Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


25-12-2021

JOSÉ BLANCO, Fundação Calouste Gulbenkian, entrevistado em1994:museu de Cochim


JOSÉ BLANCO

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antigo administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, entrevistado por Maria Augusta Silva em 1994
 :museu de Cochim            

http://www.casaldasletras.com/Textos/JOSE_BLANCO.pdf

 

A Fundação Calouste Gulbenkian possibilitou a preservação de património de raiz cultural portuguesa em todo o mundoUma ação a cargo do Serviço de Relações Internacionais — pelouro do administrador José Blanco. Depois de salvar o Arquivo Histórico da Diocese de Cochim, a Gulbenkian  concretizou o Museu de Cochim

Ao proceder-se às escavações, foram descobertas as ruínas do primeiro forte português no Oriente (1503). Refez-se o projeto e as ruínas passaram a integrar o museu. 

José Blanco em 1994 : 

"Tomámos conhecimento da situação aquando da visita do então presidente da República, Mário Soares, ao Paço Episcopal de Cochim, em 1992. Eu integrava o grupo visitante e o senhor bispo Joseph Kureethara mostrou-nos o seu «museu», no sótão do Paço. Milhares de documentos em língua portuguesa e noutros idiomas completamente degradados, apesar dos cuidados do senhor bispo. Um acervo sobremaneira importante para a história de Cochim, da Índia e de Portugal. Recordo-me de abrir uma gaveta e, ao pegar num documento, desfez-se-me nas mãos."

Que sentiu nesse instante? "Angústia, ao ver desfeita nas minhas mãos uma partícula da memória de um país ao qual nos ligam os caminhos da História."  

O Arquivo Histórico da Diocese de Cochim é um dos maiores acervos da Índia? 

"De extraordinária importância, mas os Arquivos de Goa são dos mais ricos do mundo. O Arquivo de Cochim é, contudo, essencial para o entendimento da história daquela região da Índia."

 A ação do bispo de Cochim, Joseph Kureethara, foi determinante na defesa desse património?

 Tinha perfeita consciência do valor daqueles milhares de documentos e defrontava-se com a dura realidade da falta de meios financeiros e técnicos para salvar o arquivo. 

Pediu a ajuda da Gulbenkian. E logo a Fundação agiu. Recorreram a historiadores? 

" Solicitámos a colaboração de uma equipa de historiadores, e, numa fase posterior, a de uma equipa de técnicos de bibliotecas e arquivos, inclusive, de peritos de restauro de documentos. Houve que proceder, antes de tudo, a uma desinfestação de todos os papéis. Estavam corroídos pelos efeitos do clima (calor e humidade) e pelos bibliófagos." 

Quanto investiu a Gulbenkian para salvaguardar esse acervo? 

"Cerca de 45 mil contos. E permita-me sublinhar que o Arquivo de Cochim está agora todo informatizado. Julgo ser, nesse aspeto, o mais avançado de toda a Índia. Os documentos foram resguardados em caixas especiais e todo o seu conteúdo se encontra computadorizado. Desceram do sótão para o rés-do-chão do Paço, o que implicou também obras de adaptação nas instalações, criando-se, inclusive, uma sala de leitura." 

Faleceu recentemente o bispo Joseph Kureethara. Teve ainda o gosto de ver o Arquivo de Cochim todo salvo?

" A obra ficou concluída em 1995. O bispo Kureethara viveu essa alegria, que testemunhei."

 Que lembrança guarda do bispo Joseph Kureethara? 

Um homem de incomum sensibilidade e inteligência e grande amigo de Portugal. Em homenagem à sua memória, a Gulbenkian criou uma bolsa de estudo com o nome do bispo Joseph Kureethara para distinguir o melhor aluno indiano das escolas da Diocese de Cochim, que poderá frequentar em Portugal um curso de língua portuguesa. 

A Gulbenkian está também a patrocinar o Museu de Cochim? O museu era outro dos sonhos do senhor bispo Kureethara, destinado à arte sacra; tinha já algumas peças no sótão. Um ser extraordinário. Persistente nos seus ideais. Daquelas pessoas que não deitava nada fora e andava sempre à procura de coisas para guardar. 

Objetivando o museu, pedimos à drª. Maria Helena Mendes Pinto (a maior autoridade mundial em arte indo-portuguesa) que avaliasse a possibilidade de se recuperarem as peças mais importantes das igrejas da Diocese de Cochim, peças em constante risco de degradação e de falta de segurança. 

Fez-se um inventário e uma seleção muito rigorosa de cerca de 200 peças para o museu

Estão a ser restauradas? Exato. E o Museu de Cochim deverá ser inaugurado no final do ano. O senhor bispo Kureethara desejava que a inauguração pudesse integrar-se nas comemorações da viagem de Vasco da Gama. Não foi possível. Porquê o atraso? 

Ao proceder-se às escavações descobriram-se as ruínas do primeiro forte português construído no Oriente (1503). Uma alegria pela descoberta que implicou a revisão total do projeto. 

Comunicou-se o achado às autoridades civis indianas e recebemos luz verde. O arquiteto de Cochim, Ramesh Tharakan, autor deste projeto, remodelou-o de forma espantosa. 

O documento é também acompanhado por Amita Baig, diretora-geral do Indian National Trust for the Arts and Cultural Heritage (INTACH)

Conciliou-se museu e ruínas? As ruínas ficam integradas, peças fixas do Museu de Cochim. 

A Gulbenkian está a investir cerca de 60 mil contos no projeto.

A arte sacra na Índia tem sido delapidada? Sistematicamente. Também acontece em Portugal... Não em tão grande escala, apesar de tudo. As igrejas indianas vendem peças para conseguir dinheiro que lhes permita construir igrejas novas, as quais, por regra, nem primam pelo bom gosto.

 Não há entidades que possam fazer estancar essa hemorragia? 

Em certa medida, não. O património da Igreja pertence exclusivamente à Igreja. Nem o bispo Ku-reethara, pessoa estimada, tinha mão nos priores que vendem peças aos turistas e muitas aparecem, também, nos antiquários. 

Muitos antiquários em Cochim? 

Uma rua cheia. Vimos num desses antiquários uma peça singular: a imagem de São Miguel Arcanjo (século XVIII) em bom estado de conservação e cuja conceção artística testemunha bem a fusão das culturas portuguesa e indiana. A Gulbenkian conseguiu comprar a peça para integrar o Museu de Cochim. 

A Gulbenkian admite promover viagens de estudo para maior divulgação desse património? 

Julgo fundamental, em particular para camadas mais jovens, de forma a criar-se memória. 

E projeta uma exposição de arte sacra de Cochim em Portugal? 

Seria ouro sobre azul. Mas é extremamente difícil. O Estado indiano não interfere nos assuntos da Igreja, mas as licenças de exportação são dadas pelo Governo central, em Deli. Até para licenças temporárias é complicado. 

Mesmo tratando-se de uma instituição como a Gulbenkian?

Recordo-me das dificuldades levantadas à saída de peças de escultura indiana da Universidade Jesuíta de Bombaim para uma exposição que realizámos há anos. Existem peças espantosas, tanto no Museu de Rachol (Goa), mandado construir por D. Sebastião, como no de Cochim, que bem gostaríamos de trazer até junto do público português.

Que outro património de raiz portuguesa foi já preservado? 

Em curso, temos o Museu de Cochim. Outros projetos foram, entretanto, concretizados, entre os quais: o restauro da Torre da Fortaleza de Arzila, em Marrocos, que contou com o prestígio do prof. Alfredo Viana de Lima, infelizmente já falecido. Também o restauro do forte de São João Baptista de Ajudá, em Benim. Ainda o restauro de uma pintura mural, no Brasil, descoberta por mero acaso em São Luís de Maranhão. Esse painel representava o Terreiro do Paço (princípios do século XIX) e estava escondido sob uma camada de cal. Um notável documento iconográfico. 

Identificou-se o autor? 

Um militar português, Guillobel, arquiteto e pintor. Essa descoberta e restauro tiveram uma consequência curiosa: o Terreiro do Paço encontra-se hoje, finalmente, pintado de tom ocre, a cor original que está no painel de São Luís do Maranhão

Outro projeto em que nos empenhámos: o restauro da Igreja de São Domingos e do Cemitério Português, em Ayutmaya, na Tailândia. E um dos primeiros projetos neste domínio foi a recuperação do Forte de Jesus, em Mombaça. 

Como parte a Gulbenkian para estes projetos? 

Quando solicitada e depois de analisar cada pedido. A Fundação não toma a iniciativa para evitar ser acusada de ingerência. 

© MARIA AUGUSTA SILVA

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FUNDAÇÃO  ORIENTE

 DELEGAÇÃO ÍNDIA

VI CONCURSO DE CONTOS GOESES TERMINA COM CERIMÓNIA DE ENTREGA DE PRÉMIOS EM PANJIM

A Delegação da Fundação Oriente na Índia organiza desde 2011 um Concurso de Contos Goeses que tem por objectivo promover a escrita criativa e a diversidade linguística deste estado da Índia. Tal como as edições anteriores a 6.º Concurso de Contos Goeses esteve aberto a todos escritores amadores e profissionais de Goa que desejem apresentar os seus trabalhos em Concani, Marathi, Português e Inglês. Sem categorias especificas para cada uma da língua, este concurso avalia todas as línguas em pé de igualdade e neste aspecto é único concurso literário na Índia. 

Em 2021 o concurso decorreu entre os meses de Abril e Dezembro, tendo iniciado os seus trabalhos com a selecção dos membros do Júri, que este ano foi presidido pelo editor do diário Goês O Heraldo, Alexandre Moniz Barbosa. Os restantes três membros foram escolhidos tendo em conta a sua especialidade linguística: Prema Rocha (Professora de Literatura Inglesa na Universidade Goa), Rajendra Dessai (editor do jornal O Heraldo – edição em Marathi e Anju Sakardande (professora de Concani na Universidade de Goa).

Depois de anunciado o concurso em Abril, iniciamos as suas actividades preliminares com uma oficina de escrita criativa online conduzida pela escritora Jéssica Faleiro.

Durante o período de candidaturas recebemos um total 62 trabalhos: 47 em Inglês, 7 em Concani, 5 em Marathi e 3 em Português. Com a sua conclusão deu-se início a fase de deliberação do Júri que, a 22 de Novembro 2021, apresentou uma lista contos seleccionados para a 6.ª Antologia de Contos Goeses a publicar em 2022, assim como os três contos vencedores.

O anúncio da lista dos 25 contos a concurso foi feito no dia 4 de Dezembro. Tendo sido seleccionados os seguintes autores:

  • The Time We Had | Akash Dayanand Bhosle
  • Beyond the Cusp of Innocence | Alisha Souza
  • Hog in the Bog | Andrea Rochelle Lopes
  • A Letter from Ms. Miranda | Andrew John de Sousa
  • Secret Life of a House | Bina Nayak
  • Masked Emotions | Brenda Coutinho
  • Lent, Lost and Found | Clara Antonetta Rodrigues
  • When The Lights Went Out | Cora Pereira Bhatia
  • Home Again | Elena Mayzie Bennizia Gomes
  • Pascoal Returns | Ermelinda Makkimane
  • Before The Walls Went Up | Fatima M. Noronha
  • Grandfather | Ferdin Sylvester
  • Infidelity | Jéssica Faleiro
  • Bon Voyage | Manishka Goes Proença
  • The Door | Mayabhushan Nagvenkar
  • Dancing Knee | Pragya Bhagat
  • Monica's Memory | Shamika Andrade
  • Fund-Raiser | Sheela Jaywant
  • Oidem | Sonia do Rosário Gomes
  • The Witness | Troy Ribeiro

A Cerimónia de entrega de prémio teve lugar a 10 de Dezembro pelas 6 da tarde na nossa Delegação, na presença dos escritores seleccionados. Após a habitual nota de boas vindas, teve a palavra o Presidente do Júri que sublinhou a crescente qualidade dos trabalhos apresentados a concurso este ano assim como a agradável surpresa que foi receber tantos e notáveis novos escritores.

Ainda antes da entrega de prémio, tivemos o prazer de ouvir Shreya Pinto de Andrade que em representação da escritora Maria Aurora Couto nossa parceira desde a primeira edição, leu uma simpática e encorajadora nota da autora Goesa aos novos escritores.

Seguiu-se a entrega de prémios aos seguintes autores:

O 1.º Prémio Alban Couto foi atribuído ao escritor Andrew de Souza pelo conto A Letter from Ms.Miranda (Inglês);

O 2.º Prémio Fundação Oriente foi atribuído ao escritor Akhil Sawant pelo conto Paani (Marathi);

3.º Prémio Fundação Oriente foi atribuído à escritora Ermelinda Makkimane conto Pascoal Returns (Inglês).

A fechar a cerimónia contamos com as sempre apreciadas palavras do editor Frederick Noronha que se debruçaram sobre o panorama editorial Goês e os seus desafios.

Fundação Oriente - VI Concurso de Contos Goeses termina com cerimónia de entrega de Prémios em Panjim

 

   
 

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