Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


31-01-2022

Exorcistas da guerra e donos do mundo - Veladimir Romano


Foto: Ministério da Defesa 
da Rússia/BBC News No destaque, tanque russo perto da fronteira com a Ucrânia 

Veladimir Romano*

Na fronteira com pouco mais de mil quilômetros dividindo a Rússia da Ucrânia, há 8 anos vive ocupada com militares de ambos lados. Depois dos acontecimentos, com a Rússia ocupando o território da Crimeia, províncias do Leste e apoio aos dez por cento de russos, parte integrante da sociedade ucraniana incluindo parlamentares representando essa minoria, naturalmente pelo histórico profundo existente entre as duas nações eslavas.

A finança fala mais alto numa junta oligarca que vem dominando há 12 anos a causa política da Ucrânia, onde a corrupção é campeonato em discussão pelos empresários locais, ao descobrirem na prática política uma boa saída aos seus negócios, esquecendo-se dos apontamentos do passado, coisa importante para quem vive mais com a emoção espiritual e menos com valores materiais.

As frias temperaturas que sempre marcam rigores do inverno mais oriental europeu, de grau em grau subiu temperaturas e sinais de algum calor tropical vem atacando imaginações da outra Europa ocidental, atiçada pelos desejos maquinados na doentia e profissional maneira que os Estados Unidos têm de levar acontecimentos que sendo do seu agrado, a melhor solução quando não consegue patrocinar golpes de Estado, criar conflitos como a melhor solução.

Teimosias e excêntricos ditames geopolíticos alimentam novas estratégias capazes de encurralar uma nação como a Rússia. É desaforo de quem aprecia provocar, confiando na sua bagagem bélica, mas se esquecendo dos poderes do outro.

Pequenas guerras não fabricam fortunas. E aquelas que acabaram deixando um tremendo rastro de miséria, destruição e desorganização social, já igualmente não alimentam caprichos que exorcistas da guerra tanto apreciam.

Com essa frustração, então, nada melhor que procurar a próxima vítima que faz muito tempo perdura na lista dos donos do mundo. Pensando bem, analisando o passado na escrita do histórico Leão Trotsky, na estampa do “Pravda” [Verdade], no dia 16 de março de 1917, ele aclamava em texto voltando aos países exercendo influência e pressão sobre os sovietes de Petrogrado:

«Se as democracias alemã e austríaca não ouvirem a nossa voz, a do Governo Provisório, sabendo fiquem, defenderemos a nossa pátria até à última gota de sangue». Áustria e Alemanha, potências de então, prometiam apoio aos czares e nem escutavam os revolucionários.

Contudo, dois dias antes, ainda refugiado na Suíça, Lenine escreveu no mesmo jornal aos quantos a quem ele chamava de “os homens do centro” [políticos, imperialistas e banqueiros], igualando no texto aviso aos marxistas internacionalistas…

«O que haverá de mais sagrado, senão aqueles pela paz, mas preparados a todas espécies de pressões sobre seus governos e o seu manifesto pela vontade da paz, porém, sem renunciar à essência revolucionária».

Sendo assim, nunca deveria surpreender o mundo a colocação de 167 mil soldados na longa fronteira quando um povo e uma nação se sentem ameaçados por quantos lados tenha a sua geografia e a gulodice dos demais preenchendo insatisfação dentro das suas pobres tentações em não poder vergar a Rússia quando a Ucrânia já vendeu sua verdade na praça política dos quantos algozes querendo comer mais do que aquilo que suas bocas podem sustentar.

Não surpreende pois que Joe Biden seja igualzinho a Donald Trump em busca de rendimentos para seguir alimentando a complexa e faminta máquina capitalista caindo todos os dias em desgraça, desgaste, rompendo por todos os lados, mas não querendo aceitar realidades em momentos de alto risco sanitário. E assim a família política da famosa Casa Branca prefere puxar do gatilho aumentando o seu orçamento militar numa vergonhosa e absurda quantia de 800 bilhões de dólares, mas o sistema de saúde, esse, pode esperar.

Numa Europa também retraindo nos valores, hospitais perdendo vantagem, centros de saúde ultrapassados, equipes médicas exaustas, cientistas trabalhando afincadamente nos laboratórios, migrantes paupérrimos chegando de boa quantidade quase todos os dias ao continente, mas quanta dificuldade leva a Comissão de Bruxelas em desbloquear verbas e dar solução em problemas deprimentes.

No entanto, a mesma Comissão, não encontrou obstáculos para, em menos de 24 horas, aprovar um bilhão e mais trezentos milhões de euros para ser entregue de mão beijada aos senhores gulosos de olhar arregalado da capital ucraniana.

Apenas uma franquia que não é mais do que um manifesto de fraqueza com vontade de arrancar do lado da outra fronteira a soberania de quem não brinca e nunca aceitará submissão a quem agride colocando nas suas várias fronteiras cargas de guerra apontadas para o território russo.

*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-cabo-verdiano

https://viladeutopia.com.br/exorcistas-da-guerra-e-donos-do-mundo/