Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


12-05-2021

Trova do Vento que Passa Manuel Alegre, escritor, poeta e poli?tico


Trova do Vento que Passa

Pergunto ao vento que passa

noti?cias do meu pai?s

e o vento cala a desgrac?a

o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam

tanto sonho a? flor das a?guas

e os rios na?o me sossegam

levam sonhos deixam ma?goas.

Levam sonhos deixam ma?goas

ai rios do meu pai?s

minha pa?tria a? flor das a?guas

para onde vais? Ningue?m diz.

Se o verde trevo desfolhas

pede noti?cias e diz

ao trevo de quatro folhas

que morro por meu pai?s.

Pergunto a? gente que passa

por que vai de olhos no cha?o.

Sile?ncio -- e? tudo o que tem

quem vive na servida?o.

Vi florir os verdes ramos

direitos e ao ce?u voltados.

E a quem gosta de ter amos

vi sempre os ombros curvados.

E o vento na?o me diz nada

ningue?m diz nada de novo.

Vi minha pa?tria pregada

nos brac?os em cruz do povo.

Vi minha pa?tria na margem

dos rios que va?o pro? mar

como quem ama a viagem

mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir

(minha pa?tria a? flor das a?guas)

vi minha pa?tria florir

(verdes folhas verdes ma?goas).

Ha? quem te queira ignorada

e fale pa?tria em teu nome.

Eu vi-te crucificada

nos brac?os negros da fome.

E o vento na?o me diz nada

so? o sile?ncio persiste.

Vi minha pa?tria parada

a? beira de um rio triste.

Ningue?m diz nada de novo

se noti?cias vou pedindo

nas ma?os vazias do povo

vi minha pa?tria florindo.

E a noite cresce por dentro

dos homens do meu pai?s.

Pec?o noti?cias ao vento

e o vento nada me diz.

Mas ha? sempre uma candeia

dentro da pro?pria desgrac?a

ha? sempre algue?m que semeia

canc?o?es no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste

em tempo de servida?o

ha? sempre algue?m que resiste

ha? sempre algue?m que diz na?o.

Poema da autoria de Manuel Alegre de Melo Duarte, escritor, poeta e poli?tico portugue?s, nascido em A?gueda, em 12 de maio de 1936

Parabe?ns pelo seu 85.º aniversa?rio!

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