma referência intelectual, considerava que o espírito de Almada atravessava o tempo. Do seu grupo de amigos faziam parte José Gomes Ferreira (que lhe dedicou um poema onde dizia: “A morte é o outro lado das flores"), Carlos de Oliveira e Augusto Abelaira. Pintou-os a todos. Escreveu o o manifesto “Um pintor luta quando pinta”, em 1958, e foi preso em 1962. Esteve no Aljube mas considerava que a prisão não teve qualquer consequência no seu processo artístico.

Numa entrevista que deu a Anabela Mota Ribeiro, publicada no PÚBLICO há dez anos, dizia que tinha sido “um menino feliz”. E que se fosse à procura desse tempo perdido o que ressaltava eram os álbuns do Prado, do Louvre e de outros museus que o seu pai lhe mostrava e que ele procurava copiar. Nessa altura, reflectia assim sobre a sua obra: “Os retratos, as naturezas mortas, as paisagens, são géneros figurativos que pratiquei mais ou menos regularmente. A parafiguração, abstractizante, que apareceu nos últimos anos de 60, contrariou essa tendência figurativa. Contudo, nunca fui um pintor abstracto, na medida em que os meus quadros, mesmo os mais depurados, permaneceram sempre com uma ligação à realidade. A abstracção na minha pintura deve entender-se como uma disciplina estruturante, aprendida com os mestres da não-figuração modernista. Essa disciplina tornou-se evidente na parafiguração que referi e abrangeu diversos períodos, desde os objectos recortados simuladamente nos fundos brancos, às Paisagens dos Vale dos Reis e à série TAG, relativamente recente. Esta série, relacionada com os graffiti, tal como a série mitológica das Metamorfoses de Zeus, que ilustra as aventuras eróticas do Pai dos Deuses, associaram a cultura erudita com os aspectos emergentes e diversificados da chamada baixa cultura. Mas é possível que um sentido melancólico envolva todo o meu trabalho, mesmo aquele que refere, agressiva ou ironicamente, as imagens publicitárias ou os murais populares, que exprimem as pulsões do presente.”

As suas primeiras obras foram exibidas nas Exposições Gerais de Artes Plásticas, em 1948. Nos anos seguintes, realizou inúmeras exposições individuais e participou em apresentações colectivas, tanto em Portugal como no estrangeiro. Skapinakis é ainda autor de um dos painéis do café A Brasileira do Chiado (1971).

Morreu o pintor e artista plástico português Nikias Skapinakis

 

   
 

Morreu o pintor e artista plástico português Nikias Skapinakis

Isabel Coutinho

Pintor português morreu nesta quarta-feira aos 89 anos, em Lisboa.